Fornicações

É quando o homem abre a boca que me desaparece completamente qualquer simpatia teórica pela sua posição e fico mais convencido da situação da descendência como mero reféns da “pancada” deste pai e da teimosia do ministro.

Porque o que podia ser a defesa de uma espécie de tolerância ou liberdade se revela apenas um enorme obscurantismo intolerante. Começa bem e depois não consegue resistir e espalha-se ao comprido.

Para quem afirmava que não queria fazer campanha mediática, mais valia ter respeitado a promessa e não exibir de forma tão evidente uma visão tão limitada da vida. Ou do que para ele será isso. Assim, só consegue fazer o ministro parecer razoável e tolerante.

Se tem o direito a ter esta opinião? Sim. Se tem direito a defendê-la? Sim. Se consigo sentir alguma simpatia por esta forma de vez as coisas. Phosga-se, não!

I, 19 de Julho de 2022

3ª Feira

Há umas semanas, uma colega de um agrupamento que agora não interessa saber qual, mas que conheço até relativamente bem, contava-me a forma como nos serviços administrativos tratavam os seus pedidos relacionados com informações de que precisava para preparar (ou não) a sua aposentação. O modo arrogante como teve de ouvir um “temos mais coisas do que fazer” e “a professora que trate disso”. Felizmente, não vou dizer que é a regra, mas infelizmente sou obrigado a admitir que não é caso isolado. Há muitos, muitos anos, como contratado, ali por meio dos anos 90, ainda ouvi o clássico “nós estamos cá sempre, a m@rd@ [professores contratados] é que passa todos os anos”. Não me era dirigido pessoalmente, mas senti-o como se fosse, mesmo se a destinatária da fúria também se tinha destacado por uma certa, digamos assim, injustificada petulância.

Nos últimos 10-15 anos, fruto da habilíssima gestão de recursos humanos administrativos conseguida com os mega-agrupamentos, as boas e velhas secretarias das agora “escolas-sede” passaram a ter uma população discente e docente maior a tratar, na maior parte dos casos com menos pessoal. O resultado foi a transferência de muitas tarefas de tipo administrativo para os professores, sem que isso tenha qualquer cabimento no conteúdo funcional da docência. Mas, prontossss, estamos todos (estaremos?) no mesmo barco a afundar e é melhor dar aos remos nos botes do que ficar apenas a olhar e lamentar. Vai-se fazendo o que se pode, mas nem sempre o que se deveria. O que em certas situações, em vez de melhorar o ambiente, acabou por apenas acrescer desrespeito na forma como os docentes são tratados em espaços da escola onde se exigiria, no mínimo, uma certa cortesia no trato. Mas esse tipo de cortesia parece ter passado de moda, se alguma vez esteve, e o meia-bola-e-força-e-não-me-chateie começou a ser muito comum. Isso e o desmentir das respostas mal dadas ou com uns maus modos de cortar a respiração.

É certo que, a par de umas despropositadas arrogâncias, nos fomos agachando muito como classe profissional, acabando por aceitar muita coisa que era impensável um professor fazer quando comecei a dar aulas. Mas uma coisa completamente diferente é ser objecto de desrespeitos e desmentidos, como se fossemos uns idiotas, mentirosos ou incompetentes, só porque alguém acha que, numa perspectiva de luta de classes na escola, deve ser tirado um qualquer desforço. Em regra, sobre @s mais frac@s ou, em alternativa, pelas costas. Eu sei que há malta (como certos coisos e subcoisos) que alimentam parte do seu poder nas escolas numa espécie de santa aliança com elementos colocados estrategicamente em serviços das escolas (não apenas os administrativos), como rede de recolha de informações, que depois justificam atitudes claramente de assédio moral e profissional. Pessoalmente, conheci um ou outro fenómeno de “bufaria docente” para cair nas boas graças do pessoal não docente. Mas as falhas de carácter entre pares acontecem e todos vivemos com isso. Infelizmente, mas é mesmo assim.

O que me vai afligindo é que agora há quem, em especial com as pessoas mais precisam ou talvez mesmo por nesses casos se detectar uma maior incapacidade de reacção, ache que professor2 é para tratar com os pés, atirar-lhe com tudo para cima, com atitude de uma inexplicável superioridade, que o processamento informático dos salários mensais, está muito longe de tornar aceitável ou justificável. Nunca fui muito de forçar o “cada símio no seu ramo”, mas já faltou mais. E, já se sabe, quando a coisa me bate, tendo a usar poucas palavras, mas bastante claras e expressivas, mesmo se uso muito pouco vernáculo.