Afinal o miúdo nem tinha 16 anos, que só os faria em Agosto. Já ontem, em português, mas hoje, em Cidadania, o tema foi o desaparecimento do colega, as circunstâncias, o porquê de um disparate que anualmente se repete em nome das “tradições locais”, do “interesse da população”, naquela argumentação tão querida aos que gostam de equalizar tudo, valorizando o disparate, porque é “local”, diferenciador, muitas vezes colocando-o acima do que é “global” e portanto uniformizador. Não sei se notam por aqui os ecos em torno de algumas trincheiras das “guerras do currículo”, em que se defende a validade de áreas curriculares de interesse local em detrimento dos “saberes enciclopédicos”. Não é raro que alguns princípios interessantes e até legítimos – valorizar o património cultural local contra o globalismo da homogeneização dos consumos – desaguam em excessos que é muito difícil defender, partindo de uma perspectiva racional. Por isso é que é importante para alguns grupos corroer a confiança no Conhecimento e apresentar toda a verdade como relativa e dependente das interpretações particulares.
Claro que os alunos do 6º ano ainda não estão equipados para debater estes assuntos a esse nível, embora revelem uma assinalável sensatez quando são chamados a pensar e expressar-se sobre os assuntos, com alguma informação de base. O problema é que caminhamos por uma via que – por muito que digam que querem promover o exercício do espírito crítico – equivale o bitaite de esplanada à demonstração científica, a opinião de bancada à explicação histórica. Só que, infelizmente, temos elites que adoram manter a populaça na ignorância do “pão e circo”, seja em forma de futebol, fátima, fado ou largadas. Temos governantes que desvalorizam explicitamente os saberes “tradicionais” como se ensinar História, Filosofia, Ciência, Matemática, Geografia, Química, não tivesse valor em si mesmo, como forma de elevar o espírito para lá do que o olhar “local” alcança. Há quem critique quem só veja o seu “quintal”, mas pratique de forma activa a amputação do olhar dos que mais necessitam de se elevar para lá da sua condição de origem, do seu “local”, não para se indiferenciarem, mas para conseguirem expressar melhor a sua singularidade, que nunca se deve confundir com labreguismo ou alarvidade.
E é esse o esforço de quem, sejam os alunos “bons”, “maus” ou “sofríveis”, gosta de os levar a ver e pensar além dos muros que uma educação mínima, de “aprendizagens essenciais”, lhes impõe. Para a Educação “emancipar”, necessita de ir “mais alto” e de, lá dizia a amargurada poeta “É ter fome, é ter sede de Infinito!” Ora, o Infinito raramente se encontra se ficarmos apenas pelas vizinhanças.
Mas que grande lição. Inteiramente de acordo. Parabéns
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É a tal feliz imbecilidade de que costumo falar por aqui… e as escolas caminham no mesmo sentido; entreter miúdos, fugindo ao trabalho e à exigência.
Quando crescerem, continuarão, como os progenitores, a não querer mais do que copos, comida e futebol.
Raras são as exceções em que tanto miúdos como graúdos desejam e estão preparados para tratar de temas tão sérios e importantes como este. Em nome de “cumprir o programa” foge-se àquilo que exige mais neurónios e capacidade reflexiva.
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Muito bem, Paulo.
A Escola puxa para cima…
Os calhaus ficam em baixo…
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