São só 3 episódios em que pouca coisa corre bem.
Dia: 8 de Julho, 2022
A Mini-Entrevista De João Costa Na RTP1
Antes de mais, os parabéns a João Adelino Faria por ter limitado as tiradas de pura propaganda do ministro, que começou logo por uma imprecisão, ao tentar dizer que os “dados” dos rankings não tinham origem no ME, o que foi imediatamente obrigado a corrigir. E já ia pronto a disparar sobre o motivo das faltas dos professores, chamando “absentismo” a baixas médicas, qual reencarnação de Valter lemos. Os dados têm origem no ME e nem poderia ser de outro modo. Que desvalorize os rankings é uma opinião dele, que vale tanto como qualquer outra, desde que fundamentada em mais do que preconceitos.
Quanto à falta de professores, João Costa tropeçou no seu passado, pois deu a entender que o que Alexandra Leitão fez não aconteceu. A polémica em torno dos horários incompletos que não foram a concurso, que o Parlamento tentou resolver, motivou queixa para o Tribunal Constitucional do governo de então. Fingir que isso não aconteceu, mesmo com muitos sorrisos de sonso pelo meio, é desonesto em termos político e intelectuais. Quanto ao número de professores em exercício, se a Pordata informa que em 2021 são realmente mais do que em 2015, também nos permite ver que são os mesmos que em 2013, mas não os desagrega pelo tipo de vínculo ou condição.
Quanto aos anunciados cortes nas “mobilidades”, gostaria de em Setembro conhecer qual o saldo dessa “medida”. Onde foram buscar professores para darem aulas. Se a outros ministérios, se a organizações exteriores, associações profissionais ou sindicatos. essa informação é pouco transparente porque, por exemplo, as listas da mobilidade estatutária não são públicas há muitos anos, em especial desde que alguns chatos deram a conhecer quem andava a não dar aulas, onde.
Em resumo, João Costa anunciou o já anunciado, não explicou porque não foram acauteladas as coisas em devido tempo e tentou esconder que as medidas agora em preparação podem ser, pelo menos em parte, objecto de uma barganha negocial com as organizações sindicais, de que não se adivinham bem os contornos. Em outras paragens e tempos, os sindicatos defendiam os seus; por cá, nas últimas décadas, defendem-se.
Parece Que O Ministro Vai À Televisão
Provavelmente criticar os rankings que está quase a conseguir extinguir numa medida de evidente “populismo”, para usar um termo muito em uso.
O que eu gostaria, em alternativa, é de saber qual a legalidade desta medida que me parece carente de “equidade” e “justiça” geográfica e curricular.
Já agora, a situação em Português é bem pior do que a de História, pelo menos no 3º ciclo e na zona de Lisboa.
E Por Falar Em Hipocrisias
Agora o José Eduardo dos Santos já é o maior? Morrer é chato, mas parece dar jeito em termos de declarações da treta sobre o defunto. O nosso PR afirmou (ouvi pela TSF) que ele era uma figura “ímpar” e um “caso único” pois lidou com todos os PR portugueses eleitos em democracia. Mas que raio de argumento é esse? Prémio de longevidade? Lá por isso, o Salazar dialogou com todos os presidentes dos EUA desde o Herbert Hoover até ao Lyndon Johnson e com os primeiros-ministros ingleses desde o Ramsay MacDonald ao Harold Wilson. Isso fez dele um “caso único”? É possível que sim. Mas tornou-o uma figura desejável? Talvez para alguns…
A Malta É Contra Os Rankings, A Menos Que Possa Puxar Dos Galões
(…)
As escolas da região do Alto Minho, que foram afetadas pelo desemprego e pobreza a partir da década de 80 do século XX, “têm vindo a trabalhar precocemente no combate ao abandono e insucesso”, sublinha Ariana Cosme, professora da Universidade do Porto. A colaboração com as autarquias e instituições do Ensino Superior foi determinante na “criação de projetos educativos coerentes e distintivos”.
Eu conheço escolas “afetadas pelo desemprego e pobreza a partir da década de 80 do século XX” (vale do Ave, aqui pela península de Setúbal) que sempre fizeram os possíveis e impossíveis pelos seus alunos, mesmo antes de chegarem tais verbas, apoios e parcerias. Porque parece que só há resultados quando chove em certos quintais. Porque se os resultados forem das escolas “certas”, com os parceiros “certos”,então os rankings já são reveladores do bom trabalho que lá se faz.
Longe vai o ano de 2002, em que as críticas eram certeiras, mas em outra direcção.
E Se Pensarmos Ao Contrário?
Já pensaram que há escolas privadas que arriscam muito mais com os rankings do que a generalidade das públicas? Porque as escolas privadas, mesmo quando estão no pelotão da frente, andam em acesa disputa entre si e as “famílias” que investem largas centenas de euros por mês e depois descobrem que a “sua” escola fica 20, 30 ou 50 lugares atrás de uma outra privada, que até pode cobrar o mesmo ou menos, não muito longe, podem reconsiderar as suas opções. O que não entendem as pessoas cristalizadas na oposição público/privado é que onde as coisas são complicadas a sério, o privado desaparece ou mal aparece. Onde pululam é onde existe “mercado” e esse é feroz, profundamente feroz. E acreditem que a privada que ficou abaixo dos 20-25 primeiros lugares terá muito mais pressão do que a pública que ficou abaixo do 200º lugar. Não é por acaso que, para 2021, temos umas “novidades” no topo das privadas e isso não irá passar em claro em certos ambientes onde o investimento anual por aluno andará, com todos berloques de exibicionismo, perto dos 10.000 euros.
Se escrevo isto por lamentar a situação? Muito pelo contrário… apenas para que certas argumentações não sejam atrozmente simplórias.
6ª Feira
Dia de rankings, sem especiais novidades, incluindo os discursos muito enfáticos em seu redor, em especial por parte daqueles a quem parece ofender a sua divulgação. Nunca poderei aceitar que não saber é melhor do que saber, até porque agora já temos diversas variáveis sob análise a enquadrar os resultados. Que as escolas privadas não fornecem tantos dados como as públicas, nomeadamente as relativas ao contexto socio-económico dos alunos? É muito simples… ou passam a fornecer todos os elementos que se exigem às públicas ou deixam de contar para as listas. Agora aquele discurso (que inclui governantes) de que os rankings não servem para nada ou apenas para dar publicidade aos privados é uma falácia. Porque os privados não precisam dessa publicidade, pois o seu mercado já está bem instalado.
O que revelam algumas atitudes acerca desta divulgação é, para mim, um injustificado medo da fotografia tirada. A fotografia capta apenas um momento da vida da pessoa? Já o sabemos, não é preciso estar sempre a repetir isso. Mais vale explicar o que rodeia a fotografia, do que a não querer tirar. A algumas pessoas recomendaria que não se fotografem em férias maravilhosas, em resorts de muitas estrelas, rodeados de pobreza. Ou então, expliquem muito bem que aquelas fotografias têm um contexto. Que o vosso lazer é feito à custa de muita exploração e desigualdades.
Estar contra a divulgação de rankings de resultados em exames com base em certas argumentações é como estar contra a publicitação da classificação do campeonato de futebol, com base no facto dos orçamentos do Benfica, Porto, Sporting ou mesmo Braga serem muito superiores aos do Tondela, Santa Clara ou Casa Pia. Deviam defender que apenas se jogasse, nem sequer se contassem os resultados e no fim todos fossem considerados vencedores, para evitar qualquer efeito negativo na auto-estima dos jogadores e adeptos dos clubes menos afortunados. E olhem que sendo do Sporting, passo em regra quase duas décadas a olhar para o topo. Posso lamentar-me, mas não digo para acabarem com a coisa.
E não me venham dizer que a analogia é desajustada, porque o objectivo é mesmo o de dar uma noção de um certo ridículo de algumas posturas. Ou que isto é apenas um jogo de direita-privada vs. esquerda-pública, pois basta ver onde algumas figuras anti-rankings colocam a sua descendência a estudar.
Mais informação, mais transparência será sempre preferível a encobrir tudo e dar palmadinhas nas costas à maneira de outros tempos, ao qual vamos regressando (os dados do Básico já se foram e não digam que a pandemia não foi uma desculpa óptima para ficar só um simulacro de provas) com a paciente aliança entre ex-governantes dos anos 90 do século passado, mail’os seus derivados.