O pós ZZ Top.
Dia: 3 de Maio, 2022
Mas Havia Dúvidas?
Um Dia Destes Ainda Me Apanham A “Rubricar”
Aula de Cidadania em transversalidade com HGP (uau!), com trabalho colaborativo (antes era em grupo), de pesquisa de informação para produzirem murais no padlet, usando os novos computadores chegados à escola já este ano. Pedi que trouxessem um por “equipa colaborativa” e à segunda tentativa consegui que quase todos os grupos (respeitando quem quis ficar bem acompanhado consigo mesm@) funcionassem e assim “construíssem o próprio saber”. Com 28 é para malta com barba rija.
Claro que não lhes disse nada destas coisas, para não os assustar.



O “Preconceito Invertido” Não É Preconceito Na Mesma?
Para que se esclareça, apenas estou apenas a traduzir e adaptar o conceito de reverse discrimination ou, mais longe, o de reverse psychology e não a ser insensível em termos de orientação de género, ok? É que os tempos andam agrestes e eu com pouca paciência para medíocres polícias de linguagem.
Então é assim… como se tem visto, a História anda sob forte escrutínio e revisionismo (de novo, o termo também se aplica a revisões que venham das teorias alegadamente “progressistas”) e os manuais escolares tornaram-se um campo de batalha para a aplicação das novas teses que recuperaram a necessidade de proclamar fortemente o remorso do “homem branco” (leia-se, europeu) quanto ao que fez durante a “Expansão” europeia dos séculos XV-XVII.
O que é matéria do 8º ano, cujos manuais têm período de novas adopções no final deste ano lectivo. E alguns já chegaram às escolas e são uma coisa peculiar de observar, porque tentam conciliar as novas-velhas teses que defendem que cada matéria deve ser abordada a partir de um “problema” ou “questão” com a tendência do politicamente correcto. Atenção, as maiúsculas usadas não são minhas.
Um deles começa por perguntar “Porque é que os Portugueses quiseram explorar o Mundo?”, o que é um certo exagero, porque “os Portugueses” estavam-se globalmente nas tintas para “explorar o Mundo”. A seguir questiona “Por onde é que os Portugueses começaram a sua Expansão?, referindo a conquista de Ceuta e o “reconhecimento ou redescobrimento” dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, antes de passar, duas páginas adiante, a inquirir “Como eram as populações africanas, ameríndias e asiáticas”, assim tudo ao molho, como se “os Portugueses” tivesse ido em voos low cost num fim de semana a vários pontos do mundo, em visita turística de exploração cultural. Mas mais adiante é que chegamos ao cerne da problemática com questões como “Os Portugueses foram bem recebidos na Índia?” a que @s autor@s do manual em causa têm a capacidade de responder sem atropelar demasiado a factualidade que no resta das fontes disponíveis: “tiveram uma honrosa receção pelo Samorim de Calecute”, mas “tiveram a sentir várias dificuldades de penetração no oriente devido à resistência dos chefes hindus e á concorrência comercial dos muçulmanos”. Afirmações no fio da navalha e não sei se validáveis pela escola boaventura do pensamento pós-colonial.
Para abreviar, após passar pela expansão castelhana (eu sou dos que gosta de manter esta designação, só para chatear), vem a questão essencial “Os Europeus trataram bem os Africanos e os Índios?” e, surpresa, constata-se que se deu uma “submissão violenta de povos”, que é algo que até então deve ter sido absolutamente inédito. Seguem-se três parágrafos panfletários que não é por dizerem o que dizem, mas sim pela forma como surgem num livro de História que em vez de descrever de forma objectiva o que sabemos sobre o tema da escravização (desde as projecções sobre os números do tráfico negreiro, por exemplo) prefere culminar (após destacar termos como “genocídios”, “saques” e similares) assim:
É comum ouvirmos nos meios de comunicação social notícias de violação dos direitos humanos, de atitudes racistas, de exploração da mão de obra ou de redes de emigração ilegal e de escravatura. Portugal não é exceção a esta realidade. Temos de perceber a origem destas atitudes racistas e combatê-las para aceitarmos um Mundo em que [não ficaria melhor “onde”?] somos todos iguais e todos diferentes.
A ver se nos entendemos: eu concordo com o que está escrito, mas não sei se é matéria de manual de História doutrinar deste modo tão básico (não seria função da disciplina de Cidadania?), em vez de descrever o que se passou. A História como lição é algo que não recuso, mas ensiná-la não é propriamente isto. Porque uma coisa é um panfleto, outra um livro de História, mesmo que seja do Ensino Básico. Porque, se é para sermos “justos” com todos os abusos de poder, militarismos e escravizações, vamos ter de rever tudo desde a “origem”, que não se encontra nos séculos XV-XVI.
Calma, que eu nem culpo @s autor@s porque tenho a certeza que isto é uma espécie de imposição dos tempos, com validação editorial, se é que se quer passar o crivo do tal policiamento intelectual a que estamos sujeitos, a não ser que queiramos ser apelidados de racistas, pró-esclavagistas e imperialistas, sem dó nem piedade (por vezes, por quem “revê” outros genocídios ou massacres colectivos, bem conhecidos e até recentes). Só que isto é tão aceitável como aquelas tiradas de há 100 anos sobre a “acção civilizadora dos Portugueses”. Isto é apenas o reverso de uma má moeda. não é moeda nova e mais valiosa. É uma espécie de compensação, como se esta asneira compensasse as asneiras de outrora. E quem não alinha, está tramado.
E a coisa continua assim por outras passagens do manual – há uma parte que começa com a questão “O que é que os países europeus fizeram para enriquecer cada vez mais?”, o que é uma formulação generalista que distorce claramente o que se passou) em causa (vi um outro e as coisas não estão muito diferentes), como se fossem uma espécie de tutoriais para o arrependimento global dos “Europeus” e especificamente dos “Portugueses”.
Desculpem-me, mas se é para isto, prefiro não adoptar manuais.
3ª Feira
Soluções apressadas dão cachorros estrábicos. em especial, se consultarem os do costume, aquelas “lideranças” que em boa escala parecem desconhecer aquilo que ajudam a aplicar. Acontecem coisas muito estúpidas quando não se acautelam os efeitos colaterais. Claro quer tudo poderia ser “mitigado” com um pouco mais de conhecimentos ou, não almejando tanto, de simples equidade e decência.
A imagem foi colhida, ontem à noitinha, no mural do Ricardo Santos.