RTP3, Pelas 22.15

Se a actualidade incendiária o permitir, vou representar apenas a minha opinião sobre provas de aferição e coisas assim, tipo folclóricas, em matéria de Educação. E espero ter tempo para explicar que há quem ande a explorar a pandemia tanto, tanto, que já quase tenho pena dela. Se aparecerem os rankings, já sabem que não vou armar-me em Alá a olhar para o toucinho.

“Ajudam”, Mas Estão Longe De Explicar Tudo

Vamos lá ser um pouco sérios nisto… o senhor ministro disse ainda há pouco tempo que não havia problemas de maior na substituição dos professores de Matemática e não incluiu sequer Português nas disciplinas prioritárias para as medidas de combate à escassez de docentes. Vir agora dizer que foi essa falta que levou à quebra de resultados é um pouco estranho.

Quanto à pandemia, já se percebeu que tem as costas mais largas do que um nadador olímpico. Mas é tudo uma grande treta, pois os resultados destas provas não se podem comparar com nada, pois antes da pandemia as provas tinham peso na avaliação final da disciplina. Estas realizaram-se para preencher calendário e pouco mais, pois são incomparáveis a vários níveis, desde logo a sua irrelevância para o futuro dos alunos.

Esta forma de argumentar é desonesta e quem alinha nisso apenas entra no “jogo” da mistificação da opinião pública. Vá lá que as declarações da APM e da APP vão por um caminho um pouco diferente, mas seria bom que se percebesse de forma clara que isto é comparar o resultado de um voo num simulador em terra com uma viagem de avião a sério.

Pandemia e falta de professores ajudam a explicar descalabro nas provas do 9.º ano

3ª Feira

Nestas trocas de pedradas ideológicas ou de preconceitos em que se transformaram alguns debate sem Educação, nem sempre se conseguem destacar as contradições inerentes a certas argumentações, que saltam de lógica conforme a circunstância. Por exemplo, há quem critique a obsessão com os rankings e os resultados, desvalorizando a obsessão com o desempenho dos alunos num exame, mas tenha essa obsessão com a produção “interna” de sucesso nas escolas e com metas de insucesso zero a quase todo o custo e todas as pressões. Ahhh, dizem, mas isso é porque acreditamos no “processo”, no trabalho contínuo dos professores com os alunos, porque é nisso que confiamos. Tretas… porque quase todos os “projectos” e “planos” se baseiam na produção insana de registos (de planificação, acompanhamento, monitorização, avaliação, auto e hetero) sobre o que se fez, não se fez, pensou fazer-se, poderia fazer-se, de maneira a alcançar o sucesso pleno. Ou seja, há resultados que interessam e outros que nem tanto. Dizem que o processo é que interessa, mas depois querem resultados de sucesso no fim, que “provem” que as aprendizagens foram adquiridas pelos alunos, tenham sido ou não. O problema é que num caso se produz sucesso a partir de um aparato burocrático destinado a eliminar qualquer justificação de insucesso (porque se existir a culpa é dos professores que não souberam ensinar a todos), enquanto no outro, como depende da aplicação das aprendizagens a uma prova “externa”, menos controlada pelo aparato burocrático, os resultados são mais incertos.

(já agora, como é que algumas pessoas combinam o desprezo pela “competição” com a exibição das “vitórias” dos seus alunos/educandos em concursos em provas – nem falo do plano desportivo – do tipo “olimpíadas disto e daquilo”?)

Eu não defendo a existência de provas externas de avaliação das aprendizagens e a divulgação dos seus resultados porque estou do lado dos interesses privados na Educação, porque estou numa escola de topo ou trabalho com alunos de um modo focado apenas em desempenhos de excelência (quantos anos, muito pelo contrário). Faço essa defesa porque acho que é a forma correcta de se fazerem as coisas. Se foram feitas aprendizagens, então elas devem estar em condições de ser demonstradas (claro que isso é mais fácil se tivermos um sistema coerente de exames, sem regras a mudar permanentemente); se existem resultados, então eles devem ser conhecidos. O que acho é que toda a informação que as escolas públicas fornecem (e bem) também deveria ser facultada pelas privadas, se querem aparecer nos tais rankings. Ou jogam com as mesmas regras ou não surgem na tabela.

A obsessão com os resultados existe (quase) sempre. Só que por vezes é mais na forma e na aparência. E é curioso como quem defende um modelo “meritocrático” para a avaliação dos professores, depois critica de forma bem agressiva e ácida a “lógica do mérito” quando aplicada aos alunos, em especial dos que querem seguir estudos superiores. Decidam-se, que a vida não é feita assim de fases tão estanques… afinal, não acreditam no “fluir” das experiências?