Subscrevo

Ao escrever, falo sempre do que está à minha frente, do que me irrita. Infelizmente, mais do que me irrita e menos do que eu gosto, é temperamento. É a única forma de ser generoso para com os outros, o mundo, o meu país, a minha língua. Porque se tentar fazer coisa à maneira dos outros o tiro vai sair curto.

(Rui Zink, Jornal de Letras, 8 de Setembro de 2021, p. 15)

Sábado

Passam 20 anos sobre a manhã em que, num intervalo das aulas, vi a queda da segunda torre. O século XXI começou ali em muito do que tem de mau, mesmo se fermentava há muito. Não compreendo quem, por ódio peculiar à “América” ou a alguns dos seus dirigentes e dos seus anteriores ou posteriores actos, relativiza a gravidade do que se passou ou entra por teorias conspirativas do mais variado género. Abominar o que representa o 11 de setembro de 2001 não é qualquer declaração de amor ao trio Bush/Cheney/Rumsfeld, às suas mentiras ou aos interesses económicos que levaram, em especial, à invasão do Iraque (sendo curioso ver a forma indecisa como os críticos da invasão do Afeganistão reagem agora à retirada americana e ocidental). Se há algo que me causa clara repulsa é a atitude que defende que certos actos se justificam conforme estejam a favor ou contra aqueles de que gostamos ou não. Não é preciso ser-se nazi para se condenar o bombardeamento de Dresden, mesmo tendo em conta que se estava em guerra (o mesmo é válido para Hiroshima, tirando a parte dos nazis). A barbárie não se justifica por ser contra “os outros”, ou seja, por inerência, “os maus”.