Muito interessante a forma como explica o modo como a Ciência busca aquilo que não sabe, ou seja, aquilo que ainda ignoramos. Uma frase interessante… ” o conhecimento gera ignorância”.
Dia: 8 de Dezembro, 2021
Está Sempre Disponível
É a vantagem de um amplo vazio interior de convicções que não passem pelas conveniências dos suseranos.
Governantes voltam a ser chamados pelo líder do PS para encabeçar listas de candidatos a deputados. Para já, dois membros do atual Governo (e o número dois no PS) entram de fresco e vários mantêm-se.
4ª Feira
Aproveitei para reler o texto de António Nóvoa no JL/Educação de Dezembro, para ajudar a fazer uma espécie de purga em relação à sujidade quotidiana em que se transformou o quotidiano da gestão da Educação em Portugal fora das salas de aula. Sei que, por feitio e função, o seu discurso é muito mais suave do que o meu em relação a algumas matérias. O nosso contacto foi escasso e em nenhum momento vou (mesmo se lhe pedi para apresentar o livro que fiz sobre a manifestação de 08/03/08) além de encontrar afinidades sobre aquilo que é essencial na Educação e que muitos identificam como o “triângulo pedagógico” (alunos, professores, conhecimento), mas que não poucos desfazem ao menorizar dois dos pilares, relativizando o que se considera “Conhecimento” e apoucando o papel dos professores.
Por isso, transcrevo o que a esse respeito escreve Nóvoa, até pelo modo como sublinha a contextualização histórica da construção desse Conhecimento, o seu carácter evolutivo e não apenas a transmissão acrítica do que existe, em sincronia, de foram relativista em relação ao valor do que se considera serem “saberes” ou “filosofias”, muitas vezes meras crenças locais ou pessoais, por muito que tenham ajudado este ou aquele decisor nalgum momento da sua vida.
A partir do triângulo pedagógico – alunos, professores e conhecimento – a Comissão chama a atenção para a necessidade de pensar a Educação numa nova relação com o mundo e a Terra. Defende, por isso, a importância da literacia científica e de um ensino que ajude a compreender, o que implica integrar no ensino das disciplinas a forma como os conhecimentos se constituíram.
A passagem que destaquei pode ser formalmente subscrita por muitas criaturas que andam por aí em painéis, grupos de trabalho e formações, mas não isso não passa da enunciação. Na prática, nas políticas de desenvolvimento curricular, na opção por “aprendizagens essenciais”, no modelo de micro-registo dos desempenhos atomizados, as últimas duas décadas corresponderam a um esforço consistente e continuado pela fragmentação (e não pela unificação) do currículo e pela erosão dos conteúdos disciplinares, substituindo horas semanais de trabalho com os alunos em torno de conhecimentos construídos e acumulados pela Humanidades por horas que prezam o culto do imediato, do transitório e que desprezam activamente o processo como os conhecimentos científicos (num conceito alargado e não meramente reduzido às tecnologias ou permeável aos pós-modernismos que já deviam ter passado o prazo de validade) se formaram e se souberam renovar a partir dos seus próprios fundamentos de questionamento.
As Ciências Naturais, a História, a Filosofia, a Matemática, contêm em si e no seu método de trabalho o princípio do auto-questionamento, caso contrário não existiria um progresso com resultados demonstráveis e teríamos ficado pela roda quadrada e o isqueiro de sílex. Aliás, a opção pela redução do peso da Filosofia no currículo e a sua transformação num domínio quase exclusivo da Lógica, numa versão exacerbada ao ponto do mecanicismo formal, é um dos sinais mais evidentes do desprezo pela forma como o pensamento humano evoluiu e se redefiniu. assim como o corte em fatias semestrais de disciplinas como a História ou a Geografia, para dar lugar a coisas como “empreendedorismo”, “literacia financeira” ou “prevenção rodoviária” no currículo demonstra o quanto existe de confusão quanto ao que deve ser verdadeiramente o “essencial” e o que não passa de acessório e perfeitamente admissível num espaço extra-curricular.
Como a Maria do Carmo Vieira dizia de forma muito intensa numa formação, daquelas a sério, estamos cada vez mais entregues aos bárbaros. E, acrescento eu, cada vez mais empurrados para umas novas trevas, causadas por um excesso de luz artificial.