É Assim Tão Mau Viver Num Regime Dominado por Talibãs?

Não me parece coisa complicada, desde que se aceite que nos digam como pensar da única forma certa, como falar de modo aceitável em público para não ser ter problemas, como nos devemos vestir, como comer, como ocupar os tempos livres e, principalmente, desde que aceitemos que o sistema educativo seja dominado pelas crenças de um grupo fortemente ideologizado que o use como ferramenta doutrinária dos mais jovens.

É mesmo uma pena que tudo isso me desagrade (mais aquela moral sexual muito à frente e exigente em termos de desempenho, com aquilo das 72 virgens) ou já tinha ido ver se há voos low cost para Cabul.

O Patusco Despacho 8127/2021

Entre outras passagens dignas de figurar em futura antologia legislativa educacional, destaco:

Artigo 3.º

Restrições à oferta alimentar a disponibilizar

1 – Os bufetes escolares não podem contemplar a venda dos seguintes produtos:

a) Pastelaria, designadamente bolos ou pastéis com massa folhada e/ou com creme e/ou cobertura, como palmiers, jesuítas, mil-folhas, bola de Berlim, donuts, folhados doces, croissants ou bolos tipo queque;

b) Salgados, designadamente rissóis, croquetes, empadas, chamuças, pastéis de massa tenra, pastéis de bacalhau ou folhados salgados;

c) Pão com recheio doce, pão-de-leite com recheio doce e croissant com recheio doce;

d) Charcutaria, designadamente sanduíches ou outros produtos que contenham chouriço, salsicha, chourição, mortadela, presunto ou bacon;

e) Sandes ou outros produtos que contenham ketchup, maionese ou mostarda;

(…) Artigo 4º (…)

2 – Os bufetes escolares podem ainda disponibilizar:

a) Queijos curados com teor de gordura não superior a 45 %, queijos frescos e requeijão;

b) Frutos oleaginosos ao natural, sem adição de sal ou açúcar;

c) Tisanas e infusões de ervas sem adição de açúcar;

d) Bebidas vegetais, em doses individuais, sem adição de açúcar;

e) Snacks à base de leguminosas que contenham: pelo menos 50 % de leguminosas e um teor de lípidos por 100 g inferior a 12 g e um teor de sal inferior a 1 g;

f) Snacks de fruta desidratada sem adição de açúcares;

g) Sumos de fruta e ou vegetais naturais, bebidas que contenham pelo menos 50 % de fruta e ou hortícolas e monodoses de fruta.

3 – O pão, a que se refere a alínea e) do n.º 1, deve ser prioritariamente recheado com:

a) Atum, de preferência conservado em água, ou outros peixes de conserva com baixo teor de sal;

b) Fiambre com baixo teor de gordura e sal, preferencialmente de aves, carnes brancas cozidas ou assadas;

c) Ovo cozido;

d) Pasta de produtos de origem vegetal à base de leguminosas ou frutos oleaginosos;

e) Queijo meio-gordo ou magro.

4 – O pão, a se refere o número anterior, deve ser preferencialmente acompanhado com produtos hortícolas, designadamente alface, tomate, cenoura ralada e couve roxa ripada.

Mas agora reparem no cuidado:

Artigo 12.º

Revisão dos contratos

Os agrupamentos de escolas e as escolas não agrupadas procedem, até ao dia 30 de setembro de 2021, se tal não implicar o pagamento de indemnizações ou de outras penalizações, à revisão dos contratos em vigor no sentido da sua conformação com o previsto no presente despacho.

Cuidado com saúde, mas com preocupações orçamentais. Nem um tostão a mais na promoção da comida saudável.

E Se Começassem Pelo Principal?

Muitas crianças comem mal, mas não necessariamente (ou apenas) por aderirem à fast food. Comem mal, porque há pouco dinheiro para usar ingredientes saudáveis de forma sistemática, a começar por casa e continuando em algumas refeições escolares, que podem ter os valores nutricionais do cânone, mas são um atentado aos sentidos, porque devem ser o mais baratas possível para o Estado. Porque entre nós, há muito boas intenções, mas raramente se quer pagar por isso.

Lá por fora, há quem tenha percebido um pouco mais do que os lunáticos cá do asilo e tenha identificado a “fome do fim de semana” e tenha procurado combater o problema mais perto da origem. Mas por cá, o costume é anunciarem-se medidas que impliquem poucos custos, que os mesmos sejam muito diluídos no tempo ou que, passado o impacto mediático, sejam adiadas até aos limites do razoável.

Parece que queremos uma escola de “virtudes”, para educarmos a Mulher e o Homem Novo do século XXI. Não me levem a mal, mas essa é uma atitude que me cheira a ranço, se me é permitida a analogia desagradável.

END WEEKEND HUNGER IN YOUR COMMUNITY

WEEKEND HUNGER BACKPACK PROGRAM

Hand2Hand provides food for kids facing weekend hunger in West Michigan.

Children in our community are going hungry

SILENCING WEEKEND HUNGER

(eu prometo, já agora, que começo a emagrecer quando um certo governante, mais jovem que eu, deixar de inchar; literalmente, nem estou a falar necessariamente em termos metafóricos…)

4ª Feira

As regras para a comida nos bares escolares podem fazer muito sentido em termos nutricionais e na cabeça de quem decide que a escola é o centro de difusão de lifestyles é um bem inquestionável. Já sei… a obesidade é uma praga que começa cedo. Mas quem conhece a miudagem, o que trazem por vezes de casa em matéria de lanches rápidos de casa ou vão comprar mesmo ali adiante, sabe que isto só poderia ter um pingo de sucesso se tivesse uma qualquer celebridade como o Jamie Oliver a fazer a promoção e as ementas. E estão a ver alguém a fazer por cá coisas como estas? E mesmo assim sofreu muitos obstáculos. E esteve longe de ser um sucesso fulminante. Por cá, este tipo de medidas apenas vai combater a crise dos snack bars e cafetarias das redondezas.

Apesar de tudo, é uma batalha que merece ser travada? Sim, mas poderiam começar pela flexibilização dos contratos para as refeições, que continuam a ser niveladas pelo preço mais baixo cobrado ao Estado. a verdade é que querem comida saudável, mas os outros que a paguem.

A Escola Pública foi tornada refém por um grupo de lunáticos, que qualquer dia vão sugerir o lançamento de búzios para determinar a que aulas e disciplinas a miudagem deve ir e desintoxicações com suco de couve para quem passar o valor ideal de massa corporal entre o corpo docente. E quem não aceitar, que se ponha a andar…

Há quem ande muito preocupado com os certificados digitais de vacinação, sem perceber que a pulsão totalitária está a começar a obrigar a comer pepino desde menino.