Sábado

Eu sei que a notícia do dia é muito justamente a detenção do Rendeiro na África do Sul, alegadamente por identificaram as cortinas da divisão onde ele deu a entrevista. Muito bem e ainda bem. Mas gostava de voltar a um outro assunto que me é mais caro, até porque isto não é um portal de novidades.

Gostava de sublinhar o quanto me tem custado assistir à partida (definitiva ou temporária a caminho de definitiva) de muit@s colegas que deixaram de se sentir em condições de aguentar a crescente parte imbecil, redundante, burrocrática e abusiva do quotidiano escolar. Algo que tem vindo a ter um efeito cumulativo em especial nos últimos 15 anos e que tem feito a sua mossa em quem lida diariamente com turmas de dimensão elevada ou então com muitos problemas adicionais aos que decorrem directamente da docência. Porque os professores se tornaram uma espécie de multifunções na falta de psicólogos, assistentes sociais ou outros profissionais no número adequado às necessidades. Há quem diga que não é por isso que muita gente abandonou o ensino, mas não é isso que constato, pois não falo apenas do que observo no meu “quintal”, mas de muito com que tenho contactado através de testemunhos de colegas que ficam no foro privado ou no apoio ou participação (desculpem voltar a falar disso) em processos de reclamação e recurso no âmbito da ADD. Não me limito aos meus “arredores” como alguém insinuava de forma muito pouco subtil, ontem, no fbook (que lhe cairiam os parentes no lamaçal se fosse visto aqui a comentar no blogue, onde escrevi os textos comentados), porque acedi a informação de Trás-os-Montes ao Alentejo e do litoral ao interior.

E pude observar o quanto há gente profundamente magoada com o modo como isto se desenvolveu desde o “descongelamento”, porque de 2011 a 2017 muita falta de carácter e de ética ficou escondida devido ao marasmo existente. Mal o “degelo” se deu, começou a perceber-se que há que o admitir – a senhora “reitora” venceu a médio-longo prazo no seu esforço por criar um corpo de “lideranças” que se desligasse das suas origens e dos seus antigos “pares”. Não é verdade – como quando me acusaram tantas vezes de anti-sindicalismo – que eu seja um radical anti-directores. O que sou é um radical anti-práticas abusivas de nepotismo, clientelismo, abuso de poder ou, no limite, de pura incompetência. Mesmo que isso me traga problemas, mais ou menos públicos, não posso fazer um contorcionismo oportunista e dizer “ahhhh e tal, isto não vai mudar, pelo que mais vale ser eu que sou muito bom a fazer do que serem outros que são piores”. Já o escrevi, disse e repito que não quero o cargo de ninguém em funções nas estruturas locais ou centrais relacionadas com a governação da Educação, porque acho que a maioria das cadeiras está enlameada e eu não quero sentar-me no que está sujo. Apenas estou interessado em ir registando (monitorizando?) a realidade concreta do que se passa, desejando ardentemente que não me chateiem desnecessariamente com acusações ou imputações da treta.

Sim, há gente boa, competente, séria e digna na gestão escolar e eu conheço muitos casos e há quem possa testemunhar que, sempre que pude, transmiti o meu agradecimento e elogio a esses colegas que conseguem manter um nível de dignidade aceitável ou mesmo bom nas suas “organizações”. e é verdade que em muitos casos, acabei por me envolver em situações em que estavam em causa abusos de poder, o que pode distorcer a minha noção do que será a regra e a excepção. Mas há algo que é transversal e que é o sentimento de mágoa e mesmo ofensa pessoal e profissional que sentem muit@s colegas pelo modo como foram tratados muitos anos pela tutela e cada vez mais pelas lideranças locais. Há gente muito triste e desanimada, o que acentua fenómenos de stress e burnout que levam ao desejo intenso de uma saída antecipada da docência. acredito que exista quem não se perceba disso, pelo afastamento que tem do quotidiano escolar dos comuns zecos, por uma natural insensibilidade, porque prefere virar as costas aos problemas ou porque – sim, há casos desses – o seu quotidiano é felizmente diferente.

Mas não me digam que muita gente não abandonou ou pretende abandonar o ensino porque as condições para o exercício do seu trabalho foram degradadas ao ponto do insuportável e entre isso está a dimensão das turmas, quando são levadas aos limites. Negar isso é revelar que já se vive num outro mundo, pairando bem acima dos comuns. Um mundo onde se pedem “evidências” por tudo e nada e se justificam descidas de avaliações de mais de 9 valores para “Bom”, alegando que a pessoa só fez o que era a sua obrigação.

Ide catar-vos!