Da Imaginação

Estava a ler uma curiosa citação colocada por uma figura destacada do nosso iluminismo educacional e a pensar que se há algo que distingue as pessoas com imaginação é demonstrarem-na na sua acção. Ou será que o Picasso alguma vez mandou outros fazerem os seus quadros? Acaso Camões definiu as regras a seguir na sua obra e mandou um escriba aplicá-las e fazer os sonetos que temos como seus? Em boa verdade, quem imagina algo de novo, criativo, de visionário é conhecido por isso, não por ter derivados a vulgarizar a fórmula de forma repetitiva. O estranho é que por cá, passa por ser “inovação” mandar repetir o que se acha que “imaginou”, mas mais não é do que, quantas vezes, isso mesmo uma repetição, tradução ou adaptação, de algo lido ou ouvido algures. Em cima dos ombros de gigantes, dirão. Sim, dos que verdadeiramente imaginaram algo novo e permitiram ir mais além, não ficar pela mera replicação.

Não nos deixemos enganar por títulos, graus, certificações. Quem inventa algo novo, só manda repetir quando passa para a fase do negócio e da promoção do consumo de massas. A imaginação, ao replicar-se em cascata, torna-se rotina, automatismo. Comércio.

Minha imaginação é um Arco de Triunfo.

Por baixo passa roda a Vida.

Passa a vida comercial de hoje, automóveis, camiões,

Passa a vida tradicional nos trajes de alguns regimentos,

Passam todas as classes sociais, passam todas as formas de vida,

E no momento em que passam na sombra do Arco de Triunfo

Qualquer coisa de triunfal cai sobre eles,

E eles são, um momento, pequenos e grandes.

São momentaneamente um triunfo que eu os faço ser.

Álvaro de Campos/FP

Todos Nos Dão Lições

Há alturas em que roça a abjeção o modo como alguns se acham, a partir de qualquer ponto, no direito de tecer juízos de valor generalistas – a tal “atribuição colectiva de culpa” de que falava o agora muito ético presidente da assembleia da República – acerca do trabalho dos professores. Desta vez, num comentário no fbook, alguém que escreve sob o manto de um “centro de explicações”, afirma que “enquanto os professores NÂO SAÌREM DA CAIXA” (sim, em maiúsculas), de pouco adianta “filosofar” sobre a prática pedagógica. O destempero vinha na sequência de uma citação de António Nóvoa. A criatura em causa, não sei se administradora, gestora ou qualquer coisa no “centro de explicações” acha por bem culpar de forma assim geral “os professores”, não percebendo eu que pessoal formará os quadros do dito “centro de explicações”. provavelmente, não será com “professores”, mas com “mentores”, “facilitadores”, coaches ou qualquer outra variedade superior de profissional. Se são “professores” devem ser excepções desencaixotadas, que admitem este tipo de destratamento ou então partilham-no. como é verdade acontecer dentro da própria classe docente, mas é sempre bom encará-los de forma directa e conhecer-lhes o nome.

“Sair da caixa” poderia ser, por exemplo, ir além do negócio, não amesquinhar terceiros de forma abusiva. Em nenhum momento me passaria pela cabeça considerar que este comentário representa o pensamento dos “centos de explicações” no seu todo. Até pode ser partilhado por mais gente, mas quero acreditar que a idiotice ainda não é geral. Há professores que saem da caixa, outros que nela permanecem. Como há cérebros que podem vivos ou não, como o gato do senhor Schrödinger, até ser possível abrir-lhes a caixa.

Sábado

Nada como ver como funciona a avaliação do desempenho dos políticos para termos excelentes exemplos acerca do funcionamento do mundo fora das escolas. Medina, o derrotado inesperado vai para ministro das Finanças e aparece a dizer que o Orçamento de Estado, que António Costa repetiu ser o feito em 2021, é “seu”. Sim, pode ser uma espécie de declaração de identificação com as opções, mas na boca de quem é, soa mal, a oportunista e postiço, como quase tudo o que lhe sai da boca. Já o seu antecessor, sai do governo directamente para vice-reitor do isczé, o tal que tem uma “reitora”, escolhida pela maioria do seus pares depois de recusar submeter-se ao processo regular de avaliação do seu desempenho. Há quem fale nos males do populismo quando são criticadas as práticas da democracia, porque a degrada, esquecendo que a degradação começa com este tipo de “desempenhos”, de gente que faz carreira em cima do desrespeito pelo que exige aos outros. Eu acrescento, porque me foge o teclado para a verdade e alguma arrogância, gente medíocre que se catapulta para os píncaros com base no seguidismo, na amnésia selectiva, quando não apenas na pura e simples “verdade alternativa”, sempre que lhes convém.