Dia: 25 de Junho, 2022
Relatórios De Auto-Avaliação
Como a encenação não pode parar, lá andamos outra vez a fazê-los, como se tudo isto fosse um rigor de ciência séria, quando na maior parte dos casos não passa de um enorme fingimento. Porque, apesar de já terem passado uns anitos disto, continuamos a ter, em termos de referenciais para as classificações (e no caso dos professores já não faz mal que a avaliação seja feita especificamente para estabelecer uma seriação de “desempenhos”), desde as coisas mais disparatas e inexequíveis (um caso que conheci foi o de pedirem a elaboração, por ano, de “três provas de avaliação externa” para se ter menção de “mérito”, mas como o presidente da sadd se arma em “inovador”, vale tudo) até à completa ausência de indicadores ou níveis de desempenho que permitam perceber porque se atribui um 8,1, um 8,4 ou um 8,8 ou qualquer outra classificação a quem é avaliado.
Em relação a isso, para o bem e o mal, há que os obrigar a cumprir a lei que defendem mas não gostam de praticar. Os “elementos de referência” para a avaliação interna são “a) Os objectivos e as metas fixadas no projecto educativo do agrupamento de escolas ou da escola não agrupada; b) Os parâmetros estabelecidos para cada uma das dimensões aprovados pelo conselho pedagógico”. Pelo que percebo isto raramente é respeitado e no caso da alínea b), já li uma sadd alegar que existe “silêncio da lei” em relação a este dever do CP, revelando até que ponto a responsabilidade pela avaliação dos colega está, em casos como este, entregue a gente que tem dificuldade em compreender um texto. E não chegam parâmetros com advérbios de formulação indefinida como “frequentemente”, “regularmente” ou “periodicamente”, pois é tão periódico ou regular algo que acontece de ano em ano como o que ocorre todas as semanas.
Por outro lado, não se esqueçam de ler o que o artigo 19º determina e não permitam leituras demasiado extensivas do que lá está, porque também me consta que andam por aí a circular “aconselhamentos selectivos” para quem está nas graças de quem acha que tem todo o poder de mando nisto, nomeadamente ao nível da forma como a análise dos resultados, o contributo para as metas do Projecto Educativo e o contributo da formação “para a melhoria da acção educativa” devem surgir de forma bem explícita, para que não aleguem que não “reflectiram” sobre as práticas. Uma pitadas da lengalenga maiata não fará mal, pelo que devem polvilhar um ou outro parágrafo com “monitorizações”, “feedback” e “avaliação criterial” e “análise conjunta” disto e aquilo (disto com os alunos, daquilo com os colegas).
É tudo uma grande treta, mas há que fazer as “elites locais” justificar as arbitrariedades que não se permitem à arraia-miúda, quando se trata da avaliação dos alunos.
Sábado
Vou repetir por aqui dois assuntos da semana. Um porque simboliza a forma como a mentira sem remédio ou “os factos alternativos” se tornaram a regra na comunicação mediática (não restrita às redes sociais, onde é feita mais a traço grosso e já se sabe que sem controlo editorial. É “admirável” o modo como alguém diz uma clara falsidade num programa que nem é gravado ao vivo, perante o ar compungido do entrevistador, que aceita como boa qualquer declaração com tom dramático e ninguém vai depois verificar se aquilo poderia ter acontecido. Sim, falo do Alta Definição com o filho d’algo, que não sei se merecerá a atenção do Polígrafo, mas duvido, porque anda mais entretido em desmentir coisas do fbook. A mentira passou a ser mais do que tolerada porque, quantas vezes, é quem a denuncia que é apontado como intolerante, irritadiço ou picuínhas com os detalhes. A segunda relaciona-se com aquelas senhoras que escrevem crónicas sobre serem mães e avós que adoram crianças, excepto se tiverem de as aturar mais de um par de horas por dia e de modo algum mais do que os dois dias do fim de semana. Por um lado, ainda bem que escreveram que se sentem “claustrofóbicas” por terem a descendência por perto, pois assim se percebe que encaram as escolas como creches até aos 18 anos e os professores como babás dos seus rebentos até à idade de (não) irem à tropa. Sim, falo das Stilwell que o Público nos serve quase todos os dias como maná para as Avenidas Novas. O curioso é que nos dois casos, estamos a falar de uma espécie de “elite” que se arroga de qualquer coisa de artístico, cultural ou intelectual. Só que a pobreza de espírito, a menos que vá a par de outras, nem é sinalizável para qualquer cpcj.