Uma Imagem Destes Dias

Desculpem voltar ao assunto, mas são muitos milhões para muito pouca funcionalidade. Hoje, pela manhã, tive de descarregar 28 fichas com o registo da avaliação dos alunos da minha dt, uma a uma, porque “desapareceu” do menu de opções a possibilidade de descarregar o conjunto de todas elas, para as enviar aos encarregados de educação em tempo útil, como eu, quando o era, gostava de receber. Para cada ficha são necessárias várias operações (da selecção da turma à descarga em si da ficha, passando pela selecção d@ alun@ e da escolha do separad5.or “avaliação”), sendo que, com frequência, a meio de uma delas era necessário recomeçar o processo, porque ficava ali o quadradinho a mexer ou aparecia a imagem abaixo. Há quem possa dizer que é infortúnio escasso, mas a verdade é que manualmente preencheria mais rapidamente as 28 fichas em papel.

O ME anuncia uma escola para o século XXI, mas fornece ferramentas que me fazem recordar com saudades os tempos analógicos ou quando, nos anos 90, começámos a usar o chamado “programa alunos” ainda em tempos do glorioso Windows 95. Querem anunciar modernidades – e até pagam de acordo com isso – mas o que temos ao dispor anda pouco acima da fancaria. Antes de apontarem o dedo às incapacidades digitais dos docentes e sugerirem as sacramentais “formações” que tal, ao fim de 3 anos, conseguirem que alguma coisa funcione a preceito?

As Vantagens Da Tecnologia (Ou Não!)

Desde que o primeiro hominídeo conseguiu afiar um pau para melhor caçar uma ave ou roedor fugidio ou lhe juntou uma pedra afiada para fazer o protótipo de uma lança (entre tantos outros exemplos possíveis e menos simplistas) que a tecnologia tem como principal finalidade facilitar a vida dos humanos. Ou fazendo algo de modo mais eficaz ou mais rapidamente. A roda permitiu deslocar cargas mais depressa e mais facilmente. E muitos etc. Se é verdade que haverá exemplos contrários, o avançar dos tempos deveria ter-nos aperfeiçoado as capacidades de criar e usar as tecnologias que melhor se adaptam a aligeirar o quotidiano e algumas das tarefas mais complicadas ou chatas. Se é para manter tudo como estava ou pior, não vale a pena gastar tempo e engenho.

Vem isto a propósito – já estavam a adivinhar – das afamadas tecnologias de informação que nos permitiram chegar mais longe e tão rapidamente a tanta coisa. Ou criar “ferramentas” que, após criação e verificação, devem tornar tudo mais fácil e fluido. Como as bases de dados. As folhas de cálculo. Os formulários.

Se é para usar um ano, testar, aperfeiçoar no ano seguinte, e mudar quando se começa a usar em modo de cruzeiro, não vale a pena. Ou se é para exigir trabalho redundante. Ou pura e simplesmente desnecessário ou inútil (também estou a redundar, eu sei). Se é para mudar os quadradinhos de sítio de um ano para o outro. Para deixar de fazer cruzes e passar a escrever qualquer tipo de código. Se agora é na horizontal e antes era na vertical. Ou melhor, na transversal. Se é para satisfazer apenas os fetiches alheios na minudência. Nesse caso, não há digital que nos valha, porque os zingarelhos e as apps e coisas assim só fazem o que lhes mandaram fazer os humanos. Mas se aos humanos com capacidade e poder para lhes mandar fazer coisas escassear a competência ou – mais importante – o bom senso, nada feito. Ficamos com uma roda triangular, que dá ainda menos jeito do que arrastar a palha pelo campo. E não há “formações” ou “capacitações” que nos valham.

4ª Feira

Para muitas daquelas pessoas que acham que a sua vida nesta altura está difícil, deixo-vos um exemplo de que poderia ser pior. Porque há sítios onde o delírio burrocrático é uma coisa que nos deixa de queixo caído até aos calcanhares. Não é que o mal dos outros alivie o nosso, mas pelo menos coloca-o em perspectiva.

(removi a identificação da escola por motivos óbvios, incluindo o desejo de não traumatizar ainda mais quem é obrigado a fazer isto; basta dizer que é na área da “grande” Lisboa)