Dia: 26 de Agosto, 2022
Pareceres
O Vale Tudo, Com Chancela Oficial
A Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) e o Instituto Piaget estabeleceram um protocolo de colaboração tendo em vista a realização de um curso de profissionalização de professores, a lecionar durante o ano escolar de 2022/2023.
O novo Curso de Profissionalização em Serviço terá a duração de um ano letivo e será lecionado em regime de ensino à distância, na modalidade de e-learning (100% online). O curso será ministrado pelo ISEIT de Viseu, uma das instituições do Ensino Superior que integra o Campus de Viseu do Instituto Piaget.
Por França
Por cá temos pindéricos a achar que esse valor é demasiado alto para o final da carreira.
«Aucun enseignant ne débutera sa carrière sous 2000 euros nets mensuels», promet Emmanuel Macron
6ª Feira
Já tive colegas de grupo com a, para mim, triste licenciatura em Educação Básica que agora pode servir, mesmo sem mestrado profissionalizante, para leccionar várias disciplinas do 2º ciclo, nomeadamente as dos grupos 200 e 230. Foram essas colegas que me confirmaram as piores impressões que eu tinha desta licenciatura “generalista”, em que há um pouco de tudo e nada com um grau sequer médio de profundidade. Repare-se no caso do plano de estudos da dita licenciatura na ESE de Lisboa. Ao longo dos 3 anos, as disciplinas relacionadas com o ensino do Português perfazem 17 créditos no 1º ano (se incluirmos os 6 de “Escrita Académica em Português”, que não é bem o que aqui nos interessa), 5,5 nº 2º e 3,5º no 3º, num total de 26 créditos. Mas a situação de História e Geografia de Portugal é pior, porque apenas existem 2 disciplinas num total de 12 créditos. No caso da Matemática, teremos de incluir “Análise de Dados” (2º ano, por certo mais ligada a metodologia) e “Matemática e Cultura” (3º) para se ultrapassarem os 30 créditos. No caso das Ciências há 3 disciplinas com um total de 15 créditos. Há depois muito mais coisas, úteis por certo, mas não há absolutamente nada sobre o funcionamento organizacional e administrativo das escolas, nem sequer sobre algo tão básico como as funções dos órgãos de gestão ou a função de director de turma.
No ISPA há variantes, algumas interessantes, mas sobre os conteúdos disciplinares específicos, muito pouco. Na Universidade Aberta, passa-se algo semelhante, não deixando eu de achar curioso que a História da Educação seja remetida para o 2º semestre do 2º ano. Na ESE do Porto salta à vista o menu de disciplinas opcionais, ou seja, quem não quiser as de uma área mais específica do currículo, acaba a licenciatura com 15-20 créditos ligados a cada uma das disciplinas que se considera estar habilitado para leccionar. Em Coimbra, segue-se o cânone de 2 disciplinas de HGP, cada uma a 6 créditos, e uma de Didática e estamos falados. Há muito mais exemplos, alguns deles mais deprimentes. Mas, siga-se para a sala de aula, com menos horas de História ou Geografia do que um aluno do Secundário.
Ahhhh… mas os conteúdos mais específicos estão guardados para os “mestrados”, argumentam. Nem por isso, pois os “cadeirões” são os “Prática Educativa” (24 créditos em cada ano), enquanto o resto anda entre os 3 e os 6 créditos. Em Lisboa, para dar aulas ao 1º e 2º ciclo no meu grupo, entre os conteúdos de formação curricular e os de didáctica, pouco mais de 60 créditos. Muita teoria, pouca substância. Muito “saber ensinar”, pouquíssmo “ai o que vou eu ensinar”. Pelo que não se estranha a dependência enorme dos manuais e plataformas das editoras, porque o saber “científico” é reduzido, não por responsabilidade dest@s licenciad@s, mas porque o “paradigma” é este, o da menorização dos saberes “enciclopédicos”. e a petizada pode alegrar-se com muitas “expressões”, mas fica a saber praticamente nada, a não ser ler o manual, quando o entende, pois o ensino do Português também vai ficando pela rama até ao 6º ano, com as novas aprendizagens “essenciais”. Muita “dramatização”, pouca compreensão ou capacidade de interpretação.
É isto que o ME considera a “solução” para a falta de professores nas escolas em alguns grupos disciplinares. Uma formação hiper-generalista, superficial e leccionada, nas áreas que conheço, por gente desconhecida nas áreas académicas em causa. Pelo que não espanta que os primeiros anos de prática efectiva dependam mais do acolhimento nas escolas do que da formação inicial. Que tem imensa parra, imensa coisa “criativa” e “lúdica”, mas quase nada de “conduto”. Pura fancaria, para as doutoras cosmes e afins se sintam “superiores”.