A Culpa É Só Dos Debates E Programas Dos Partidos?

Ouviu-se um manso bruá a propósito da ausência da Educação como tema dos debates ou da forma quase residual como foi foi aflorado. Surgiram prosas inflamadas, opiniões quase contundentes acerca do assunto. E até poderia parecer que, de fora para dentro, a lacuna poderia ser contrariada, até por estarmos no meio de uma enorme confusão nas escolas com os efeitos da pandemia, apesar da mitigação excessiva do que são considerados contactos de alto risco (nem o parceiro com quem um caso positivo passou o dia lado a lado já o é) e do total fracasso da preparação de um qualquer novo período de ensino não-presencial ou híbrido.

Mas a verdade é que o abafamento da Educação como assunto de debate parece fazer parte de um consenso que não passa apenas pelos partidos, pelos seus estrategas ou líderes. Veja-se o caso dos temas que o Público seleccionou para inquirir os líderes dos partidos que tiveram representação parlamentar em 2019:

Tanto dramatismo, tanto estudo, tanta lágrima, tanta aprendizagem assassinada e a Educação nem entra no tipo 8 das preocupações?

Mas destacam-se 400 baixas de professores no início do 2º período (0,3% ou menos dos professores em exercício?). E a Fenprof diz que há 25.000 alunos (c. 2% do total no Ensino Não Superior) sem pelo menos um professor? A sério? Fizeram as contas como? Os meus, por esta ou aquela razão, desde Setembro, ainda não tiveram uma quinzena com as disciplinas todas. Há 2 e 3 anos estive praticamente todos os períodos sem professores de 2 disciplinas na minha dt, ao ponto dos alunos nem poderem ter notas. E em 2019 não havia pandemia.

Não ando mesmo com paciência para parvoíces.

Automatismos

Mensagem para 3ª dose de vacinação às 3.09 da madrugada. Phisga-se. É para aprender a não usar o dumbphone como despertador. Como Carneiro que sou (de signo) não me incomoda ser “picado”, parecendo que isso incomoda mais as pessoas inteligentes que não o querem ser do que a mim, cobaia acéfala e submissa aos interesses da Big Pharma. Por mim, não entro nessa guerra. Não, querem, não querem. Mas não me chateiem se eu quero. Parece que isto é que é liberdade e respeito pelos outros.

2ª Feira

O PSD deixou cair a proposta do cheque-ensino e da “liberdade de escolha”, mas ela permanece no programa dos seus parceiros preferenciais numa eventual coligação de governo (IL e CDS). Hoje, o porta-voz desses interesses, surge no Público a “argumentar” a favor da ideia que em outras paragens já deu resultados comprovadamente negativos quanto à coesão do sistema educativo, falhando completamente no combate às desigualdades, como pretendem alguns “iluminados” por cá, mais agarrados aos interesses económicos do que as factos. Durante anos apresentaram-nos a Suécia como farol da “liberdade de escolha”, mas há quase uma década que foram abandonando a prática, devido aos maus resultados, até ao nível do desempenho dos alunos. Restam exemplos algo avulsos, onde se destacam as experiências em vários estados dos E.U.A. onde o “cheque-ensino” se traduziu na criação ou agravamento de guetos socio-educacionais, devido à obsessão com a redução de custos com o funcionamento das escolas.

Betsy DeVos’ school choice ideas are a reality in Sweden, where student performance has suffered

Giving Parents More Freedom To Choose Doesn’t Guarantee Better Schools

Ou, o que por cá escondem sem pudor, porque a “liberdade de escolha” também é praticada pelos órgãos de gestão das escolas privadas de topo, que não aceitam alunos “problemáticos” (em termos de aprendizagens, comportamentos, etnia, origem social, etc).

As regards the effects of school choice on segregation, a more uniform
picture emerges. In the survey of parents, a majority considered that school
choice led to high profile schools attracting certain categories of pupil and
that differences in quality between different schools was increasing.
Senior administrators in cities and suburban local authorities were of
a similar view. In the two cases specifically studied, the results also show fairly unambiguously that segregation has in fact increased.

O que poderia Rodrigo Queiroz e Melo defender para tornar menos opaca a situação vivida no acesso aos dados sobre a Educação em Portugal? Que as escolas privadas que surgem engalanadas nos rankings divulgassem os seus dados de contexto socio-económico dos alunos, quantos alunos com necessidades especiais de aprendizagem têm matriculados, qual o peso das minorias étnicas no seu corpo discente, quando cruzado com nacionalidade e nível de rendimentos. Mas isso ele não faz, nem o fazem os que tanto clamaram pela divulgação dos dados das escolas públicas, com o que concordo. O que lamento é que essa malta não tenha depois o decoro de praticar o que exigiu aos outros. Para podermos comparar realidades e perceber que o que está em causa é o “negócio”. RQM não passa de um porta-voz de um grupo de pressão que lhe paga para isto mesmo. Quando necessário, enganar a opinião pública.

A “liberdade de escolha” está no centro do pensamento “liberal”? Sim, como está a aceitação e mesmo legitimação das desigualdades (não confundir com “diferenças”), em nome da “liberdade”. Desculpem lá se remeto para algo que escrevi há mais de uma década sobre o assunto. Quando não era mesmo popular assumir-se a coisa às claras, com a troika a entrar pela porta. Quando muita gente se encolheu e voou baixinho.

ATÉ QUE PONTO HÁ LIBERDADE NA LIBERDADE DE ESCOLHA?