Dia: 10 de Dezembro, 2021
Leituras
Uma coisa é um saudável cepticismo, outra o relativismo exacerbado, seja por adesão a teorias da conspiração, seja por mera iliteracia. Mesmo se no caso do movimento anti-vacinas, paradoxalmente, grande parte dos adeptos até tem estudos acima da média.
E porque será que este tipo de atitude seja mais evidente num dos extremos do “espectro” político.
Conspiracy theories in science
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What’s the secret science of conspiracy theories?
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Tenças, Honrarias & Demais Benfeitorias
Acho curioso que existam pessoas que se candidatam a cargos e depois se queixam do imenso trabalho que dão. Ou que quando apresentam intervenções públicas sobre temas relacionados com esses cargos se queixem que se estabeleça essa relação. Ahhh… e existe ainda aquele outro argumento que é o de dizer que se candidatam porque alguém tem de assumir a “responsabilidade” de “construir soluções” ou qualquer paráfrase desta vacuidade. Como se o caos estivesse à espera se eles não aparecessem. Confesso a minha falta de subserviência perante figuras de autoridade que uns dias a assumem e em outros não, dependendo das conveniências. O mesmo se aplica a malta que, depois de lutar por ser premiada, parece viver esse estatuto como se de um sacrifício se tratasse. Deixem-se de m€rd@s, pá! Se me perdoam o vernáculo envergonhado, eu que só me candidatei a dois cargos, ambos por eleição pelos pares (professores) e num dos casos nem cheguei ao fim de dois mandatos, que a mim arrepiam as práticas feudo-vassálicas seja em que contexto for, porque tenho os joelhos com articulações um bocado gastas pelo peso e uma colecção de vértebras pouquíssimo flexíveis.
E quem quiser que agarre o manguito.
6ª Feira
A falta de professores que muitas pessoas não viram – pelos vistos, a começar pelas dezenas de membros do Conselho de Escolas – dá depois origem a propostas de “soluções” que revelam até que ponto se anda longe da realidade quotidiana da sala de aula. Para além da interiorização da lógica do “não há dinheiro” por parte de quem deveria conseguir defender o interesse das “escolas” como outros defendem o de outras organizações bem menos influentes na sociedade, temos ideias do caraças como reduzir as horas das disciplinas nas quais faltam professores ou em outras quaisquer que permitam “libertar” braços para a estiva ou então diminuir as horas atribuídas às direcções de turma. Coisas do género “há falta de ligares nas prisões? então reduzam-se os crimes que implicam prisão ou amnistiem-se os mais bonzinhos” ou “há falta de médicos de certas especialidades no interior? decrete-se que essas doenças se remedeiam com paracetamol”. Faltam professores de Francês? Acabe-se com a disciplina e fique-se pelo Castelhano ou o dialecto mais comum na região.
A ânsia de que se querer mostrar soluções, em regra de curto prazo, míopes, mas que por vezes acabam por ficar permanentes, raramente é boa conselheira, em especial quando as pessoas perderam alguma noção das realidades e ficam encapsuladas nos seus interesses micro-corporativos. Só assim se entende que tenhamos “líderes” de escolas a afirmar que a questão das dimensões das turmas só tem a ver com o interesse dos professores se esforçarem menos, como se isso não fosse do interesse primeiro dos alunos. Há mesmo “especialistas” que fazem “estudos” que dizem que turmas mais pequenas reduzem a socialização dos alunos, não conseguindo ver que durante 50 minutos as interacções professor/alunos se reduzem à medida que as turmas se sobredimensionam, acabando por colocar em causa aqueles princípuos defendidos apenas quando dá jeito da diferenciação pedagógica e da promoção das aprendizagens individualizadas.
Estamos com o governo de saída, pelo que nada de relevante é de esperar de qualquer discussão sobre uma escassez de professores que existe há um bom punhado de anos (e que eu testemunhei como professor mas também como encarregado de educação), para além de promessas, demagogia e muita asneira. Como aquela de reduzir as horas das disciplinas bienais de opção do Secundário (cf. José Eduardo lemos no seu mural do fbook), como se isso permitisse, por exemplo, solucionar a falta de docentes de grupos como o 300 (Português). Ou de T.I.C., uma disciplina útil, mas criada em cima da inexistência de docentes qualificados para o ensino dos rudimentos da coisa. Ou de Geografia, uma disciplina que ganhou bastante nas reformas curriculares dos últimos vinte anos, mas que mesmo ao nível das ofertas de escola fica a partir do primeiro período quase sem candidatos.
Há discussões que só vale a pena manter para que não nos façam passar por parvos ou por imprevidentes, quando há anos que se avisava para isto. Discussões que assumem contornos de caricatura quando se lê que não é verdade que muitos professores abandonaram o ensino por causa do peso dos horários lectivos, nomeadamente quanto ao número de alunos a ter de leccionar devido à dimensão das turmas e à escassa carga horária semanal de diversas disciplinas.
Discussões que às vezes servem para tentar lembrar a certas pessoas que há funções e organismos que não existem apenas para se satisfazer o ego. E que as “soluções” poderiam começar (ando chato nisto) por mobilizar mais de 3000 professores que estão nas escolas e, sem ser por razões de saúde, não dão aulas ou têm apenas uma ou duas turmas. e depois dizem que os que têm 6, 8 ou 10 não têm razão para estar desanimados e desgastados.
Nunca fui daqueles que embarcou na onda populista de criticar os suplementos remuneratórios dos elementos das direcções, mas tenho muitas reservas quanto à forma como, em cima disso, ainda se usa e abusa dos créditos horários disponíveis; e que não me venham sempre com o “muito, muito trabalho” que eu pergunto logo se foram obrigados a aceitar o lugar e se em muitos casos não fazem de tudo para lá chegar e de lá não sair. Se têm tempo para assumir outras funções fora das escolas, certamente teriam um tempinho para regressar às salas de aula. em defesa do “interesse dos alunos” que tanto proclamam.