Dia: 28 de Maio, 2022
Castelo No Ar
Texto enviado por um colega, a quem pedi autorização para publicar.
Sempre quis ser professor… de Educação Física… de Desporto… foi desde sempre a minha paixão!!! Não fui um aluno exemplar… desviei-me várias vezes do caminho por atalhos e “quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos”. Mesmo assim, fui sempre encontrando novamente a “estrada do futuro”. Lá segui para o ensino superior numa área que eu sempre gostei e perto de tornar realidade o meu “castelo no ar”.
Finalizado este caminho, quando pensei que seria sempre a andar e sem pedras grandes ou pequeninas, eis que surge a primeira pedrada: pela primeira vez, no concurso nacional de professores, um aluno – acabadinho de se formar – não podia concorrer em circunstâncias iguais para iniciar a sua vida profissional…que TRANSTORNO!!! O meu querido pai esteve 4 anos a trabalhar para me ver licenciado… que alegria a dele e …deceção!!!
Enfim, lá segui a minha vida e resolvi não ficar ali… fiz uma especialização em Necessidades Educativas Especiais…ufa… bendita especialização que me fez “arrancar” que nem um barco a motor.
A partir daqui conheci vilas e cidades (G, FX, RB, VV, GM). Até aqui tudo parecia normal, mas… CHHHHIIIIIII… PAROU… Segunda pedra: medidas especiais de contenção, falta de vagas a norte e “toca a viajar” à procura das condições especiais de vinculação. Então conheci SM (maldito momento, entendi que entraria uma qualquer escola até aquela região para ter acesso às condições especiais de vinculação, onde não eras obrigado a ficar na zona onde abria a vaga como contratado… azar… só contava quem entrava na primeira reserva de recrutamento… voltei à “estaca zero” no ano letivo seguinte!!!
Tranquilo. Sem preocupação … mais 5 anos… vamos recomeçar: MG e LX e… finalmente, CONSEGUI… “mas… espera… eu vou ter de ficar nesta região”… TCHHH… acordei tarde! Terceira pedrada… A quarta pedrada surge ao mesmo tempo. Sabem qual? Pois… só depois de sair o resultado, a geringonça resolve alterar as regras da norma-travão para 3 anos de contrato (ou 2 renovações) em qualquer grupo de recrutamento, MAS SÓ DE CONHECIMENTO PÚBLICO DEPOIS DE TODOS OS DOCENTES CONCORREREM e ANUNCIADO APÓS SAIR O RESULTADO DOS CONCURSOS! Absolutamente fantástico… Concorri tendo em conta as regras até 31 de agosto desse ano e, eles resolveram alterar após, repito, DEPOIS DE TODOS OS DOCENTES CONCORREREM e ANUNCIADO APÓS SAIR O RESULTADO DOS CONCURSOS…
O meu “Castelo” que estava a ficar seguro em terreno sólido…. Volta a subir… mas não caiu!!!
Fui à luta… As normas de concurso permitem que possa ficar próximo da minha família… pois tenho família… as recomendações de quem sabe diz: “vincula em qualquer sítio”, “tudo vai correr bem”, “aceita a tua vinculação”, ”as regras favorecem-te”… Ano de concurso geral, decisões pelas regras atuais, logo, decisões em função dessa legislação!!!! Feito, submetido, tudo tranquilo, calmo, corre tudo bem. Um ano depois… O CASTELO COMEÇA A DESFAZER-SE… última pedrada: querem alterar a regras do jogo sem dar tempo para os trabalhadores se prepararem… ah! Os trabalhadores têm família, compromissos, vida e tudo igual aos que “conduzem” o país!!!
Esta última pedrada… não será a última… talvez a última pedrada seja no ano de concurso geral… o ano das mudanças, o ano em que, dizem, vamos ter profundas mudanças e, MAIS UMA VEZ, quem se preparou a para legislação atual… vai ser surpreendido… pois sairá uma que não deixa preparar ninguém.
Ah… o Castelo, que estava firme, vai caindo sempre, a cada mudança, aos pouquinhos e nunca mais será possível voltar atrás, nunca mais será possível reconstruir… ou perdes a tua família ou a decência emocional e psicológica!!!!
Assinado,
HMP
Municipalizações Da Despesa
Sábado
Não sou um fundamentalista do dress code na escola e na sala de aula. Compreendo certas reservas, mas a minha atitude é mais com o que se faz com o que se (não) veste do que com as vestimentas em si. Nesse aspecto sou um pouco laxista, confesso. O que tenho dificuldade em admitir é o uso de paramentos ou acessórios para tentar provocar ou desafiar, sem qualquer justificação razoável.
Por exemplo… abandonámos as máscaras que eram um incómodo imenso para as crianças e jovens, porque impediam a comunicação, ver-se as expressões, a cara, etc. Logo… acho profundamente [pi-pi-pi] que certos simpáticos alunos insistam em querer usar os chamados hoodies com capuzes a tapar-lhes quase toda a cara. Até porque começou a estar calor e abafado nas aulas climatizadas ao estilo-ME sem festa da Parque Escolar.
Há um par de semanas, um aluno de 11 anos que vai comigo em mais de 350 aulas em 2 anos (Português+CD), estrela em ascensão nas camadas jovens do Sporting, foi avisado aí pela 231ª vez para tirar o raio do capuz para que eu lhe visse os olhos e a maior parte da cara. Sim, como nas 230 vezes anteriores, tirou-o mas, como numas 165 dessas vezes, mal eu me virei para outro lado da sala, voltou a colocá-lo, ainda mais enterrado pela cabeça abaixo.
Desta vez, ao contrário das outras, fruto de um certo cansaço com o ritual, não lhe repeti o pedido, cheguei perto dele e, contrariando as regras do chonismo disciplinar “inclusivo” (calma, o aluno mão é de qualquer minoria étnica ou cultural, não era um statement identitário desse tipo), tirei-lho da cabeça com a minha mão e íamo-nos ficando por ali. Só que uma colega relativamente nova na turma, um pouco mais velha e proveniente de uma escola a norte do Tejo, com atitude de diva dos direitos das crianças, acusou-me de estar a desrespeitar o colega com o meu acto. O que, até por estar com a matéria quase toda dada, funcionou como oportunidade para, numa aula de Português, revisitarmos a “Cidadania” dada no primeiro semestre (ela não esteve presente) e aquilo que deve ser considerado “respeito”, não apenas numa sala de aula.
E, entre outras considerações mais “assertivas” da minha parte sobre o tema, inquiri o aluno em causa acerca do que aconteceria se ele, nos treinos do Sporting, desrespeitasse de forma sistemática as indicações do treinador (parece que ainda há quem lhes chame mister). Se, por exemplo, seria incluído nos seleccionados para os torneios de final de época fora do país (um em Inglaterra, outro em Espanha). Ao que ele respondeu que não, que seria excluído e que, provavelmente, ainda levaria uns “amassos” dos mais velhos e capitães de equipa, por se estar a armar em parvo. Mas que – e isso seguiu-se a outra pergunta minha – ele nem sequer considerava – lá está” – “desrespeitar” o treinador e que isso tinha feito parte das regras comunicadas logo no início da temporada aos recém-chegados.
E aqui concordámos que, se calhar, eu tinha o mesmo direito a exigir o “respeito” que um petiz de 11 anos sabe dever ao seu treinador de futebol, até porque, bem vistas as coisas, ainda não está provado que ele vai ser o novo cristiano, palhinha, rafael leão, quaresma ou bruno fernandes. E foi então que voltei a trazer a colega “indignada” à conversa, perguntando-lhe se agora já percebia melhor as coisas e a razão da minha atitude. Baixou a cabeça, com um sumido “sim, stor” a sair-lhe a custo. Estive quase a dizer-lhe que não gosto do “stor”, mas como escrevi, ela só está há relativamente pouco tempo na turma.