Dia: 3 de Julho, 2022
Montenegro
De Quem Será Esta Ficha De Avaliação Final Do 3º Período?
Não conheço @ alun@, mas tenho a certeza que se em 99,9% dos casos a eventual decisão de reter este aluno seria liminarmente recusada pelo C.P. com base naquela perspectiva de ver @ alun@ no seu todo e, de acordo coma própria lei, que determina que “A decisão de transição e de aprovação, em cada ano de escolaridade, é tomada sempre que o professor titular de turma, no 1.º ciclo, ou o conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos, considerem que o aluno demonstra ter desenvolvido as aprendizagens essenciais para prosseguir com sucesso os seus estudos” (nº 5 do artigo 21º do Despacho Normativo 1-F/2016). As excepções à regra não contemplam a situação que a seguir se pode observar. Se o que está em causa é uma exclusão por faltas? Sim… mas querem-me apontar outro caso, em outro ponto do país, onde um@ alun@ tenha perdido o ano por ter excedido o número de faltas numa única disciplina, mesmo sendo ela Matemática ou Português?
O Ângulo Certo
O presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática chega muito perto do essencial quando afirma, acerca de mais uma mudança no programa de Matemática, neste caso no Secundário e com a novidade de passar a contemplar-se “programação” nos conteúdos, que “o problema é que tudo se resume à receita do costume: refundar programas do zero, não se sabe para quê nem porquê, mas rapidamente, muito rapidamente, cortina de fumo para esconder todos os outros problemas”.
João Araújo explica com alguma pontaria parte das questões (do interesse em introduzir programação no currículo desde cedo até à alegada extensão do programa anterior), só não estabelecendo de forma bem clara e sem receios a seguinte conjugação de factores que explica este tipo de opção, na lógica da demagogia costista na Educação:
- Não há sequer professores para ocupar todos os lugares disponíveis para leccionar TIC no Ensino Básico, andando as escolas a recrutar praticamente qualquer pessoa com uma disciplina de Informática no currículo do seu curso.
- Por isso, é inútil pensar que se arranjará pessoal para expandir a disciplina de Aplicações Informáticas no Secundário, adaptando-a – como seria desejável – às várias áreas do currículo, das Letras às Ciências.
- Ao mesmo tempo, a Matemática é aquela habitual dor de cabeça (no Báscio ao Secundário) em termos de resultados, sendo recorrente as queixas de isso se dever à extensão dos conteúdos do programa, escondendo-se que o que está em causa é o tempo para os leccionar de forma conveniente.
- Logo… nada como cortar conteúdos “tradicionais”, daqueles mais chatos e “trabalhosos” (para usar um termo a que muito recorreram os inquiridos este ano sobre quase todos os exames), e incorporar lá pelo meio a parte da programação, colocando professores de Matemática a dar uma coisa que para os distraídos (e alguns ignorantes) pode parecer próxima da Matemática, mas não é, e até pode propiciar estatísticas de maior “sucesso”.
- E assim se finge uma Educação Digital sem professores de Informática e se combate a extensão do programa e o insucesso na disciplina de Matemática. Dois em um para a Educação Inclusiva de Sucesso e para o Currículo para o Século XXI.
A lógica da “Matemática para Todos” passa por considerar como “Matemática” qualquer coisa vagamente nas suas fronteiras (distantes). Por exemplo, no caso da História, seria o equivalente a retirar conteúdos mais complexos e “trabalhosos” e passar a contemplar matérias – numa lógica de aproximação do currículo à “realidade local” – como o jogo do pau, a renda de bilros ou as largadas (do Ribatejo a Barrancos, passando aqui pela minha zona) e chamar-lhe “Culturas Locais” no contexto de uma “História para Todos”.
Se juntarmos a isto, a sistemática crítica aos exames do Secundário e o simulacro de debate em torno de novas formas de de acesso ao Ensino Superior, ficamos com um quadro mais próximo do que se pretende com esta “modernização” do programa da Matemática. Basta ver as coisas pelo ângulo certo. A APM aplaude, como sempre, nestas circunstâncias.
Lá Por Fora
Many states began gathering new or more up-to-date information on student attendance, whether students were learning online, student access to technology, and other topics.
Some of that information made it into newly created public dashboards. Pandemic relief funding also allowed states to update their data infrastructure, with some states planning to spend millions on new systems.
Domingo
Podemos considerar que alguém deu um contributo sério para o debate educativo em Portugal mas, em simultâneo, considerar que esse contributo se cristalizou e foi incapaz de se renovar, confundindo o fracasso concreto das suas propostas com uma espécie de conspiração do “sistema” do qual se faz parte há 40 anos em lugares de destaque. Ao ler certas declarações do ex-secretário de Estado, investigador e figura destacada na área da Educação da Católica do Porto e vitalício conselheiro da Educação na V Jornada Pedagógica da Escola Católica fico com a sensação que há quem não perceba que por vezes somos nós que necessitamos de mudar o nosso “paradigma” mental para conseguirmos entender que o tempo mudou de forma diferente do que um dia projectámos. No fundo, como Domingos Fernandes, Joaquim Azevedo quer que regressemos ao que se discutiu ao longo dos anos 90 e esbarrou com a realidade nos anos 2000. Claro que a culpa, para eles, será sempre da realidade, da imperfeição humana na implementação das suas utopias perfeitas, que as suas “visões” é que não foram compreendidas.
A muitos, isto cansa, porque andamos em círculos, sempre em busca de satisfazer egos e não tanto resolver problemas, através da identificação correcta dos problemas e suas causas, como se a Educação não fosse apenas um dos aspectos de um sistema global complexo e com variáveis que a condicionam e não conseguem ser combatidas apenas dos portões para dentro das escolas, mesmo com manuais oferecidos e muitas alíneas inclusivas. O maior problema da Educação está fora dela e resulta de uma organização socio-económica que continua a agravar desigualdades que não se superam com “planos de recuperação de aprendizagens”, alegadamente perdidas ou não realizadas durante a pandemia. As perdas, reais, que não se encontram em estatísticas de sucesso produzidas a preceito ou diagnosticadas em estudos com as conclusões inscritas no caderno de encargos, são cumulativas e não são recentes. È pena que não seja esse “paradigma” que seja colocado em causa, preferindo-se andar pela cosmética da coisa, acreditando que é (apenas) reorganizando o espaço escolar, aplicando teses que têm tantos ou mais anos do que a escola de massas e podando o currículo a preceito, que se consegue que os alunos encontrem na escola um verdadeiro “sentido” para o futuro. Antes de mais, é preciso “mudar o paradigma” desse futuro. Mas quem vive sem com os olhos no (seu) passado, imagina um futuro que já não é, nem nunca talvez tenha sido.