Dia: 24 de Fevereiro, 2022
Uma Sugestão Para Todos Os Que Acham Que A Rússia Tem “Direitos Históricos” (Ou Algo Assim) Sobre Quase Todo O Território da Ucrânia
Coberturas
Uma hora ou pouco mais a passear pelos canais noticiosos disponíveis no cabo. Um pouco a ouvir o bom e velho Boris a falar bem (que assim se vai safar do escândalo das festarolas), outro tanto a ver enviados especiais a fingir que estão na guerra do Golfo (a de 90) e a maior parte do tempo, curiosamente, a ver a Al Jazeera. Até em matéria de opinião, revela um interessante equilíbrio.
Just like America’s military adventures, Russia’s war of choice will wreak havoc way beyond its target.
(…) Clearly, Russia has mastered Washington’s methodical fakery and trickery. But it does not seem to have learned the lessons from its follies and failures.
Indeed, neither power has learned from their miserable mistakes in Afghanistan, Iraq and Syria.
Old habits die hard. (…)
Rewind
Por causa daqueles alertas irritantes do Academia.edu, sempre a perguntar pela 42ª vez se uma determinada publicação é nossa, para acrescentar ao nosso perfil e sugerir que optemos pela versão paga do serviço, apareceu-me o prefácio que fiz há 10 anos para o volume O Desencanto dos Professores do João Ruivo. Era, com o pretexto das prosas do JR, um breve exercício de História quase imediata sobre a docência nos governos de José Sócrates. Recupero-o a bem da memória do que foram em especial os anos da maioria absoluta, para eventual proveito dos que não passaram por esse contexto ou o fizeram em posições de menor desconforto.
Those Were the Days: Educação e Conflito (2005-2011)
Todos sabemos, ou julgamos saber, como deve ser e o que deve ter uma escola pública que promova a aprendizagem efectiva dos seus aprendentes e o bem-estar e a profissionalidade dos seus formadores.
Todavia, há um grave problema que introduz toda a entropia nas escolas: é quando os governos se deitam a fazer contas sobre quanto custa garantir esses direitos. Sobretudo, quando a classe
política sabe que o investimento em educação só produz efeitos a longo prazo, o que não se compagina com a gestão do calendário dos seus curtos ciclos eleitorais. (João Ruivo, Março de 2010)
Os escritos compilados neste volume por João Ruivo são contemporâneos de um dos períodos mais conturbados da História da Educação em Portugal e certamente daquele em que foi maior a ruptura entre a classe docente e a tutela ministerial.
Entre 2005 e 2011 assistiu-se a um prolongado braço de ferro entre o Ministério da Educação e os professores como consequência directa de um alegado ímpeto reformista que, em especial durante o mandato da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, pareceu tomá-los como o maior entrave à melhoria do desempenho do nosso sistema educativo e quase como os principais (únicos) responsáveis pelo insuficiente desempenho dos alunos portugueses.
Entre 2005 e 2007 assistiu-se a um avanço, que parecia impossível de travar, da máquina político-comunicacional de um governo com uma agenda claramente destinada a enfraquecer a todos os níveis (simbólico e material) diversos grupos profissionais a que qualificou como corporativos (professores, enfermeiros, juízes), enquanto deixava incólumes outras corporações bem mais poderosas ou mal as beliscava.
Durante anos de informação e contra-informação, os docentes foram sendo sucessivamente presentados como absentistas relapsos, profissionais incapazes de aceitar uma avaliação de desempenho, funcionários caros para o Estado e com uma carreira privilegiada, seres insensíveis aos resultados dos seus alunos e de tudo mais um pouco, não sendo difícil encontrar notícias, artigos de opinião, intervenções de responsáveis políticos que ilustrem todos estes aspectos de uma inédita barreira lançada contra uma classe profissional em Portugal na comunicação social e através dos mecanismos de propaganda do poder executivo.
Durante 2008 e 2009 assistiu-se à reacção dos docentes, inicialmente de forma espontânea e inorgânica, só em parte controlada pelos aparatos tradicionais de enquadramento da contestação, surgindo uma inédita pluralidade de vozes e discursos onde antes parecia existir um afásico cinzentismo que deixava o palco apenas aos representantes sindicais. A mobilização imensa que foi conseguida surpreendeu quase todos, deliciou alguma comunicação social e assustou os aparelhos políticos instalados, tanto os do poder como os do contra-poder, que se equilibram na sua simetria cenográfica, desde que nenhum terceiro elemento surja na equação. E foi aí que os professores inovaram, com uma mobilização em rede que escapou durante algum tempo às malhas e armadilhas que foram sendo lançadas. Porque multipolar foi complicado reagir à sua irrupção. Ao contrário do que parecia ser esperado de uma classe profissional apresentada como acomodada, conservadora e desunida, os professores reagiram. E reagiram de uma forma também inédita, mobilizando-se de acordo com mecanismos paralelos aos tradicionais e institucionais. Muita gente que até então se limitava a exercer a sua profissão com dignidade, sentiu-se justamente ofendida e reagiu num misto de tradição e inovação. De tradição, porque o fez com a palavra e com a saída para a rua, mas também de inovação porque o fez usando os novos meios de difusão de informação e opinião.
A circulação em rede das informações, seja por email, sms ou recorrendo aos blogues, ganhou uma dimensão que permitiu ampliar muito o contacto entre docentes de todos os pontos do país, dar a conhecer iniciativas que, de outro modo, ficariam circunscritas localmente, para além de quebrar o sentimento de isolamento e desânimo que muitos começavam a sentir. Tudo isto visava quebrar a barreira erguida na maior parte da comunicação social tradicional que, globalmente, funcionou durante algum tempo como aparelho comunicacional quase acrítico das posições ministeriais.
Estes foram tempos de mágoa e reacção, de emoções à flor da pele, de exaltação, de contra-ataque. Nem sempre foram propícios à ponderação e à reflexão calma, mesmo se crítica. A urgência de descrever os abusos, denunciar, criticar, suplantou quase sempre uma atitude de maior distanciamento que permitisse uma análise que integrasse os acontecimentos do momento em tendência de média e longa duração. Não foi raro preferir a apressada teorização da conspiração do que a sua fundamentada desmontagem.
(…)
Entre 2010 e 2011 viveu-se o período de acordada pacificação das escolas, fruto da mudança de clima política com o fim da maioria absoluta do PS de José Sócrates e a necessidade de aceitar uma qualquer forma de diálogo e entendimento com quem pudesse ajudar a domesticar um dos focos de maior oposição durante o mandato anterior. Mudou-se a ministra, encenou-se uma suavização das políticas, assinou-se um acordo com os representantes dos docentes, fizeram-se promessas implícitas e anunciou-se que a paz estava aí, quando nem de uma trégua se tratava. Tudo continuou a desenvolver-se como antes (avaliação do desempenho na enésima simplificação de um mau modelo, gestão escolar cada vez mais hierarquizada e dependente de confianças e clientelas pessoais, reorganização da rede escolar com critérios meramente estatísticos), apenas com uma mudança de ritmo.
(continua)
Português (6º Ano): Aulas Nº 90 E 91
Escrevi qualquer coisa no sumário sobre o “Ulisses”, mas a maior parte do tempo – a partir de pedidos dos alunos que eu, além de flexível, sou dialogante – foi a mostrar a evolução das fronteiras no leste euroasiático, a rede de gasodutos e alguns paralelismos com a Europa Central dos anos 30 do século XX. Alunos interessados, alguns nem tanto, perguntas pertinentes, respostas de professor que também é o de História. Não irei assinalar a transversalidade ligadas à realidade actual em qualquer grelha, nem há nenhum DASSE, desculpem, DAC, onde isto esteja previsto. Não conto fazer monitorização, mesmo se na 2ª feira seja previsível um follow-up (temos Cidadania e HGP apenas na 3ª, que é dia de “tolerância”), que continuação em inglês é mais cosmopolita. Falámos em tom normal, nem sequer perturbámos qualquer vizinhança. Não sei se, à parte este àparte, sem outro registo, se deva considerar que aconteceu mesmo.



5ª Feira
A guerra de tão anunciada, aconteceu como seria expectável que acontecesse. Os sudetas vão ser anexados e haverá uma troika de Chamberlains a negociar um apaziguamento. O Anschluss está de boa saúde, só faltando um plebiscito. Não se trata de equivaler Putin a Hitler, apenas as estratégias de redefinição das fronteiras da Grande Alemanha e da Mãe-Rússia.