Haveria de chegar a noite…
Dia: 21 de Setembro, 2021
O Combate Ao Conflito
Acho que poucas pessoas que passam por aqui se surpreenderão ao saber que sou frequentemente tratado como “conflituoso”. Algo a que estou habituado e que considero uma qualificação adequada e que até agradeço mas que, por qualquer razão estranha, há quem considere pejorativa e a use como se fosse ofensa.
Ora bem… eu sei que o “conflito”, a menos que seja encenação (do tipo Jerónimo na Festa do Avante a criticar o PM Costa a quem aprova todos os orçamentos há meia dúzia de anos ou aqueloutras coisas autárquicas entre os M&M que estão basicamente em acordo em tudo ao centro), está em maré baixa e que o que está em alta é a “positividade” de quem “conversa” e não confronta ou debate como outrora se entendia o termo.
Vivemos uma era chóninhas, em que a “voz grossa” já se sabe que é artifício meramente decorativo e teatral, nada trazendo de verdadeiramente substantivo. Em que “debater” é colocar gente a despejar cartilhas e guiões, sem qualquer preocupação em tentar entender o que os outros dizem e, a partir daí, repensar alguma coisa. Não é nada de novo e a decadência da conversa a sério e do debate já foram matéria para livros escritos por gente bem qualificada para o fazer.
Mas já começa a ser excessiva esta forma de desencorajar todo e qualquer tipo de verdadeiro confronto de ideias ou práticas e de crítica a quem se desvia das linhas traçadas para cada feudo que luta pelas cápsulas perdidas desta ou de qualquer outra bazuca. Agora, “fica mal”, revela “falta de espírito construtivo”, é uma falha evidente para um “trabalho colaborativo em busca de soluções”.
E a maioria acomoda-se, mesmo que incomodada.
E uma minoria gargareja tuítes como se fosse a sério o que não passa de picadas de melga.
E outra minoria grita os maiores disparates e pensa que isso é o mesmo que discutir ideias.
E até tipo da coelhinha acácia passa por ser um proto-ditador.
Phosga-se, pá!
3ª Feira
Ainda o tema da felicidade e das “técnicas” para a encontrar. Porque me desagrada a ideia que se transmite, nem sempre de forma subtil, embora admita que com modos corteses, de que só não é feliz quem quer. Que se é infeliz porque não se aborda a vida pelo “ângulo” certo. Com as “ferramentas” adequadas. Com uma “perspectiva positiva”. Este tipo de abordagem acabam de forma indirecta, por potenciar situações de maior infelicidade, por quem sente que nem é capaz de gerir a sua vida de modo a ser feliz. Para além de que tenho muitas reservas sobre este tipo de “felicidade” que se alcança após formação para o efeito. Baudelaire escreveu há mais de 150 anos um que já me parece um manual formativo sobre os “paraísos artificiais”.
Actualmente, dispomos de substâncias mil para combater diversos estados de infelicidade ou afins. Duvido que qualquer destes caminhos resolva grande parte dos problemas que estão realmente na origem da infelicidade individual. Sim, há casos de patologias que necessitam de auxiliares para gerir o quotidiano. mas a “infelicidade” é quantas vezes o resultado de uma vida cujo controlo escapa aos indivíduos, deixando-os em estado de profunda insatisfação e frustração. Podemos desenvolver estratégias e técnicas de coaching emocional ou de coping, mas elevar isso a um estatuto “científico” é apenas mais um subproduto do relativismo pós-moderno em que anything goes.
Não vou duvidar da sincera crença de alguns dos promotores desta “Ciência da Felicidade”. Só não a posso subscrever. muito menos quando associada à promoção do consumismo como forma de libertar endorfinas e fingir que tudo está bem (ou quase). Há outros métodos, alguns deles bem mais interessantes.