Sábado

Terminei ontem a fase das reuniões de avaliação. Foram só duas reuniões, mas não invejem quem tem de dar 2 ou 3 disciplinas a turmas de 28, porque é o equivalente a ter 5 turmas e 140 alunos. E estou sinto vontade de dizer que terminei cansado, desanimado só qb, pois no início quase garanti que não conseguiria fazer todo o ano lectivo sem alguma interrupção menor ou maior. E até disse isso aos alunos, mas lá me fui aguentando e o covid não conseguiu ganhar a luta contra a minha sinusite, que durante boa parte do ano produz barreira natural contra qualquer germe, vírus, bactéria ou mau cheiro que se aproxime. Já sei que há que considere que confessar cansaço ou desânimo, não é compreensível (afinal, os professores trabalham pouco e têm muitas férias) ou aceitável (afinal, os professores escolheram a sua profissão e se não se sentem bem que se dediquem a outra coisa).

Claro que a primeira reacção a esse tipo de observações é mandar à [pi-pi-pi] quem as produz, mas depois dá-me sempre a vontade de explicar mais devagarinho as coisas e tentar que percebam – nem sempre é possível, há demasiada gente estúpida por aí e não digam que é só nas redes sociais – que o maior profissionalismo se demonstra em condições adversas e não quando tudo está a correr bem e de feição, que dessa maneira é fácil. Elogio em causa própria é vitupério? Que se lixe! E que se lixem aqueles que, chegados a esta altura, de tanto que não fizeram, acham que estamos todos prontos para mais uma rodada e retornam com as conversas das monitorizações, relatórios, avaliações, inventários e recuperações de aprendizagens, planos, planificações e projectos para o próximo ano, como se não tivéssemos vigilâncias para fazer, processos dos alunos (os adequadamente chamados PIA) para arquivar, matrículas para dar apoio e toda uma resma de tarefas que outrora eram administrativas, mas agora se acha serem conteúdo funcional da docência que nenhum estatuto (nem o da “reitora”) passou a lei a que se deva obediência absoluta.

Sim, estou cansado. desanimado. Com escassa pachorra para ouvir seringadelas de clichés, seja de quem só agora acedeu aos prolegómenos do ofício (mais já debita tese encartada), seja de quem ajudou a torná-lo um martírio de redundâncias e irrelevâncias, mas finge que é tudo novidade da fresca e boa. Por razões que em poucos casos serão novas, a maioria das vezes sendo apenas o repenicar da idiotice; umas vezes vindas em cascata lá do topo, em outras dando comichão pela proximidade. Seja como for, acho que tenho o direito e ainda a liberdade de neste “quintal” expressar os meus estados d’alma, sem ter de prestar contas, até porque não recebo ao caracter, à palavra ou ao post. Se os visitantes também têm o direito de se sentirem incomodados e a liberdade de expressar desacordo? Mas claro que sim. Assim como eu de replicar, caso me apeteça, sendo que agora me apetece pouco, pois ainda nem do raio do relatório da add tratei, quanto mais de umas pendurezas que ficaram por acabar do ano, que há quem só tenha uma vintena de alunos, mas mesmo assim não cumpra o que deveria e ainda se arme em grandes coisas. Nada que não se ande a tornar a regra um pouco por todo o lado. O que não significa que se tenha de aturar e calar, em nome do “bom ambiente” e muito menos porque “somos todos uma família”. Se soubessem a distância a que mantenho alguns parentes de sangue ou apenas aparentados, perceberiam o que penso dessa conversa da treta.

E agora vou ali ler uma coisa muito interessante do Eco sobre como reconhecer as falsidades (Reconnaître le faux, Grasset, 2022 para esta edição de bolso de algo com pouco mais de meia centena de páginas, mas muitas citações deliciosas sobre aldrabões e aldrabices), apenas para confirmar evidências.