De Volta Ao Frango Esfriado

Desculpem-me, mas vou voltar a um naco da prosa do ministro a perorar aos jovens, para exemplificar no que dá pensar-se que se está a falar muito bêim, mas no fundo estar-se a dizer uma coisa que nem é vitela, nem é carrrapau.

Ora leiamos:

O ministro da Educação advogou que o melhor instrumento contra a desinformação “é ler, ler e ler, porque é no confronto entre várias leituras que se avalia o que lê no momento bate certo com outras leituras já feitas, ou se é uma novidade que coloca em causa essas anteriores leituras.

Se o que foi dito é isto e não tem mais nada a completar, não passa de uma declaração cujo sentido essencial tende para a irrelevância em termos lógicos e substantivos.

Vejamos: se aquilo que lemos não bate certo com outras leituras já feitas e é uma “novidade que coloca em causas essas anteriores leituras” podemos ter pelo menos as seguintes possibilidades:

a) é um avanço nos nossos conhecimentos, um salto nos nossos conhecimentos, uma “mudança de paradigma”, uma verdadeira “ruptura espistemológica” e isso pode ser bom, como por exemplo podemos achar da teoria da relatividade do tio Alberto.

b) é um disparate completo, que não bate certo com nada, sendo apenas uma atoarda que coloca em causa essas anteriores leituras, mas sem qualquer fundamento.

c) é uma alteração da nossa perspectiva sobre a realidade, uma “mudança de paradigma”, um incentivo a novas práticas, impensada até então, mas isso pode ser mau, como por exemplo podemos achar das teorias daquele Adolfo de má memória.

O que é importante, perante estas leituras “desconformes”, “alternativas”, “radicais”, que nos confrontam com verdades estabelecidas é termos a capacidade para avaliar, mesmo que não seja de modo muito profundo, da “validade” ou “bondade” do que surge como “novidade”. Se o que lemos ou ouvimos é a), b) ou c).

Repito-me muito a este respeito: “novidade” não significa necessariamente algo bom, positivo ou vantajoso. Pode ser um disparate ou algo horrivelmente mau. Não nos chega “ler, ler, ler”, porque muitos apoiantes da Terra Plana ou do Nazismo leram muito. A questão não esteve na “quantidade” do que leram, mas do uso que deram a essa leitura, da “qualidade” do que extraíram do que leram.

Ora, avaliando por este tipo de patacoadas, mesmo estando a minha opinião disponível para críticas e revisões, quer-me parecer que há quem ande por aí e fale, fale, fale, fale muito, mas diga muito pouco de válido.

O Shôr Ministro Anda Muito Baralhado

O conjunto das declarações é um emaranhado confuso de ideias que dizem algo, o seu contrário e algo meio atravessado. O curioso é que, querendo a “voz dos alunos” e “ouvindo as escolas”, para além de elogiar o “espírito crítico”, o que ele mais quer é que os professores se calem se não for para seguirem a sua cartilha, datada no tempo e muito curtinha em termos de “pensamento”.

Foi só ficar mais à vista e lá começou logo a tropeçar de cada vez que quer parecer algo mais do que…

“Não vale a pena falar de cidadania na escola se a escola for um espaço de silêncio. Queremos a voz dos alunos na construção da política educativa”, acrescentou.

Quando se noticia que “O ministro da Educação destacou então a importância do debate de ideias, do confronto de opiniões e da pluralidade em torno do que se propõe” dá uma certa vontade de rir, pois se há coisa que ele não aprecia são críticas incisivas, pois começa logo com queixinhas acerca de “ataques pessoais” e coisas assim. “Debate de ideias”, “pluralidade”? Só se for para os outros. Basta ver como só gosta de andar em ambiente fofinhos.

(claro que a brigada da laca bate palmas, vibrando de emoção…)

E Wikipédias Só Com Polegares?

Este homem foi traumatizado por alguém, algures no seu percurso escolar. O que não deixa de ser caricato, atendendo à sua micro-área de especialização. Eu, que não tenho quaisquer pergaminhos ou linhagens académicas – faço parte dos 10% (ou menos na altura) que seguiram estudos com os pais apenas com a Primária – não tenho este tipo de evidente complexo de inferioridade, disfarçado com pacotes de cidadania aos molhos.

Posição transmitida por João Costa na sessão nacional do Ensino Básico do Parlamento Jovem.