Uma coisa que me diverte naquelas discussões muito bizantinas e/ou escolásticas sobre as pedagogias “activa” e a metodologia de “projecto”, com vista à “construção do próprio saber” pel@s alun@s, é que os chavões querem dizer tudo e nada ao mesmo tempo. Porque se podem perfeitamente aplicar apenas ao que algumas pessoas conseguem conceber nos seus trejeitos, mas também ao seu contrário.
Se não, vejamos:
Entreguei um texto, correspondente a um excerto de cinco páginas, da versão adaptada pelo PNL da obra Robinson Crusoe aos meus alunos e pedi-lhes que o lessem de forma “autónoma”, ou seja, sem a minha intervenção a guiá-los ou condicioná-los. Uma leitura em silêncio, interiorizada, no sentido de uma aquisição significativa do seu conteúdo.
Em seguida, apresentei-lhes o “projecto” de pesquisarem de forma “activa” nesse texto a resposta a vinte questões de um questionário, onde puderam “construir o seu saber” acerca daquele excerto, pesquisando informação, novamente de modo “autónomo”, no dito cujo excerto.
E depois, após todo esse trabalho, apliquei os princípios do MAIA e fui monitorizar o resultado dos “projectos” de cada um@. Em seguida, dei-lhes o respectivo feedback em forma de uma avaliação qualitativa baseada numa parametrização quantitativa de cada intervalo de desempenho, destacando onde poderiam ter cumprido melhor os objectivos desejáveis e que aprendizagens revelaram ter maior dificuldade em adquirir no plano da leitura e compreensão do texto e da expressão dessa mesma compreensão num processo de resposta aos estímulos recebidos por mim através do questionário. Reforcei a necessidade de consolidarem as aprendizagens não realizadas com uma nova leitura do excerto e a correção dos equívocos cometidos.
Dito assim, nem parece que apliquei apenas uma ficha de trabalho sobre a leitura do Robinson Crusoe e a classifiquei, pedindo para eles corrigirem as respostas erradas, pois não?
Dito assim parece simples e antiquado. Dito em forma de paráfrase verborreica até passa por “inovação”. Em grande parte, é o que anda por aí a ser vendido em formações, como se não fosse unguento da avózinha
É isso mesmo.
Só faltou as TIC.
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Pois… Creio que muito boa gente pensa que, atualmente, ainda estamos naquela fase do professor passar 90 minutos a falar, enquanto o aluno ouve.
Alguns professores fazem-no? Sim. Despejam conteúdos para cima dos alunos e já está.
Dito isto, a verdade é que o professor não é apenas porra de ponte ou facilitador do que quer que seja, sobretudo quando os alunos não sabem coisa nenhuma e não dominam competência nenhuma, passe a hipérbole. O meu caso será extremo, mas lido com alunos que são incapazes do que quer que seja que se lhes pede. Numa turma de 19, um veio às aulas 4 vezes; outra foi institucionalizada; outra vai a uma e falta a três; 3 vão a algumas aulas porque a CPCJ os quer entre quatro paredes; OITO têm adaptações ao nível da avaliação (e deduzo que mais estão a caminho) e, ainda assim, não chegam à dita positiva. O último teste (coisa arcaica) a Português foi de escolha múltipla: A ou B. E não houve uma positiva.
Isto é trágico! Além das dificuldades que os alunos manifestam, desconhecem verbos como “estudar”, “trabalhar”, etc.
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Vai-me desculpar, mas a culpa é toda sua: não foi capaz de motivar os alunos, não soube “desconstruir” os saberes e torná-los atrativos, não conseguiu adaptar as suas estratégias ao contexto sócio-coiso dos alunos, não utilizou metodologias ativas e atrativas, não foi capaz de contar anedotas sobre o tema por forma a captar a atenção dos meninos…
Castigo: vai ter que ir a 500 horas de formação, sobretudo para se flexibilizar, adaptar, contorcer e acabar por ser obrigado a dizer que se tinha enganado. Afinal até corre tudo bem e será obrigado a dar notas muito boas.
Além disso, vai ser sujeito a quotas: só pode dar uma negativa por turma e, isto apenas se a pérola não ficar retida por causa dessa nota. De outra forma, terá que justificar muito bem porque é que não conseguiu que a criatura tirasse positiva.
Sem exageros, é isto que habitualmente se passa por aí.
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Ela já está de castigo, lol.
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Tal e qual, inteligente, é a realidade.
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Curiosamente, parece-me que é mais comum no Secundário e – heresia! – em alguns “Superiores”.
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“Construção do saber” – construam-me, porra !
A dona Rosa também avançou com o seu “projecto” e, dada a proximidade do 25 de Abri, aplicou – à letra – os princípios do MAIA . Um excerto de duas página do Avante! contando a história da gloriosa madrugada e os alunos baralharam tudo : ” o sr. Salgueiro MAIA prendeu o sr. Marcelo por este passar o seu rico tempo a tirar selfies em vez de acabar com a guerra colonial”
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Aqui pela escola parece haver alguém, possivelmente sem grande carga letiva, encarregado de escrutinar os calendários à procura do “dia de/da…”. A ânsia de se fazerem projetos e projetinhos é de tal ordem que agora tudo já serve. Amanhã vai ser o dia mundial da tuberculose e aposto que vou receber um email daqui a pouco a sugerir que os alunos e professores façam um esforço para, nesse dia, tossirem fragmentos de pulmões para assinalar a data.
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Os professores são agora os mal comportados!!
O aluno não aprende, invente uma estratégia, dizem-nos, ou, mais fácil, dê – lhe a nota e não se fala mais nisso!
Ser sério está fora de moda…
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