Uma Questão De Igualdade

Quando me dizem que, enquanto professor, não me deveria queixar das condições da minha profissão ou então deveria ir fazer outra coisa, pergunto logo se, sendo portuguesa, essa pessoa não deveria deixar de se queixar do funcionamento do país ou então emigrar. Ou, mais letal, se, sendo de um dado clube de futebol (é mais eficaz com quem é de um dos “três grandes”), não deveria deixar de criticar alguns resultados, jogadores ou treinadores, ou então mudar de clube. O engraçado é que algumas dessas pessoas são as mesmas que dizem que só devemos criticar um partido/sindicato/etc se formos filiados ou sócios. e nem sequer dão pelo torcicolo nos raciocínios.

Valerá A Pena…

… andar a analisar com grande detalhe o que os programas partidários defendem em matéria de Educação? No essencial, fazem proclamações vagas, não explicando como as pretendem implementar na prática. Quando apresentam algo mais concreto, uma pessoa espanta-se com as ideias subjacentes (como aquela de fazer uma espécie de dupla certificação profissional dos futuros docentes). Quase tudo é ditado pelo imediatismo e a “falta de professores” que ninguém pareceu ver a vários anos de distância, como se o envelhecimento fosse algo recente. Em matéria de gestão escolar, umas pinceladas escassas de quem já teve oportunidade de fazer alguma coisa e se ficou por resoluções. Quanto à carreira dos “envelhecidos” e à vergonhosa add, zero em coragem de dizer seja o que for; estive, por exemplo, a ler o programa do Bloco (não chega reclamar pelo fim das quotas, mesmo se isso é importante) e o “Compromisso” do PCP e a ausência de qualquer referência ao tema é uma lástima completa em forças políticas que se pretendem ter alguma representatividade no sindicalismo docente (o mesmo para a questão do tempo de serviço congelado e que todos parecem considerar tema fechado, apesar das tais “resoluções). Fico mesmo pasmo com certas preocupações

A Educação deixou de ser uma prioridade em temos de pandemia, mesmo se as escolas a funcionar são essenciais em tempos de pandemia. À Direita leio coisas que nem me apetece comentar, de tão demagógicas que são, ou seja, como se pode defender uma Escola Pública forte e de qualidade se estamos continuamente a duvidar da qualidade dos professores (PSD) ou a clamar pelo cheque-ensino para levar alunos para um privado de 2ª ou 3ª linha (CDS e Iniciativa Liberal, mesmo se estes nem sequer fingem interessar-se muito pelo funcionamento da rede pública). O Chega diz umas coisas que parecem soar bem, se esquecermos que tudo é “contra os socialismos”, a “esquerda e a extrema-esquerda” e poucas coisas são mais (teoricamente) típicas de uma governação de “esquerda” do que uma Escola Pública para todos. Mesmo se o PS (incluindo o da geringonça) optou transformá-la numa espécie de coutada para as suas clientelas e uma via para canalizar meios financeiros para organismos e estruturas que lhe são externas.

Portanto, não é pela análise das propostas para a Educação que me conseguem convencer que, chegando ao poder uma geringonça de esquerda ou direita (e muito menos uma maioria absoluta do PS), alguma coisa mudará de relevante, excepto a imposição de mais uns remendos no currículo e umas medidas ad hoc para colmatar a falta de professores, considerando que tornar a profissão “mais atractiva” se limita a mais um lote de vinculações “extraordinárias” ou a pagar mais nos primeiros escalões, enquanto se encolhe o horizonte de progressão a partir do primeiro terço da carreira, mesmo que se mantenham formalmente escalões com remunerações nominais comparativamente elevadas nos estudos da OCDE, mas de que 40% ficam na posse do Estado, logo à cabeça.

Domingo

Aproveitem o último dia de contenção, que não fazemos a mínima ideia do que virá por aí. Nas minhas turmas, já começam a chegar as notícias de isolamento de alguma petizada. Portanto, logo se vê no que isto dará. O mais certo é as coisas descambarem já depois das eleições e, nesse caso, já ninguém será responsabilizado por nada. Mesmo não tendo visto todos os debates, tirando a obsessão dos liberais e do CDS com o cheque-ensino (como se a malta de certos bairros fosse aceite em colégios chiques, mesmo cobertos de ouro), a Educação tornou-se um não tema e parece anátema falar na opção por manter as escolas do 1º ciclo, pelo menos, fechadas mais um par de semanas. Parece que falar nisso queima e todos evitam. Antes serem acusados de pactuar com a corrupção do que falar na impreparação para o ensino não-presencial.