Dia: 29 de Janeiro, 2022
E Quanto A Juntas Médicas, Também Já Pouco Me Surpreende
Há as que funcionam num registo diferente, não deitando fora os princípios éticos na profissão, mas há outras em que a Medicina perdeu a alma, transformada em Burocracia enfadada com aquela gente que lhes aparece à frente.
A descrição que se segue, chegou-me há uns tempos, com pedido para divulgação em diferido, de novo por causa do receio de reconhecimentos. Os tempos andam complicados, mesmo se quase todos enchem muito a boca com “liberdade”. Este mundo está bom para hipócritas, cínicos e quejandos.
Saí agora de uma junta médica da ADSE. Mais uma. Não demorou 2 minutos. Nem os relatórios leram direito. É um local excelente para te sentires um farrapo, uma merda, um nada no poder de um carimbo. Dos senhores e senhoras que aceitam ter o papel de médicos nesta cena só posso dizer que, se algum dia fizeram o Julgamento de Hipócrates, esqueceram-se do facto e não o respeitam. Desculpa o desabafo…. Será o meu último processo em CGA porque me falta cerca de um ano e meio para atingir a idade de aposentação, que será aos 45 anos de serviço. E agora só quero isso: aposentar-me, esquecer as juntas médicas e a escola. Mas não esquecer os alunos.
(…)
Desta junta fazia parte um médico meu conhecido. Fez de conta que não me reconheceu. Cumprimentei-o. Olhei-o nos olhos directo. Coseu-se com as paredes quando o meu olhar lhe chamou indigno.
Às Vezes, Quase Que Ainda Me Surpreendo (Sim, Mais Um Post Sobre A ADD)
Já escrevi várias vezes contra aquela lógica do “a guilhotina é tão cruel… mas eu acho que posso torná-la menos dolorosa se for tudo mais eficaz” o que em matéria de add equivale a “este modelo é tão mau, mas se o tornarmos mais ‘objectivo e rigoroso’ vai ficar tudo muito melhor”. E então criam prosas muito rebuscadas e “ferramentas” hiper-mega-coisas para fazer devida “diferenciação” dos desempenhos, que isto de andar a desperdiçar valores não se pode.
O texto que recebi vem sem identificação do agrupamento ou escola e o pedido para não ser divulgado integralmente, por causa das mais que esperadas retaliações. Por isso, publico apenas um excerto, embora deva ser suficiente para despertar raios e coriscos por ter sido quebrado algum secretismo, que eu bem conheço o “cenário” destas coisas. Terá sido enviado pelo presidente da SADD aos avaliadores em exercício lá pela “unidade orgânica”.
(…) Assim, dado que a ADD é um ato administrativo, que está sujeito ao dever de fundamentação, solicita-se que, em relação ao(s) docente(s) que avaliou, elabore fundamentação específica no respeitante aos itens de Participação na escola e relação com a comunidade, isto é:
- Participação na construção dos documentos orientadores da vida da escola;
- Participação na conceção e uso de dispositivos de avaliação da escola;
- Apresentação de propostas que contribuam para a melhoria do desempenho da escola;
- Envolvimento em ações que visem a participação de pais e encarregados de educação e/ou outras entidades da comunidade no desenvolvimento;
- Contribuição para a eficácia das estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica, dos órgãos de administração e de outras estruturas em que participe.
Essa fundamentação, específica e detalhada, deve sustentar as classificações atribuídas, nomeadamente, as que elevem classificações acima do nível suficiente e deve ser construída por referência a elementos documentais, que os avaliados tenham indicado, que comprovem, sem ser de forma meramente declarativa ou vaga, a participação na construção de documentos orientadores, nos dispositivos de avaliação da escola, na elaboração de propostas (que se presume serem escritas ou estarem registadas, com referência temporal, em atas de reunião), do envolvimento em ações que devem estar descritas e ser localizáveis no tempo, etc. (…)
O curioso é que isto é apresentado como necessário para facilitar a análise de recursos e reclamações. Que isto da add é algo mau, injusto, deve ser mudado, mas, que raios, é para levar muito a sério e ai de quem sobreavalie seja quem for. Tudo muito justificadinho acima do “nível suficiente”. Resta saber se criaram indicadores para quantificar “osnivéu”. Comigo era logo 10 a tudo e quem não gostasse, que me “des-nomeasse” ou colocasse um processo disciplinar, para que o fel pudesse sair todo para meu divertimento. Porque em matéria de recursos, já apanhei, como árbitro d@s recorrentes, coisa mais elaborada e foi ao fundo com relativa facilidade, porque quanto mais fina a malha, mais fácil de romper.
Por Outro Lado…
… Manuel Carmo Gomes nem sempre conseguiu criar uma imagem cool. E acabou por sair das reuniões do Infarmed irritado (por muito que ele tente suavizar as coisas na entrevista à Isabel Leiria do Expresso) com aquilo que teve de enfrentar na preparação das reuniões com o Infarmed, nomeadamente as reuniões com “as senhoras ministras” (Marta Temido, Mariana Vieira da Silva)que ele, de forma elegante, apresenta “como desgastantes”. Discordando da posição que ele tomou mais recentemente, porque continuo a achar que o 1º ciclo (e talvez o 2º) deveria(m) ter esperado mais um par de semanas, há que reconhecer que foi dos que mudou de posição quando as circunstâncias da pandemia mudaram, não no sentido de se manter popular ou capitalizar seja o que for. Como ele declara, teve acesso a informação, mais nada.
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Covid-19. Carmo Gomes: “Não fechar logo as escolas em janeiro de 2021 foi o erro maior. Teve consequências em termos de mortes”
O título refere-se à vaga de Janeiro de 2021, quando o governo cedeu mais à pressão de meia dúzia de articulistas inflamados do que aos aconselhamentos científicos.
Sábado
A situação pandémica trouxe-nos para o primeiro plano figuras que a maioria desconhecia. Uns com maior capacidade de comunicação e clareza na exposição das suas ideias, outros mais agarrados a modelos matemático e nem sempre com a capacidade de simplificar o discurso. Noves fora nada, quase nenhum acertou plenamente fosse no que fosse, mas a “imagem” transmitida parece ter trazido mais crédito a uns do que a outros, mesmo quando mudaram de posição acerca de estratégias, fazendo piruetas não completamente justificadas pelos factos.
Entre os que melhor transmitiram uma imagem de calma, com explicações que nos pareceram claras e ponderadas esteve Pedro Simas. O problema é que a humana tentação de fazer creditar a imagem é quase impossível, quando as ofertas aparecem. E o discurso vai-se moldando, nem sempre às circunstâncias da pandemia, mas às oportunidades e aos convites. E quem antes o metia no saco dos outros, agora já o endeusa porque é “positivo”, “optimista” e participa no anúncio da “endemia” (palavra que a maioria que a usa, a desconhecia ainda mais do que a pandemia) E não sei se a pessoa ganha arrogância, se ela sempre lá esteve, só que disfarçada com o ar de última batata frita do pacote, após uma ida ao ginásio e um banho em Paco Rabanne.
(Expresso, 28 de Janeiro de 2022, p. 12)