O Culto Especializado Em Especialistas

Todos juntos, devem ter dado umas zero aulas o Básico ou Secundário desde a viragem do milénio, incluindo o elemento do Conselho de Escolas, que é director desde 1998 (em dois locais), salvo erro. Quanto ao resto… nem me lembro se chegaram a ver uma sala de aula por dentro desde que lá entrei como professor.

Não é só a classe docente que envelhece. Há quem acrisole.

Maia For The Masses

Os manuais da Leya trazem uma cartilha do grande guru da avaliação-por-rubricas-agora-também-por-critérios, que pretende ensinar os professores a “avaliar e aprender numa cultura de inovação pedagógica”, sendo que por “inovação pedagógica” se entende o que tive de saber nos tempos da minha profissionalização, em finais do século XX (algo que também já teve a sua versão em 2008 para o “mercado brasileiro”), admito que com um pouco mais de qualidade gráfica e sofisticação referencial. Nada com baralhar e tornar a vender, dizendo que as cartas são novas. São 79 páginas produzidas em tiragem de best-seller do New York Times para que ninguém tenha desculpa quando os senhores inspectores da flexibilidade e inclusão aparecerem a inquirir sobre o estado de aplicação do 54 e 55, mais conexos, na vossa “unidade orgânica”.

Ouvido Por Aí

“Eu? Eu cá não vou fazer cá nenhum auto-teste. Depois ainda me obrigavam a ficar em casa e não posso dar aulas.” Bem lhe tentavam dizer que tinha estado em contacto próximo com casos positivos, mas o “nããão” ia-se alongando, em convicto profissionalismo, que isto da zaragatoa mete medo. Ainda se fosse introduzida perto de algum órgão essencial à vida…

5ª Feira

Parece continuar a existir uma insanável incompreensão em quem aconselha ou toma medidas teoricamente para combater a “escassez de professores”, acerca das razões que levam muita gente a sair e a não querer voltar. Ou a não querer andar a tapar buracos como há 30 ou 40 anos se fazia. O símbolo maior dessa incapacidade cognitiva (para ficarmos assim) foi aquela coisa do “voluntariado” que o actual ministro anunciou, pensando estar nalguma missa lá na paróquia a pedir aos fiéis para se oferecerem para arranjar o telhado do baptistério. Quem não compreende as origens e razões da desafeição, tenderá sempre a falhar qualquer tentativa de a remediar. Como aquele médico que insiste em curar uma fractura na perna esquerda com um curativo na ponta do nariz. João Costa não compreende que quem saiu não quer voltar e que, com as condições de carreira que tem, a maioria dos que estão perto da reforma só quer ver o momento de sair. E não existe volta a dar, enquanto a teoria for a de que o grande desígnio deve passar por trazer de volta quem saiu ou desistiu (voltaram 116 dos 5000 que tinham sido excluídos da contratação, o que até deveria ajudar a abrir os olhos, mas nem isso deve ter funcionado) e não em tentar manter quem está, não estando sempre a pedir mais e mais, sem dar nada em retorno, nem o produto de furtos passados. Porque antes de conseguir arranjar professores em regime de “mais vale isto do que nada”, seria boa ideia tentar desacelerar a hemorragia.

Nada mais triste do que ter ao mais alto nível do ME um exemplo renitente de aprendizagens não realizadas que, para agravar, insiste em não as querer recuperar.