Desculpem-me A Preocupação Com A Cronologia E O “Contexto”

Imaginemos uma pessoa que nasceu em 1991. E que, sem chumbos, está no 7º ano de escolaridade. Em princípio, estará com 12 anos no início do ano lectivo (“no primeiro dia de aulas”), no máximo 13. Ou seja, estaremos em 2003, no máximo 2004. Essa pessoa, enquanto aluno, nas suas próprias palavras, foi “maltratado” por uma professora de Ciências porque teria uma opinião diferente da do seu pai (de quem se teria vingado no inocente filho), pois “estava a ser feita a reforma do modelo de progressão de carreira dos professores” (citação directa, tirada do que se pode ouvir aqui aos 45′ do excerto). Ora bem… essa revisão só aconteceu em 2007-08 (tentativa de implementação só mesmo em 2008), quando essa pessoa já estaria no Secundário, pelo menos no 10º ou mais provavelmente no 11º ano (até porque se licenciou em 2012), fase de estudos em que não existe a disciplina de Ciências, muito menos para quem segue a área das Artes.

Compreendo, a pessoa era jovem, ficou traumatizada para a vida com o que se terá passado e baralhou os anos ou a disciplina ou o “contexto”. Ou fez um compósito, não sei. O que sei é que o que foi dito não pode corresponder à verdade. Até porque em programa mais recente, voltou à estória e até nomeou a ministra como Maria de Lourdes Pintassilgo, sem que a anfitriã (senhora para as minhas idades, apenas um pouco menos nova) tivesse sequer a cortesia de o corrigir, para não ficar mal na gravação (passagem que não encontrei ainda online). Parece que isto de confundir factos, datas e contextos pode ser genético.

Se eu podia fingir que não dei por nada? Claro, mas não seria a mesma coisa.

Dessincronização, Incompetência

As Aprendizagens Essenciais, Os Manuais Escolares e as Provas de Aferição

(…)

Assim, tendo em conta que a prova de aferição do 2.º ano de Estudo do Meio, que foi aplicada ontem, tinha questões que não se encontram nos manuais escolares adoptados antes da entrada em vigor das aprendizagens essenciais é certo que a grande maioria dos alunos não têm manuais onde os principais órgãos – coração, pulmões, estômago e rins constem para estudo.

Anda Um Tipo No 5º Ano Pelo Menos Um Par De Semanas…

… a explicar em HGP aos miúdos o que é um mapa, os vários de mapa que podem existir e a “Interpretar diferentes tipos de mapas utilizando os elementos de um mapa: rosa-dos-ventos, título, legenda e escala” (citação directa das “aprendizagens essenciais”, cf, p. 5), para chegarmos ao exame nacional de 12º ano de História A e darmos de caras com este mapa:

Já agora, a referência à fonte não é completamente correcta, porque o link fornecido remete para onde está disponível o livro, em pdf, de onde foi “adaptado” o mapa, mas não para a imagem. E quanto a “adaptações”, há algumas bastante criativas, como se poderá verificar, para nem sequer ir mais longe, pelos números do desemprego (quadradinhos verdes). Se as fizeram também poderiam ter colocado pelo menos a orientação do mapa e tentar perceber a escala. Não são elementos essenciais para a resposta? Então há coisas que andamos a ensinar no 5º ano que, afinal, ainda são do foro do desnecessário e do “enciclopédico.

Recolheram a imagem em Setembro e, com tanto especialista, é este o resultado? E ao que parece é raro o exame, este ano, no qual não há coisas erradas, gralhadas, truncadas, mal impressas…

Já agora… só para apostilha quanto a referências… a encíclica Rerum Novarum, em português, encontra-se neste endereço e não no que é fornecido na prova, que remete apenas para o índice dos conteúdos sobre o papa Pio XIII. E a discrepância não se deve à consulta ter sido feita há uns meses, ok?

Por fim, no grupo 3, as ligações estão correctas para 3 das imagens. A do Século Cómico apenas nos remete para o site da Hemeroteca Digital.

Espera-se de um exame de História que siga as regras básicas de citação de fontes que se ensinam no 1º ano da licenciatura, mesmo no caso das digitais. Infelizmente… parece tudo feito algo à pressa. Ou em cursos com diplomas da Farinha Amparo.

Morrer Também É Capaz de Ser Chato

(mas ao menos não se fica para pagar a conta…)

“Agosto não é um bom mês para ter acidentes ou doenças”, afirmou a diretora-geral da Saúde, dirigindo-se ao presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco.

5ª Feira

Dia de prova de aferição de Português de 9º ano e de exames de Economia e Alemão do 11º ano, daqueles que são de uma espécie de 2ª ou 3ª divisão em matéria de prioridades jornalísticas, pelo que não sei se teremos mais notícias do género “uns alunos acharam acessível, outros tiveram mais problemas e alguns não conseguiram fazer nada”, como parece ser o padrão dos últimos dias. O envelhecimento docente traz-nos isto… um enorme tédio com a repetição da balela, assim como com o troca-tintismo de quem diz agora uma coisa e depois outra ao contrário, como o senhor da OCDE que bate palmas num qualquer colóquio do ME em relação ao alargamento da escolaridade obrigatória em Portugal, mas se for uma iniciativa de uma fundação ligada ao “empreendedorismo” já diz que os portugueses ficam muito tempo no sistema educativo.

Sim, é verdade que por cá é o habitual, mas parece que já contagiamos quem nos visita como o nosso potencial camaleónico de ora se ser governante e não saber de nada anos a fio sobre coisas óbvias, ora se ser governante e estar-se a estudar o óbvio que antes não se tinha conseguido detectar. Não é por acaso que temos a comandar a Educação uma clique que diz defender o espírito crítico e o conhecimento, mas depois promove activamente a pseudo-ciência e as crendices pessoais. É bem verdade que a classe docente precisa de rejuvenescer, precisa de gente sem a memória do que já foi (e nem sequer há tanto tempo assim… foi há 10-15-20 anos e em alguns casos há menos), que seja permeável à demagogia e à fancaria ideológica por não ter desenvolvido ainda a resistência à treta que os mais velhotes criaram em sucessivas camadas.

Claro que para isso, também é necessário ir alimentando uma segunda geração de “gestores escolares”, alguns criados em aviário, via cursos online e encontros com uns croquetes e drinques na Gulbenkian ou outro sítio a que não estejam habituados (assim como os nossos eurodeputados quando chegam lá fora e descobrem que o mundo é maior do que Lisboa), de modo a ficarem deslumbrados e funcionarem como correias de transmissão, felizes com o seu estatuto de capatazes na roça educativa e o poder de recrutarem mão de obra dócil. Ouvem umas palestras de algumas figuras da gerontocracia no poder a falar da inovação que o era quando el@s tinham deixado de ser jovens, ali pela altura em que eu comecei a dar aulas, e ficam boquiabertos de tanta absorção de “novidades”.

Dizem que sou pessimista, que tendo a não encontrar os pontos positivos no que me rodeia. Há uma parte que não é verdade, pois eu procuro desesperadamente por esses sinais. O pessimismo chega depois.