Dia: 24 de Maio, 2022
Quando Se Especifica Uma Dezena de Medidas “Urgentes”, Já Sabemos Que Vai Ser Coisa Para Durar Um Mandato, Até Nos Perdermos No Caminho
O discurso a armar-se em sofisticado e biocoiso é capaz de cair muito bem em certos directores teip que se deslumbram com as próprias “inquietações” e dificilmente se sentem mal longe das salas, mas não passa de uma enorme verborreia armada ao pingarelho que não se traduzirá em nada com efeitos sensíveis ou “urgentes”.
O estudo todo fica por aqui:
Sentes-te Mal ? A Culpa É Tua!
Mesmo que exista alguma “evidência” subjacente ao que é afirmado, gostava de saber quando, como e com que métricas fizeram o estudo dos “níveis de literacia emocional”.
A evidência tem demonstrado que os professores com níveis mais baixos de literacia
emocional e saúde psicológica têm alunos mais indisciplinados e com menores níveis de
bem-estar, competências socioemocionais e aproveitamento escolar.
Afinal, parte da solução passa por tomar mais chá, atravessados numa chaise longue. Não se percebe bem se é apenas para professores ou se poderão ser criadas “salas de chá do futuro” inter-grupais,
Recomenda-se a definição urgente de uma estratégia integrada de promoção de
competências socioemocionais e da saúde psicológica a partir das escolas, assente na
evidência científica, e que inclua:
1. A aprendizagem explícita de competências socioemocionais, a par da sua infusão
curricular, num modelo transversal e longitudinal;
O conjunto das recomendações parece uma manta de retalhos de platitudes e clichés. Claro que há uma “monitorização” de “indicadores”, embora não se perceba bem de quais (ponto 9).
Quanto Terá Custado O Estudo…
… que conseguiu demonstrar que “Pelo menos metade dos docentes acusa sinal de sofrimento psicológico em pelo menos uma das medidas consideradas” com uma amostra inferior a 1500 docentes?
A coordenadora do estudo parece sensata:
“Os professores estão muitos doentes. A minha preocupação é muito com os professores, porque um professor perturbado com 30 alunos à frente não vai conseguir fazer um bom serviço nem para ele nem para os alunos”, disse a coordenadora do estudo, Margarida Gaspar de Matos.
Já o ministro quando mete “científic@s” numa frase, ficamos sem perceber exactamente o que significa. É uma “resposta a evidências científicas”? Não será antes uma demonstração de qualquer coisa?
“É uma resposta a evidências [provas] científicas que nos dizem que o bem-estar se correlaciona muito positivamente com os resultados escolares dos alunos, com o seu desempenho académico e, por isso, não podemos deixar isto de foram da atividade da escola”, explicou João Costa.
Há Estudos Que Descobrem Coisas Fantásticas!
O ambiente da escola e a qualidade da gestão dos agrupamentos escolares aparecem associados ao sofrimento psicológico dos docentes, com algumas variações e agravamento com a idade e o tempo de serviço, afetando principalmente as mulheres e registando variações regionais.
Isto vem na página V. Na página VI surgem as recomendações a que daqui a pouco já me dedicarei com natural interesse 😉 Mesmo se acho a amostra muito curta (menos de 1500 docentes), para tanta instituição que aparece associada ao estudo.
3ª Feira
Afinal o miúdo nem tinha 16 anos, que só os faria em Agosto. Já ontem, em português, mas hoje, em Cidadania, o tema foi o desaparecimento do colega, as circunstâncias, o porquê de um disparate que anualmente se repete em nome das “tradições locais”, do “interesse da população”, naquela argumentação tão querida aos que gostam de equalizar tudo, valorizando o disparate, porque é “local”, diferenciador, muitas vezes colocando-o acima do que é “global” e portanto uniformizador. Não sei se notam por aqui os ecos em torno de algumas trincheiras das “guerras do currículo”, em que se defende a validade de áreas curriculares de interesse local em detrimento dos “saberes enciclopédicos”. Não é raro que alguns princípios interessantes e até legítimos – valorizar o património cultural local contra o globalismo da homogeneização dos consumos – desaguam em excessos que é muito difícil defender, partindo de uma perspectiva racional. Por isso é que é importante para alguns grupos corroer a confiança no Conhecimento e apresentar toda a verdade como relativa e dependente das interpretações particulares.
Claro que os alunos do 6º ano ainda não estão equipados para debater estes assuntos a esse nível, embora revelem uma assinalável sensatez quando são chamados a pensar e expressar-se sobre os assuntos, com alguma informação de base. O problema é que caminhamos por uma via que – por muito que digam que querem promover o exercício do espírito crítico – equivale o bitaite de esplanada à demonstração científica, a opinião de bancada à explicação histórica. Só que, infelizmente, temos elites que adoram manter a populaça na ignorância do “pão e circo”, seja em forma de futebol, fátima, fado ou largadas. Temos governantes que desvalorizam explicitamente os saberes “tradicionais” como se ensinar História, Filosofia, Ciência, Matemática, Geografia, Química, não tivesse valor em si mesmo, como forma de elevar o espírito para lá do que o olhar “local” alcança. Há quem critique quem só veja o seu “quintal”, mas pratique de forma activa a amputação do olhar dos que mais necessitam de se elevar para lá da sua condição de origem, do seu “local”, não para se indiferenciarem, mas para conseguirem expressar melhor a sua singularidade, que nunca se deve confundir com labreguismo ou alarvidade.
E é esse o esforço de quem, sejam os alunos “bons”, “maus” ou “sofríveis”, gosta de os levar a ver e pensar além dos muros que uma educação mínima, de “aprendizagens essenciais”, lhes impõe. Para a Educação “emancipar”, necessita de ir “mais alto” e de, lá dizia a amargurada poeta “É ter fome, é ter sede de Infinito!” Ora, o Infinito raramente se encontra se ficarmos apenas pelas vizinhanças.