How To Stay Sane In An Age Of Division

Um livrinho de pequeno formato, com 90 páginas rápidas de ler que consumi em suporte físico, porque sou antiquado. Quem o quiser em formato digital, até paga menos. É da anglo-turca Elif Sharaf e explica-nos como as identidades monolíticas são uma ilusão e o mundo da leitura e escrita nos pode unir, em vez de nos isolar (perante ecrãs, por exemplo). Fala-nos de forma muito elegante sobre as ansiedades de um tempo em que cada vez se grita mais, mas menos eficaz é a nossa “voz”, e sobre os equívocos de quem não percebe que certos extremismos e fundamentalismos só ajudam a criar os fenómenos pelos quais, depois, a maioria gosta de se desresponsabilizar. Ajuda-nos a perceber que a sanidade é possível, se não nos desligarmos do passado, de tudo o que nos ajudou a criar enquanto seres que não se definem por um único traço (geográfico, político, étnico, religioso), mas de forma compósita. Um livrinho que só na aparência poderá parecer ligeiro ou defensor de uma tolerância inconsequente. Pelo contrário, ensina-nos que a inconsequência está em encerrar-nos em câmaras de eco, nas quais a verdade aceite é apenas a que nos faz sentir confortáveis.

2ª Feira

Quando tive a oportunidade de leccionar 7º ano, sempre gostei de poder dar Atenas e Esparta, mesmo quando o programa ou, agora, as “aprendizagens”, consideram que isso nem chega a ser essencial. Com a devida distância de milénios, a Atenas Clássica do século V a. C. antecipou a democracia à americana de finais do século XVIII, misógina, esclavagista, imperialista, mas participativa nos limites do que era concebível em cada contexto. Mas só a conseguimos compreender, aos seus aspectos inovadores e às suas limitações, se a pudermos comparar com regimes concorrentes ou antagónicos e nesse particular, o caso de Esparta é o mais emblemático. Não apenas como modelos de sociedade, mas até como modo de encarar a formação dos cidadãos, a Educação e a própria noção de humanidade na sua diversidade. Esparta antecipa os regimes mais “musculados” do início do século XX com os seus ideais de apuramento da raça e privilégio do corpo são. Infelizmente, se os professores de História não desrespeitarem o cânone estabelecido, o que ficou nos conteúdos da disciplina sobre a Grécia Antiga é um voo, nem sequer rasante, sobre as origens da cultura (política, artística, educativa) europeia e ocidental.

Com uma linguagem enganadora que lembra os sofistas, os senhores do momento enunciam a inclusão, mas pratica-se algo muito diferente. Esparta saiu oficialmente dos programas “enciclopédicos”, mas está de “boa saúde” entre nós.