As Minhas Séries

A minha série favorita sobre o vazio do final do século XX, de um ponto de vista obviamente semiótico. lembro-me – e isso assusta-me – do momento em que vi pela primeira vez esta série, na velha “4”, numa tarde de dia de semana onde estava despejada. Desde o início que percebi que ali havia platina com diamantes incrustados. Esperei por um ensaio do Umberto Eco especificamente sobre esta série em vão. E bem que merecia, porque anunciou muito do que estava por vir.

Já agora… sim… a primeira temporada não tinha no genérico a música que mais tarde fez parte do mito. Mas tinha a Erika Eleniak, que era claramente o sinal de um novo “paradigma” televisivo. Todas as outras pamelas vieram depois. E não me venham com tretas sobre misoginia e exploração do corpo da Mulher, porque aqui explorava-se também o do Homem (desde que mais baixos do que o David) sem especial drama. Ou o Kelly Slater, por exemplo, apareceu várias temporadas apenas pelos seus dotes “técnicos”?

Foram Momentos De Grande Jornalismo Televisivo

Entre tantos momentos inesquecíveis em 15-20 minutos de programa eu destacaria a senhora a quem a bruxa “limpou a casa” e o senhor que, apontando para a cabeça, disse algo como “eu tinha uns problemas”. Já quanto à Maria Gorrete, ficou a faltar uma consulta em ortografia funcional.

Uma Manta De Retalhos

Colegas têm tido a simpatia de me enviar os elementos da sua add. Continua a existir de tudo um pouco. De práticas aceitáveis a impensáveis, de procedimentos com bastante rigor a alguns que são um atropelo ao bom senso, a par de classificações completamente díspares para situações muito parecidas. Tudo polvilhado com uma panóplia de descritores que vai da minhoquice mais minhoquenta à completa ausência de um referencial para classificações que chegam a ir ao detalhe das centésimas em algumas dimensões e/ou domínios sem nada que suporte isso. Não sei se é a isto que chamam “autonomia”, mas a verdade é que isto se traduz numa fábrica imensa de desigualdades, paradoxos e contradições. O mesmo se passa um pouco com as reclamações, que devem ser concisas e identificarem os erros cometidos ou as dimensões, domínios ou parâmetros de que se pretende a revisão da classificação. Não chega o modelo chapa 5 que algumas “organizações” facultam ou a mera ingenuidade de quem acredita numa réstia de bondade disto tudo.

Começando a amostra a estender-se já a vários pontos do país e ultrapassando claramente a que é usada em muitos “estudos de caso” que agora aparecem em boa quantidade por aí, à boleia de uns mestrados feitos à pressa e de uns “desafios” para que se descreva o sucesso de algumas experiências, um destes dias ainda faço um “atlas” da add e logo vejo se o tento “vender” a alguma empresa de consultoria ou autarquia.

Demência?

A defesa de Ricardo Salgado alega que o senhor tem demência e precisa de uma avaliação. Até pode ser, mas eu sentir-me-ia mais solidário se eles tentassem demonstrar que ele não tinha feito aquilo de que é acusado. Ou então a demência de quem o deixou controlar isto quase tudo.

Só falta aparecer à porta do hotel de X estrelas onde estará lá pela Sardena em roupão, à Valentim.

5ª Feira

Na onda dos desagravos publicados acerca dos resultados obtidos pelas escolas TEIP, surgiu ontem prosa de duas “consultoras com uma larga experiência de trabalho com estas e outras escolas, noutros programas e noutros projetos”, de seu nome Ariana Cosme e recusamos qualquer abordagem linear e algoritmizada do trabalho que se realiza em tais contextos escolaresDaniela Ferreira. Por uma questão de rigor é bom que se refira que a primeira é efectivamente uma das cortesãs habituais dos costismo educacional, mas a segunda é ainda uma jovem com largo caminho a decorrer, mesmo se promissor pelo currículo “a decorrer”.

Quanto à substância, nada contra as escolas TEIP e quem lá trabalha, apenas algumas reservas quanto a quem vive à conta delas em regime de consultoria alongada. Porque o que a doutora Ariana Cosme parece não perceber é que as últimas pessoas confiáveis em relação à avaliação de um projecto são aquelas que deles dependem como “consultoras”. Vamos esperar que quem está na origem de certos “projectos” e se alimenta deles em regime de consultoria venha dizer que não estão a correr bem? Para isso era previso uma enorme coerência intelectual que não é traço comum ao costismo educacional. Porque é curioso que se recuse “qualquer abordagem linear e algoritmizada do trabalho que se realiza em tais contextos escolares” a quem está bem com isso se a coisa se aplicar aos professores e a outras métricas de eficácia ou sucesso.

Eu sei que a corrente a que as consultoras pertencem é a das “visões holísticas” (basta ler este “manual”, que reúne grande parte do pessoal do costume, para ver quantas vezes a expressão surge), mas também é da obsessão com a “monitorização” (no mesmo “manual” é ver o número de menções) em grelhas, grelhinhas e mais coisas daninhas que pouco diferem, na lógica, da “algoritmização” da Educação. O problema é que estas doutoras consultoras são contra abordagens lineares e algoritmizadas quando se trata de resultados, mas não o são em matérias de controle do trabalho dos docentes e do registo dos “progressos” (reias ou fictícios) na implementação dos tais projectos a que dão consultoria.

Eu compreendo que se defenda o que nos pagar a “vidinha” com as unhas e os dentes que seguram o pão para a boca (ui… que eu dou meças em matéria de conversa da treta e lugares comuns a qualquer uma). Até quase compreendo que se esteja na origem de projectos em equipas de apoio ao ME e depois se façam livros (comerciais) acerca desses temas quase em tempo real da publicação das leis e ainda se facturem consultorias. Como disse, trata-se de ganhar a “vidinha”. O que tenho dificuldade em compreender é que esperem que as levemos a sério quando se armam em analistas ou observadoras “independentes”.