5ª Feira

Temos um governante que, ao fim de seis anos no cargo, diz que o problema da falta de professores é “complexo”. Realmente, ainda bem que é doutorado ou não conseguiria chegar a conclusão de tamanha perspicácia e profundidade analítica. Diz ainda que é por causa da campanha eleitoral que se nota mais. Parece que foi algo que aconteceu, assim a modos que granizo no Verão, imprevisível e acerca do qual nada se podia ter feito e agora é “complexo” avaliar os estragos no nabal. Realmente, estamos já com duas semanas de aulas e sem substituições para colegas de atestado de longa duração porque tudo isto é “complexo”.

Mas este não é o único cromo difícil da caderneta que faz do cargo coisa confortável e para dar lustro ao currículo. A nível local, é aterrador o nível de inconseguimento de certas figuras que ocupam cargos de responsabilidade na vida de colegas, mas que parecem desconhecer sequer as vogais do abecedário das funções a que se candidataram e do respeito que devem pela vida profissional dos seus “pares”. Um dia tenho de fazer a antologia dos dislates que me têm cabido em sede de recursos. Uns correm com uma correcção extrema, mas há outros que ficam entregues à bicharada.

E a indiferença vai crescendo, E instala-se, quase se entranhando. Vá lá que à porta da sala quase desaparece por completo. E ainda bem que vão sobrando uns pós de mau feitio para com gente de emproada incompetência.

20 opiniões sobre “5ª Feira

  1. Foi a campanha eleitoral responsável pelo aumento do absentismo docente? O SE tem alguma razão (infelizmente).

    Um ” caso prático ” :
    1- A Rosalina foi candidata (última da lista) à Junta de Traseiras de Trás ;
    2- Na despovoada terrinha, a “campanha” foi feita ao sábado e domingo no adro da igreja ,logo a seguir à missa;
    3-Não obstante, a finória da Rosalina pirou-se (legalmente) DUAS semanas da escola – a pretexto de estar em campanha eleitoral (!!! ). Aproveitou para chapinhar na barragem.

    Lamento dizer – com conhecimento de causa : imensas Rosalinas, neste país, despudoradamente abandonaram os seus alunos durante duas semanas . ( legalmente aceite, moralmente execrável).

    Gostar

    1. Sim, mas no resto do ano também há quem despudoradamente tenha assim uns calores e ache que é covid para duas semanas.

      Só que o problema vai muito além disso.

      A parte “estrutural” do problema “complexo” é outra.

      Gostar

      1. Caro Paulo

        ” (…) no resto do ano também há quem …”
        A ser verdade – e parece que sim – convenhamos que uma “esperteza saloia” não justifica outra.

        (o meu respeito e solidariedade pelos “verdadeiros” doentes. Conheço a parte “estrutural” do problema, que o ME bem poderia aliviar- sem gastar dinheiro, pelo contrário. Bastaria exterminar a estúpida e asfixiante carga burocrática que tanto tempo rouba, limitar o número de reuniõezinhas , projectinhos e tretas várias, repensar a “integração” dos NEE , aqueles que “vão à turma” apenas para impedir que os outros aprendam, devolver a autoridade do professor, impor disciplina nas aulas ( a impunidade!), e por aí fora.
        Muito a sério, a saúde do professorado agradeceria, fazendo baixar o número de baixas-médicas.
        A idade da reforma? Lá chegaremos – embora sendo um problema “complexo” , no dizer do ministro das Finanças.)

        Gostar

    2. Mas essas faltas de duas semanas não implicam substituição, não representam de forma alguma A FALTA de professores. Nos outros anos não houve campanha eleitoral e houve falta de professores à mesma, sobretudo falta de professores substitutos e quem aparece para substituir não é profissionalizado. O secretário de estado dar esta desculpa é de uma desresponsabilização incrível! Os próximos anos vão ser ainda piores com muita gente a reformar-se, os quadros estão cheios de gente com muita idade. Muitos dos mais velhos não aguentam e metem baixa e não há quem os substitua. Isto vai ser muito mau para quem ainda anda na casa dos 40/50 vão sugar-nos até ao tutano. Estou mesmo a ver quando acaba a (pouca) redução por idade….

      Gostar

    3. Maria,
      a solução é muito simples… estender o modelo de “democracia” das escolas ao resto do país. Plebiscitos, salazarentos, e reconduções até “cair da cadeira”. Debate de ideias, liberdade de expressão e eleições, são uma perda de tempo. Viva o “24 de abril”! Perece-lhe bem?

      Gostar

  2. A minha observação não é no sentido da “justificação”, mas sim de contextualizar a pseudo-“complexidade.
    Más práticas existem fora da campanha eleitoral e não é isso que explica a falta de professores.
    Em anos recentes, mesmo pré-pandémicos, cheguei a não ter quase metade dos professores do CT da minha DT e não havia campanha eleitoral.
    Cada vez que estamos a aceitar uma resposta daquele calibre a um governante, entramos no jogo da desresponsabilização política.

    Liked by 2 people

  3. Acho que se resolvia também com a abolição de todas as novidades administrativas da Lurdinhas.
    Sendo profissão de desgaste rápido para a maioria dos professores que não estão nas direções, nem nas bibliotecas, nem à sombra deste hipócrita NEE era de:

    -iniciar as reduções por idade aos 40 tornando-as efetivas, como antes.
    E, obviamente, reduzir o número de alunos por turma.
    A burocracia e trabalho administrativo do professores também necessita de um ponto final imediato. Dever-se-ia estipular um plafon máximo de atividades e de projetos
    a realizar por cada escola havendo penalizações pesadas para quem não cumpre.

    Liked by 1 person

  4. Hoje houve novidades no meu agrupamento.
    A professora de Inglês do 1º ciclo ficou confinada. Os professores de apoio do 3º e 4º ano avançam para substituição das suas horas. Não lecionam inglês, ocupam os alunos com atividades diversas.

    Gostar

  5. A maioria dos professores não está à espera que os génios da engenharia governativa comecem a criar prémios para quem se aguenta para lá dos 50/55!
    A maioria quer é trabalhar em condições humanas que não ultrapassem o limite da razoabilidade.
    A maioria quer é ter turmas mais pequenas, menos plataformas, menos exploração tecnológica com trabalho fora de horas e projetinhos a mais para servir interesses eleitoralistas ou consumistas.
    Quer é ter um sistema de gestão que não seja ditatorial e doentio, quer é ter uma política educativa que não a lance no enxovalho e não lhe pregue rasteiras legislando nas costas dos professores sem os ouvir, ou fazendo simulações de democraticidade participativa, quando pura e simplesmente os colocam em off.
    Quer é trabalhar com honestidade, só que o mau exemplo vem de cima! E aqui o descaramento, esse sim, é total e os rombos ao país são de tão escancarados que só geram descrença, desânimo e dor.
    Obviamente que todos, hoje mais que nunca, desejam é ter saúde! A mentalidade pequena e a exaustão de muitos leva-os mesmo a invejar dor alheia.

    Gostar

  6. A tendência da falta de professores irá passar pela sobrecarga da atividade letiva de quem ainda se mantém no sistema e isso são indicações que as Direções Regionais estão a dar aos diretores. Ainda o ano passado o diretor me quis brindar com mais 6 horas extraordinárias para além das 22 que já tinha. 22 horas de aulas MESMO, sem cargozinhos ou tutorias, nem outras coias do género. Consegui argumentar a meu favor, mas não esqueçamos que o ECD diz que as horas extraordinárias são de aceitação obrigatória, nem que se suba de escalão de IRS e se passe a receber menos vencimento líquido.

    Gostar

  7. Ele é lecionar o programa.
    Ele é encontrar métodos de avaliação diversificados.
    Ele é a burocracia do diretor de turma.
    Ele é reuniões de diretores de turma, reuniões de departamento, reuniões de área, reuniões com os pais.
    Ele é andar atrás de encarregados de educação que nem se preocupam com com a justificação de faltas dos educandos.
    Ele é ler relatórios de alunos com dificuldades de aprendizagem e reunir com os professores do apoio educativo
    Ele são os DAC
    Ele é a Educação para a Cidadania
    Ele é Educação Sexual…
    Ele é as ações de formação contínua em MAIA, EDUCAÇÂO POR PROJETOS, FORMAÇÂO DIGITAL..etc
    Mas alguém aguenta este ritmo, mostrando sempre a cara sorridente aos alunos que são aqueles que menos têm culpa.
    Assim vai a escola pública . Depois queixam-se que faltam candidatos a docentes pois ninguém quer ter um estatuto de m….desculpem lá qualquer coisinha.
    De boas intenções está o inferno cheio e vejam como no PISA são os países da Ásia Pacífico, aqueles que estão no topo. Terão DACS, CIDADANIAS, SEXO (educação) e MAIAS? Hum…turmas de 40 alunos, todos num silêncio sepulcral a ouvir o prof que ganha mal, mas ao menos que é considerado e louvado pelos seus concidadãos.
    Não quero aqui fazer a apologia do ensino como antigamente, em que os professores estavam num pedestral e os alunos nem ousavam olhar para a janela da sala de aula. Mas basta de extremos, de fundamentalistas e de ideólogos da educação.

    Gostar

  8. Ele é lecionar o programa.
    Ele é encontrar métodos de avaliação diversificados.
    Ele é a burocracia do diretor de turma.
    Ele é reuniões de diretores de turma, reuniões de departamento, reuniões de área, reuniões com os pais.
    Ele é andar atrás de encarregados de educação que nem se preocupam com a justificação de faltas dos educandos.
    Ele é ler relatórios de alunos com dificuldades de aprendizagem e reunir com os professores do apoio educativo
    Ele são os DAC
    Ele é a Educação para a Cidadania
    Ele é Educação Sexual…
    Ele é as ações de formação contínua em MAIA, EDUCAÇÃO POR PROJETOS, FORMAÇÃO DIGITAL..etc
    Mas alguém aguenta este ritmo, mostrando sempre a cara sorridente aos alunos, que são aqueles que menos têm culpa?
    Assim vai a escola pública . Depois queixam-se que faltam candidatos a docentes pois ninguém quer ter um estatuto de m….desculpem lá qualquer coisinha.
    De boas intenções está o inferno cheio, e, porém, no PISA são os países da Ásia Pacífico, aqueles que estão no topo. Terão DACS, CIDADANIAS, SEXO (educação) e MAIAS? Hum…turmas de 40 alunos, todos num silêncio sepulcral, ouvindo o professor com muito respeitinho.
    Não quero aqui fazer a apologia do ensino como antigamente, em que os professores estavam num pedestral e os alunos nem ousavam olhar para a janela da sala de aula.
    Mas, basta de extremismos e de fundamentalismos da educação que estão a matar a escola pública.

    Gostar

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.