Mês: Julho 2022
Há Quem Precise De Um Banho De Realidade
O assunto até mereceria uma abordagem mais detalhada, mas acho que basta explicar que a classe docente de 2022 é já bastante diferente da de 2008, pelo que é uma ilusão pensar que é possível replicar seja o que for. Se sempre houve divisões, agora há completas incompreensões. Há os que se foram embora e foram muitos, há os que se ajustaram ao “paradigma”, seja da gestão, seja da add, e não são assim tão poucos e há os que, mesmo não sendo muito novos, não viveram muitas coisas e nem sequer compreendem quando delas falamos.
Ainda me lembro de alguém, que passou como cometa blogosférico, com quem ia falando até achar que se tinha transformado numa espécie de porta-voz do então secretário Costa; nessa altura, tentei explicar-lhe que parte do que ele me dizia em favor das posições da tutela eram coisas recuperadas de um passado não tão distante, desde logo a gestão flexível do currículo transformada em autonomia e flexibilidade mas, como em outras questões, a resposta era invariavelmente “isso não é do meu tempo”.
Há muita coisa que já não é do tempo de muita gente e há outras pessoas que, sendo desse tempo, já se “reinventaram”. Por isso, as salas de professores estão divididas de um modo diverso do que já tiveram e em termos globais já não é credível conseguir mobilizações significativas que não sejam mesmo episódicas, bastando ver a gritante falta de solidariedade em questões como a já referida add, a questão da mobilidade ou mesmo a forma como alguns “libertários” se tornaram garantes da legislação, mal apanharam um cadeirão ou gabinete disponível. Basta ver como algumas figuras se acomodaram rapidamente ao poder que está, mesmo aqueles que antes apareciam muito reivindicativos (ocorre-me sempre um grupinho de oportunistas, a começar pelo da vinculação dos contratados).
A realidade já não é o que era e não vale a pena estarmos a lamentar uma inevitabilidade. Estranho é que ainda pareça existir quem não consiga ver o que existe á sua volta. Após sucessivas derrotas e quase nenhuma “vitória”, quanto muito uns quantos empates ou prolongamentos, há quem perceber que tudo deve ser repensado e reavaliado em termos de “lutas” laborais no âmbito da docência. Fazer mais do mesmo é continuar num caminho que nos últimos 15 anos trouxe muito pouco ou mesmo quase nada, excepto umas desregulações e truques concursais que deram jeito a alguns. O resto é a crónica do “sucesso” de uma estratégia que conseguiu ir cansando e dividindo ainda mais a classe docente, na qual houve actores principais, mas também adjuvantes, nem que seja por omissão.
Até surgir algo de novo e eficaz vai ser preciso mais do que a vontade de alguns e não sei se acontecerá no meu tempo útil de profissão, porque a aliança, explícita ou implícita, contra os professores que estavam na carreira e se ergueram em 2008 continua muito forte e foi acarinhando aliados no seu interior entre os que estão sempre disponíveis para colaborar com a política de amesquinhamento dos que não consideram seus “pares” e tudo fazem para se erguer à custa de terceiros.
Deve então desistir-se de qualquer resistência? Não, mas é necessário voltar às bases e tentar que, pelo menos a nível local, a terraplanagem da autonomia profissional não seja completa. Porque não há mais deprimente do que observar como a Corte Costista na Educação se vai replicando à micro-escala das “unidades de gestão”. E é indispensável não criar ilusões e olhar a realidade como ela é e não como já foi ou se gostaria que fosse.
Nem Nos Anos De Pandemia Aconteceu
Embora me parece que seja para fazer um 2 em 1 com estes.
Alunos que estiveram infetados ou em isolamento durante os exames do Secundário da primeira e segunda fase podem fazer as provas numa época especial entre 10 e 19 de agosto.
(o curioso é que o ano passado, a propósito de reclamações e recursos a decorrer em Agosto, a dgae tenha aceite o adiamento de todo o processo por, na altura, considerar que não se poderia interromper as férias dos elementos das sadd)
Mas O AO90 Não Resolveu Isso?
Então e as outras variantes, cá do torrão ou dos PALOP?
Professores querem regra clara do Iave sobre variante brasileira em exames de Português para evitar desigualdades
Domingo
Os últimos tempos foram férteis na recuperação de questões que tiveram o seu tempo certo nos anos 90 do século XX, na altura recuperando debates que em termos internacionais tinham tido o seu tempo nas décadas de 60 a 80 desse século. Uma delas é a da disposição física das salas de aula, de que surgiu mais recentemente uma outra sobre as alegadas “salas do futuro”, porque têm computadores, cadeiras coloridas e espaço para trabalharem de forma “dinâmica” uns 15 alunos, na melhor das hipóteses. Existe uma ou duas em escolas devidamente seleccionadas e em que @s director@s têm o telefone directo do shôr ministro desde que era secretário.
A disposição do mobiliário nas salas para uso de professores e alunos não resulta apenas de opções de tipo “ideológico” dos docentes ou da “escola de massas” ou do “modelo de Manchester”. Por vezes, é mesmo um imperativo das condições da própria sala e mobiliário disponível. Há quem fale e escreva como se estivéssemos todos em escolas com salas concebidas para serem geridas em open-space e com uma ocupação humana com baixa densidade. Não é assim que acontece na larga maioria. Mas, mesmo assim, conforme as possibilidades, ao longo das décadas, trabalhei em salas dispostas em U (se pensarem bem é uma outra forma de dar a centralidade ao professor, quando se coloca no interior do U a focar as atenções), em “ilhas” para aulas de trabalho (a que descentra mais a atenção do docente) em grupo ou em filas ordenadas – à moda da tropa como alguns simplismos gostam de resumir – como se considera ser mais “tradicional”. Até já dei aulas em salas tipo oficina ou laboratório, em que temos mesas em filas e depois umas bancadas que funcionam como “ilhas”. Como aluno, nos anos 70 e início de 80 já tinha conhecido estas metodologias (no 1º do preparatório já tive quase todas as aulas em “ilhas”). Não há muito de novo sob este sol e estas estrelas, mesmo que a cada geração se sinta estar a reinventar a roda e a pólvora seca.
Mais interessante, quando se tem uma turma vários tempos seguidos (no 1º ciclo ou no 2º, quando leccionamos mais de uma disciplina) é alterar a disposição da sala, conforme os momentos da aula e o tipo de trabalho. Claro que sendo as nossas salas muito bem insonorizadas, o arrastar de mesas e cadeiras para passar de uma organização para outra, orna-nos muito populares entre as salas vizinhas ou as do andar inferior, directamente debaixo da nossa. Mas que se lixe, este ano até era a direcção e ao lado a biblioteca, pelo que certamente compreenderiam que eu estava, em pós-pandemia, a recuperar “inovações” apesar da escassez de espaço para @s 28 petiz@s. A questão da disposição física das salas está longe de ser central quando as condições estão longe de ser ideais e não se anda a trabalhar de acordo com um plano ideológico rígido. Adaptamo-nos. Ao contrário de certos puristas que pensam ter encontrado a solução ideal e única, o método mais eficaz é o da adaptação às circunstâncias, tentando delas extrair o melhor do elemento humano. Pensei que era isso a “flexibilidade”, mas devo estar enganado.
A segunda questão liga-se à recuperação da lógica da sala como oficina (workshop na sua acepção original, quando adaptada a questões pedagógicas), como tempo e espaço de “construção” do saber. Infelizmente, nem sempre apresentada da melhor forma e quantas vezes com uma deriva para uma espécie de sala bric-à-brac, onde os alunos se debatem com materiais em busca de lhes atribuir um significado, sendo apenas “orientados” para o docente numa estratégia de aprendizagem “activa”. Nada contra, se esse for um dos elementos de toda a estratégia do chamado “ensino/aprendizagem”, tudo contra se assumirem essa solução como praticamente a única forma de trabalho em sala de aula. De novo, também aqui, o importante é saber combinar momentos mais expositivos ou “tradicionais” com outros mais práticos, de exploração de diferentes materiais, adequados a cada disciplina, quanto esses estão acessíveis. Por exemplo, na minha escola, durante diversos anos, uma colega trazia um especialista em escrita com materiais antigos (como penas e tinta feita a partir de pigmentos naturais) e tínhamos aulas de caligrafia bem esborratada e algum divertimento. Mas, se o quiséssemos fazer em ocasiões em que ele não estava disponível, isso não era possível, por não dispormos desses materiais. Mesmo se eu ainda aprendi na primária a escrever com aparo e caneta de tinta permanente e tenho algumas por aí, mesmo um par desse tempo.
A aprendizagem “activa” num modelo de sala-oficina, comum em disciplinas como os velhos Trabalhos Manuais e/ou Oficinais ou as Educações Visual e Tecnológica, assim como em Físico-Química em menor escala no Básico, nem sempre é possível ou pode ser desenvolvida de forma permanente em outras disciplinas. Ou então chamos “oficina” a algo que não é bem isso, mas apenas quer passar por isso. Não chega entregar materiais aos alunos e esperar que eles montem um puzzle de que desconhecem a forma final, só pelo gozo de se pensar que se está a “inovar” quando isso é conhecido e praticado há séculos. Como escrevi, há que saber combinar as coisas e aplicá-las quando elas fazem sentido e não como forma de aplicação acrítica de uma cartilha pré-concebida. O preconceito e a curteza de vistas está mais do lado do método único (seja “activo” ou outro) do que do que procura ver o que se ajusta melhor a cada turma, a cada disciplina, a cada momento da aula, da semana, do ano, mesmo a cada aluno. Até porque pensava que era isso que se designava por “diferenciação pedagógica”.
Depois e ter andado uma boa parte dos anos 90 a discutir estas coisas, confesso que tenho pouca pachorra para estar novamente a ter de abrir a “oficina” para explicar isto, só porque há formadores de professores que, não praticando isso nas suas aulas, gostam de regressar sempre às sebentas de outrora e reapresentar pela enésima vez a última bomboca do pacote da juventude. Por amor da santinha, ensinem que também existem after eights, ferrero rochers, chocolates milka com recheio de caramelo salgado e até com bolachas oreo e tantos outros belos doces que podem saber bem em diferentes momentos do dia.
Boa Noite
Um Texto Interessante. Ou Quase
Tem sido muito partilhado hoje este texto de Marília Gago E Filipe Oliveira sobre o ensino da História. Tem algumas questões interessantes, mas não sei se foi alguma limitação de espaço (online, não faria muito sentido), se foi opção dos atores não responder às questões que os próprios colocaram: “porquê” e “para quê” aprender História?Mais complicado, não se percebe exactamente qual é aposição dos autores sobre a redução do tempo atribuído à disciplina de História (parece que tudo depende da “mudança (…) no espaço da sala de aula”) e menos ainda de salas de aula falam, em termos de níveis de ensino. Estão correctos ao afirmar que não existe uma “resposta certa”, mas é de igual modo verdade que é necessário mais do que fazer formulações que todos apoiarão, mas que nada de concreto trazem quanto à implementação das ideias em causa.
Por exemplo, poucos discordarão que:
Ensinar História envolve questões de identidade em diálogo com as culturas, os valores, os olhares acerca do passado e a relação entre passado, presente e futuro – Consciência Histórica. (…) Saber História, ser-se historicamente competente, articula o pensamento histórico e o conhecimento histórico. A História é compreendida através de um processo metacognitivo, é interiorizada pelo indivíduo e assim dão-se passos para a formação de uma Consciência Histórica mais reflexiva.
Mas isto, parecendo dizer muito, porque mobiliza muitos conceitos, acaba por explicar pouco, pois nem define os conceitos, nem como eles se articulam ou, ainda mais importante, de que alunos estamos a falar, com que idades, em que contexto curricular. Porque é muito diferente falarmos de História no 1º ciclo ou no Secundário, com todo o Básico pelo meio.
Por exemplo, o que quer dizer esta passagem (destaques meus)?
oncebe-se o ensino de História com a necessidade de educar historicamente em diálogo com o desenvolvimento humano. Mais importante do que saber conteúdos, é saber pensar de forma disciplinada. Não interessa, apenas, decorar datas, nomes, acontecimentos, etc. O que realmente importa é saber pensar cientificamente (no caso da História, pensar historicamente).
O que é “educar historicamente” ou “pensar historicamente”? Sobre isso poderemos ter uma discussão longa e sem “resposta certa”, mas convém saber do que falamos. Estamos a falar de pensar a vivência e acção humana no passado, em termos de estrutura, de relação sincrónica e a interacção entre as suas várias dimensões? Estamos a falar de relações de causalidade sequencial e, nesse caso, estamos a abordar a relação diacrónica das diferentes facetas dessa mesma vivência? Que unidades espaciais vamos usar para qualquer dessas abordagens? Estas são apenas as questões introdutórias não respondidas ou sequer afloradas pelo texto que se limita a remeter para uma metodologia de “aula-oficina” cujo “modelo” é apresentado como sendo uma proposta de Isabel Barca em 2004 (penso que a remissão será para este artigo), quando esse tipo de trabalho é muito anterior e a própria autora citada tem escritos que abordam a questão desde a segunda metade dos anos 90 do século XX (adaptando parte de um conceito introduzido alguns anos antes) , procedendo a uma síntese das suas ideias, por exemplo aqui e aqui (trabalhos de 2001).Mais recentemente, Isabel Barca foi bem concreta ao explicar as suas concepções a partir da investigação feita nas últimas décadas sobre a cognição histórica, assim como algumas das suas limitações práticas:
Para isso, dentro desta linha alimentada por trabalhos em cognição histórica e inspirada também pela ideia de consciência histórica, propõe-se que a atividade docente tenha em atenção e acompanhe:
- As experiências e ideias prévias dos sujeitos, para auscultar as suas carências na compreensão do passado e ajudar a responder às suas necessidades de orientação temporal;
- A busca de respostas significativas, no saber histórico, às necessidades e carências dos sujeitos sejam estas conscientes ou tácitas;
- O aprofundamento das ideias históricas dos jovens, para melhor os guiar na linha de um pensamento compreensivo e explicativo, fundamentado na evidência, empatia e pessoalmente significativo;
- O reflexo da cultura histórica na vida prática de cada um, a ser desejavelmente orientado numa perspectiva de Humanidade e (dentro de limites moralmente aceitáveis) aberta ao entendimento do outro, num esforço de descentração.
Contudo, deve-se reconhecer que, à partida, não é fácil desenvolver um processo contínuo de ensino e aprendizagem que envolva pensar historicamente. A interpretação das respostas dos alunos no plano do pensamento de segunda ordem é complexa. Como profissionais em ligação com o ensino da história urge, neste aspecto, aprofundar a reflexão
sobre o que implica “pensar historicamente” no ato de ensinar.
O que os autores do texto não fazem é explicar o que implica “pensar historicamente” e, muito em especial, como isso deve ser tratado em cada ciclo de ensino. E se é indiferente fazer esse trabalho uma, duas ou três horas por semana, mesmo se já percebemos que para “pensar historicamente” não consideram relevante ou decisivo conhecer nomes ou acontecimentos, mas sim compreender a História “através de um processo metacognitivo” (ou seja, auto-reflexivo), sem que se perceba a que se aplica o “meta” se a cognição parece ser meramente auto-referencial, o que nem chega bem a ser uma tautologia.
Mas aguarda-se novo texto que aclare exactamente como é que esta abordagem “metacognitiva” se vai aplicar nas “aula-oficina” do 1º ciclo ao Secundário, do Estudo do Meio à História, passando pela “minha” H.G.P.; pode ser o início de um debate interessante mas, por enquanto, sabe mesmo a muito pouco.
As Santas Alianças Municipais Em Desenvolvimento
Autarquia (m das mais destacadas do PS)-direcções-representantes formais dos EE a definir as coisas, considerando-se “fechadas” decisões tomadas fora dos órgãos internos das escolas. Atenção à obrigatoriedade de 3 momentos de “feedback”, mesmo com a semestralização à força. Texto colhido no mural da Fedapagaia.
Decorreu esta quarta-feira o Conselho Municipal de Educação onde se considerou como fechada a flexibilização das AEC’s em um dia por semana já no próximo ano letivo. Todos os Agrupamentos de Vila Nova de Gaia, com exceção de Valadares, foram sensíveis à necessidade de se buscarem soluções para a falta de professores AEC’s e, por essa via, ja aprovaram, ou estão em vias de aprovar em Conselho Geral, esta decisão.
Ficou também fechado o novo calendário escolar da semestralidade a entrar em vigor em setembro e, para o qual, pedimos a todos os pais que dediquem especial atenção para organizarem a vida familiar em conformidade.
Da parte da Fedapagaia temos que agradecer publicamente todos os esforços feitos pelo Município, pelos Diretores, pelos pais de Gaia para se chegar a consenso (com exceção de Valadaressobre as soluções que se acredita melhor defenderem os alunos.
Pedimos a todos vós que partilhem esta informação e que se mobilizem para podermos ser parte da solução e, nesse sentido, contribuirmos com a nossa posição de movimento associativo parental responsável concedendo o tempo necessário à estabilização, sem ruido, destas decisões que responsavelmente todos os agentes procuraram convencionar.
Boas férias
Sábado
A anedota de ontem:
Isto quando um dos seus vices escreveu que “a guerra ainda agora começou” no seu mural do fbook.