Era Da Minha Escola

16 anos, 9º ano, nunca o tive como aluno, conhecia-o dos corredores. Muito haveria a dizer sobre as culpas do que se passou mas, como sabemos, por cá, antes de acontecer, não dava para prever, depois de acontecer, não vale a pena. A aliança local entre um marialvismo serôdio e o oportunismo político (ainda me lembro da proibição de largadas em tempos mais revolucionários) continuará forte e, mais desculpa, menos explicação, tudo continuará na mesma, como sempre continuou em outros anos, com outras mortes. O curioso é que há quem promova, apoie ou não se oponha a estes “espectáculos”, mas depois ande por aí a perorar sobre práticas e “projectos” de cidadanias e desenvolvimentos. Em nome da “cultura local”?

Jovem de 16 anos morre em largada de touros na Moita 

Os Exemplos “Lá De Fora”…

… de que alguns cronistas, especialistas, presidentes disto e daquilo gostam tanto, em nome da “liberdade de escolha”. O que não dizem é que a experiência só é boa para alguns.

Lisa Pelling explains how ‘freedom of choice’ has wrought a vicious circle of inequality and underperformance.

Domingo

Uma coisa é estabelecer uma relação proveitosa entre Escolas e Familias, entre os directores de turma e encarregados de educação, outra aceitar ou incentivar uma porosidade imensa, em que os limites e fronteiras se esboroam e existe uma já vale tudo nos contactos entre alunos, professores e familiares. As culpas não são unívocas, mas é óbvio que são maiores da parte dos adultos que não parecem perceber que uma relação saudável em regime de 24/7 talvez possa estabelecer-se a 2, quiçá em modelos familiares a 3, 4, 5, mas é praticamente impossível a 20-25-30 ou o que calhar. Se queremos regressar à “normalidade” pós-pandémica (mesmo se a pandemia continua), isso não pode ficar-se apenas pelo deixar a máscara e voltar a ficar outra vez ao portão das escolas, entupindo entradas e saídas, em conversas de ocasião. Voltar à normalidade também é parar com os excessos que marcaram o período não presencial em matéria de contactos escola-famílias. Já expliquei que não uso o WhatsApp para contactar alunos ou encarregados de educação, limitando-me ao mail e ao telefone institucional da escola, salvo circunstâncias muito excepcionais. Nada me obriga a algo diverso, desde que continue a cumprir com os meus deveres. Por isso, não telefono a pedido ou a gosto, assim como envio as informações relevantes para todos os (teoricamente) interessados. Não sou dado a apaparicanços em busca de simpatias e validações externas, mas não deixo de dar as informações que acho indispensáveis. No período “anormal” da pandemia ouvi e li de tudo um pouco, desde que era excessivo nos meus mails semanais até que me recusava a receber encarregados de educação (o que era a regra, então, não apenas nas minhas paragens), passando pelo caricato de me acusarem de “assédio” (!) porque comuniquei que NÃO faria contactos a partir do meu telefone pessoal em horário não laboral.

Por isso, acho que muito do que vem na peça do Expresso sobre o “novo” modo de transformar a vida dos professores num consultório aberto a toda a hora também resulta do receio em se ser pouco simpático e receber queixas por marcar as fronteiras com clareza. Tal como as regras na sala de aula devem ser definidas com clareza em devido tempo, com a margem indispensável para episódios excepcionais, também as regras dos contactos entre professores e encarregados de educação (ou outros familiares dos alunos), só ganham se não forem arbitrárias, confusas ou laxistas. Por vezes, há quem só colha aquilo que semeou. Eu prefiro colher alguma incompreensão, mas no horário adequado. E quanto a pressões, já se sabe que sou pouco “impressionável” e que tenho dois cotovelos, mesmo em termos digitais.