A Senha Digital Crashou Cedo E Ainda Não Recuperou

Eu não me vou meter em filas de Casa Aberta, por ameno que esteja o Inverno. Fica para depois, até porque 2ª feira ninguém vai estar imunizado com vacina de 1ª dose (alunos) ou reforço (professores e funcionários). Pode ser que isto seja mesmo só uma ficção televisiva.

Transição Digital? Bela anedota.

Os Debates

Há um par e séries que descobri (Goliath na Amazon, Fica por Perto, na Netflix) que me têm deixado pouco tempo para dar com os debates em directo, pelo que acabo por ver aquilo meio misturado, em diferido, tipo resumo da jornada.

Antes de mais, três preliminares:

  • São debates com menos de meia hora, em que os “debatentes” (acho que a palavra existe, neologismo ou não) falam ali uns 11-12 minutos, o que me parece escasso, mas mesmo assim nos surge como imenso, atendendo à proporção de tempo gasta em disparates e irrelevâncias.
  • São debates em que a pandemia é tema quase proibido, sem bem percebi, apesar de uma outra menção ao SNS.
  • Alguns comentadores dos debates (antes ou depois da sua realização) deveriam estar em isolamento profilático pelo eu histórico nestas coisas, em especial alguns que se dizem “jornalistas”, mas que o mais certo é estarem numa campanha própria para fazerem parte de algum gabinete (governamental ou partidário) de comunicação. Nisso fazem-me muito lembrar a malta dos blogues da moda de há 10-15 anos.

Quanto aos debates, eles mesmos, e principais protagonistas:

Os debates com António Costa e os minions à sua esquerda parecem-me chilreios de carochinhas em busca do seu joão ratão, mesmo se me parece que seriam elas a caírem no caldeirão (como já caíram), s e o namoro se voltar a concretizar em união de facto ou matrimónio de papel passado.

O Rui Rio faz-me lembrar aquele professor que vai dar aulas sem as preparar, seguro de que sabe tudo e conseguirá dar a volta a qualquer questão dos alunos e acaba a balbuciar palermices como dizer os hominídeos são primatas, mas não mamíferos ou que gosta de vinho, mas não do alcoólico.

O Ventura é o que sempre foi e estranho que quem tanto o adorava nos programas futeboleiros agora se amofine quando tem de o enfrentar na política. O homem sempre foi isto, mais ou menos coelha, qual a surpresa, qual a indignação? Não havia quase (por causa das raras excepções) 6 milhões a adorá-lo?

Contra o que eu esperava, até ao momento só o Rui Tavares parece ter tido uma das duas atitudes certas ao enfrentar o dito Ventura, mesmo se ficou por aprofundar a questão dos financiamentos do Chega e o próprio Tavares tem telhados de vidro por Lisboa. A outra atitude seria rir muito cada vez que o Ventura abre a boca, soltando esta ou aquela palavra com ar de gozo ou falsa surpresa, ou apenas questionando “A sério, André? A sério?”.

Mais para a direita, um debate entre os líderes do CDS e da Iniciativa Liberal faz lembrar uma discussão da Juventude Centrista, em meados dos anos 90 do século XX, para decidir qual a melhor forma de escrever uns artigos para o Independente. Ou uma década depois para a Atlântico.

Quanto a substância, em matéria de medidas concretas de governação? Quase zero, não sendo mesmo zero porque o Tavares e o Ventura discutiram uns segundos sobre quais os subsídios que um defende e o outro não.

(ahhh… ia-me esquecendo… tenho saudades dos tempos em que havia esquerda “radical” e isso se notava… agora preferem mostrar-se “responsáveis”, deixando esse espaço de protesto todo aberto à “extrema direita” e parecem ainda não ter percebido o erro)

5ª Feira

No papel, parece tudo certo. Reunião dos políticos com os especialistas no Infarmed na 4ª feira para recolha de informação e tomada de decisões no Conselho de Ministros de hoje, 5ª feira. Na prática, tudo ao molho e fé em Deus com a DGS e divulgar notas e decisões desde o início da semana, enquanto alguns governantes “sopram” pré-decisões a jornalistas amigas, para pressionar no sentido que lhes interessa. Não se entende como Graça Freitas aparece hoje a antecipar medidas e Lacerda Sales parece uma ventoínha falante, todos os dias a dizer qualquer coisa, nem sempre com o maior dos sensos ou sentidos. Entretanto, parece que há quem ache que as escolas devem reabrir todas e que os miúdos deixem de ser considerados contactos de alto risco, mesmo se os colegas na sala estiverem positivos. Ou seja, perante uma variante mais transmissível, num ambiente em que a maioria não está vacinada, reduzem-se as situações e tempo de isolamento, para dar a aparência de que tudo funciona “normalmente”, que há campanha eleitoral e não queremos o raposo (henrique) e o tavares (joão) a chatear-nos todos os dias nos jornais, mais os articulistas arregimentados pelo cristo (alexandre) para o Observador.

O Bloco Central da Tranquilidade chama o filinto e o ascenção para dizer que “as escolas estão preparadas para o regresso de todos” e “as famílias preocupadas com novo adiamento”, criando uma cortina de fumaça enganadora. Sim, porque se formos para o não-presencial estamos no ponto onde estávamos há um ano, um pouco como com os votos de quem estiver isolado no dia das eleições, quando parece que todos poderão vir à rua, independentemente do estado, porque não se preparou um sistema de recolha dos votos nos domicílios, por via postal ou digital. E vamos ter as turmas com “furos” permanentes, com alunos a faltar de modo sortido conforme estejam positivos ou se alguém lá em casa estiver, porque acham que assim é melhor e não acaba por ser mais potenciador de desigualdades. Daqui, pelo menos até ao Carnaval, vai ser uma maravilha.

A tenda está armada, o circo em movimento e os palhaços a aplaudir, para entusiasmar o público que observa, entre a “névoa mental” e uma crescente indiferença, nascida de um imenso desânimo. E quem protestar é porque é “carneiro” para uns ou “alarmista” para outros. E ignorante e estúpido para ambas as partes, outrora desavindas, mas agora irmanadas no mesmo desígnio.