Um Argumento Do Caraças

À boleia do “estudo” (leia-se, revisão de alguma literatura) posto hoje a circular sobre a não evidência das vantagens de reduzir os alunos por turma, acabo de ler ao (ainda?) presidente do Conselho de Escolas a defesa da possibilidade de aumentar o número de alunos por turma para o máximo possível, como forma de combater a escassez de professores, em resposta algo jocosa a um comentário meu. Escreveu ele que “Talvez se conseguisse mitigar a falta de professores em algumas escolas, constituindo turmas nos limites máximos admissíveis“.

Isto quando muitos professores abandonaram exactamente pelos efeitos excesso de trabalho e esforço que implicam turmas extensas, com meios técnicos deficientes e uma política disciplinar consistentemente laxista desde a tutela até muitas lideranças locais, que consideram que ofender e ameaçar professores em plena sala de aula é coisa para se resolver com umas conversitas à hora do chá. Mas o número de alunos por turma não é uma questão “meramente” do foro das condições de trabalho dos professores. Acaso os alunos preferem ter turmas maiores? Alguém lhes perguntou o que acham, antes de atirarem às conveniências laborais dos docentes?

Até li a seguinte passagem que acho dificilmente compreensível no que quererá dizer: “Aliás, não me surpreenderia nada que a falta de professores em algumas escolas do país seja um dos custos associados ao número de alunos por turma”. Eu entenderia que faltam professores porque muitos potenciais candidatos desistem ao ver a dimensão de certas turmas e o número de alunos que teriam. Mas parece que não é bem isso.

Repito, foi o presidente do Conselho de Escolas a defender esta medida (turmas no máximo, com as que eu tenho, nos 28), pelo menos em “algumas escolas”, não foi nenhum presidente da Confap. Estamos tramados, desculpem, falados.

Repito o que escrevi há uns posts atrás… porque não dão certas lideranças o exemplo e assumem um horário lectivo (direcções inteiras com apenas 4-5 turmas a cargo é o que menos falta) que ajude a “mitigar a escassez de professores” nas suas escolas?

(já sei… em Singapura são aos magotes e são muntabons em Matemática…)

Quem Escreveu Isto Em 1990 Deveria Ser Considerado o Pai Do Projecto MAIA

Olhem que não é assim tão difícil de adivinhar, para quem fez as profissionalizações nesta altura. Se é que leram a bibliografia essencial da cartilha de então (e de agora). Só que os que agora estão não lhe estão a reconhecer o devido mérito 😀 .

(agradeço ao Henrique Faria o envio do pdf, mesmo se tenho por aí um exemplar em papel, pois comprei muita coisa, em especial quando ficou tudo em saldo, talvez adivinhando no eterno retorno das modas)

5ª Feira

Dia de divulgação de um estudo sobre a dimensão das turmas, na perspectiva quase exclusiva dos “custos”, mesmo que se fale em resultados e desempenho.

Para este tipo de “peditório” já dei o que tinha a dar e cansa-me regressar à discussão em torno de “evidências” baseadas em médias. Eu sei que os ganhos nos resultados entre turmas de 25 e 27 alunos poderão ser residuais ou mesmo inexistentes.

Mas, digam-me o que disserem, é muito diferente dar aulas com turmas de 20-22 alunos ou de 26-28 diga a “literatura” o que disser. Até o ambiente em sala de aula é completamente diferente. Claro que se tivermos um PCA com 15 alunos, nada nos garante mais ou melhor sucesso do que com uma turma regular com 25. Ou 20 com 4 alunos ao abrigo do 54 em relação a 26 com alunos sem problemas de aprendizagens. E depende muito – que me desculpem os internacionalistas, globalistas ou transnacionalistas da Educação, mas muita coisa depende do próprio país onde é feito o estudo.

As “médias” enganam muito. Com as estatísticas, o segredo está em “torturar” os números até dizerem o que queremos. Se o que queremos passa pelo “mais com menos”, claro que qualquer ganho só é interessante se “compensar”. Ou seja, a Educação submete-se à lógica economicista.