Acordaram Tarde!

Como fora dos debates se assinalou a sua ausência, agora toda a gente já quer falar de Educação, a maior parte das vezes de forma oportunista ou mesmo sem ponta por onde se lhe pegue em termos de conteúdo ou novidade. Pura cacofonia, a ver se dá votos ou atenção.

Ao mesmo tempo, parece que descobriram (há pouco na RTP3, era a vez de Carlos Antunes) que a abertura das escolas aumentou brutalmente o número de contágios até aos 11 anos e que isso, com alguns dias de desfasamento, se estendeu à faixa etária dos pais dessas crianças, como se fosse algo inesperado ou imprevisível.

Os idiotas úteis do regime devem estar felizes, porque cumpriram a missão de forçar a abertura das escolas. Assim como os defensores do “isto é apenas mais uma gripe e se não for é apenas imaginação”.

Uma ADD Liberal

Não percebi se a proposta é apenas para a Madeira, se é para todo o país. Anoto que os liberais também aderiram ao linguajar do eduquês, nisso pouco se distinguindo da “esquerda socialista e radical” (a prova do algodão é o uso de expressões como “disseminação de boas práticas”, “partilha e experiências”, “potenciar o escrutínio” ou “cultura de indicadores transversais”. Em boa verdade, isto poderia ser dito pelo ministro Tiago, sob guião do SE Costa, que nestas coisas faz sempre de encoberto, com aplauso da maioria da esquerda parlamentar e belos nacos do psd da facção Azevedo/Matias Alves e eventual estudo legitimador do CNE.

Todos diferentes, mas tão iguais.

Assim a IL propõe:

· Rever, em conjunto com os agentes educativos, o regime de avaliação dos docentes;

· Estabelecer um regime de avaliação das escolas com base numa análise multifactorial;

· Rever a divulgação de rankings escolares;

· Promover a disseminação de boas práticas, com base na autonomia e na promoção de partilha de experiências entre escolas;

· Ter uma política de publicitação activa de dados em matérias relacionadas com a Educação, para potenciar o escrutínio e o debate público;

· Promover uma cultura de indicadores transversais entre as diversas instituições.

Nada De Inesperado

Mas como todos os que estão fora da escola estão de acordo acerca do que se deve passar nas escolas, não adianta sequer tentar falar sobre o assunto, até porque o António Costa, em campanha, ficou sem tempo para cuidar dos filhos do JMTavares. A Mariana Filha do Pai e Talvez Ministra também bateu palmas.

Como já escrevi há semanas, mas não chegou a sair no Público, o “contágio zero” foi sempre um mito. Na SICN, por esses dias, como não alinhei com toda a positividade do Filinto e do papá Ascenção, nem cheguei a meio da segunda intervenção, que a coisa não estava para dúvidas. Só não me apagaram a luz, porque estava em casa.

A Ómicron mudou a realidade portuguesa em apenas uma semana. E, agora, diz o professor Carlos Antunes, que faz a modelação da evolução da doença, vai ser necessário “reformular as projeções que foram feitas com base na onda gerada pela Delta ainda em dezembro”. Na faixa etária dos 0 aos 5 anos, casos aumentaram 236%.

Curiosamente, parece que os encarregados de educação interiorizaram aquelas das “aprendizagens” (uma vitória clara da economista Peralta and friends), na lógica do “os professores que tratem disso”. Afinal, até a DECO considera que a Educação é uma mercadoria ou serviço como outro qualquer.

5ª Feira

Cerca de 10.000 casos diários em crianças levantam problemas óbvios na forma de gerir o trabalho com os alunos (já disse que tenho em regra 10-20% dos alunos em casa desde o reinício da aulas), criando situações que lá se vão resolvendo, em nome da “autonomia”. Ou seja, o que correr mal é culpa das escolas e dos professores. Sobre isso, um imenso silêncio na campanha, porque, no essencial, todos estão de acordo, da direita mais liberal à esquerda mais sindicalista.

Insistem que não é um problema em termos de Saúde Pública e eu já nem me apetece contrariar essa narrativa de tão insistente que é. Mas é um problema para a Educação dos mais novos, mesmo se ninguém ganha com a enorme dramatização que certas “investigações”, feitas a meio do processo.