Pseudo-Sofisticação Analítica

Vi hoje ser partilhado este artigo por várias pessoas como se trouxesse uma abordagem original dos dados dos rankings e coisas assim. Lamento confessar que não partilho do entusiasmo e, mesmo com as reservas que o autor apresenta em relação aos dados que usou, considero que a abordagem é daquelas que alia a estatística a um número assinalável de lugares-comuns ou a “conceitos” com escasso sentido, para não dizer vacuidades puras e duras.

Comecemos pelo título que é logo paradoxal: “A boa escola é aquela onde os alunos excedem o seu potencial”. Ora, por muito que vasculhem dicionários, não encontrarão qualquer definição em que se considere que “potencial” é algo que, no sentido de capacidades humanas, pode ser “excedido”. Por definição, “potencial” é algo que ainda não foi concretizado mas, de certa forma, corresponde ao limite do que alguém pode atingir, nas circunstâncias ideais. O “potencial” não se calcula a partir de desvios em relação a médias. Pelo que uma boa escola é aquela onde os alunos atingem o seu potencial, não onde o excedem, porque isso seria uma contradição nos termos ou contradictio in terminis para dar uma de erudição latina, já que me falta um cargo em inglês.

Pelo que passagens como a seguinte não fazem qualquer sentido, nem sequer em termos estatísticos:

Imaginemos duas escolas: na primeira era esperado que os alunos tivessem média de 10, porém os alunos conseguiram ter uma média de 13. Na segunda escola era esperado uma média de 15, mas os alunos conseguiram uma média de 14. Apesar da segunda escola ter uma média superior em relação à primeira, a verdade é que no primeiro caso, aquela média de 13, excedeu o potencial em 3 valores. A média de 14, no segundo caso, foi abaixo do potencial – pelo que neste segundo caso, o projeto educativo não correu tão bem.

Isto nada tem a ver com potencial, mas com valores esperados a partir de médias. O autor pode ser CEO de empresas de seguros (esta e esta), mas em matéria de Educação parece andar completamente à deriva, na busca de uma pseudo originalidade que lhe escapa, parágrafo após parágrafo. Eis uma tirada antológica, em que o autor se surpreende a si mesmo de forma surpreendente:

A primeira grande conclusão é que há mais escolas com desvios negativos do que escolas com desvios positivos. Apesar da metodologia obrigar a ter más escolas, o seu número e a magnitude da perda é, para mim, surpreendente.

Surpreendente seria se existisse exactamente o mesmo número de escolas com desvios positivos e negativos, mas então estaríamos a funcionar a partir do valor da mediana e não de médias. Mas eu sou de Letras, não devo perceber nada disto.

Mas a pérola maior é a seguinte:

A segunda conclusão é que as boas escolas, aquelas que promovem o melhor de cada aluno, são as escolas que sabem o que fazer e fazem-no. 

É que até agora ninguém tinha pensado nisto. Todos estávamos convencidos que as “boas escolas” não promoviam “o melhor de cada aluno”, nem saberiam o que fazer, nem o fariam.

Armados com esta profunda perspicácia analítica, como escreve o autor em forma de conclusão “não estamos condenados à mediocridade. Não nos falta tudo.”

BRAVO!

Merece vénia!