Um filme que serve de prequela distante (passa-se entre meados dos anos 6o e inícios dos anos 70) a’Os Sopranos, com a personagem de Tony Soprano a surgir em criança e adolescente, num plano que começa lá atrás e começa a chegar-se à frente com o avançar do filme. Interpretação assombrosa, na aparente simplicidade, de Michael Gandolfini como um Tony teenager que não quer saber dos negócios manhosos da família, com todos os tiques e maneirismos do pai. Também aparecem, entre outros, os inconfundíveis Paulie e Silvio, em recriações que deveriam merecer um Óscar imediato para quem fez o casting e a caracterização.
Dia: 2 de Setembro, 2022
Filha, Estas Estantes Parecem-me Estranhas E Os Livros Têm Uma Forma Muito Pouco Habitual
No Princípio, Estava O Talão
Ou recibo. Da candidatura ao mini-concurso. Este é o que guardo do início disto tudo, da minha primeira candidatura. Sou um “guardador de memórias”, cada vez menos de sonhos e muito raramente de vacas (não me façam perguntas a esse respeito 😀 ). Há gente bem mais antiga do que eu, mas o contingente estica-se mais para o lado dos que entraram mais tarde e desconheceram, como alunos ou professores, muita coisa, pois só assim se entende tanto disparate. Sou dos que quer acreditar que o progresso ainda é possível e que a Humanidade não ficou encravada com esta malta da terceira e quarta via, no meio da auto-estrada, na lógica do “antes pobrezinhos e caladinhos, que outra coisa que não sabemos”. Mas isto já foi mau, quiçá pior, sem subsídio de desemprego, na altura a contagem ao dia do serviço (o meu registo biográfico é uma recordação deprimente de alguns anos, em especial daquele em que tive 21 horas desde a segunda semana de Outubro).
Mas não é por isso que desejo que quem agora anda por aí passe pelo mesmo e farei tudo para que isso não lhes aconteça. Nem invejo quem conseguiu ter uma carreira inteira, sorte deles, que se conseguiram aposentar quase inteiros. Temos o nosso tempo e a nossa circunstância e temos de lidar com isso, racionando as invejas e os remoques de desforço contra os outros que não têm culpa de vivermos tempos medíocres. Isso não é razão para querer arrastar todos para a mediocridade. Já sei que perdi anos de serviço, que tive de andar a saltar barreiras, como numa corrida de obstáculos e isso apenas me faz querer que isso não se repita e… esperança “micronésima”… que restasse um pingo de decoro e não andassem a mingar as aposentações antecipadas a quem delas precisa mesmo, a bem de todos, a começar pelos alunos.
Tudo começou a 20 de Setembro de 1986, ao que parece um sábado, porque então se tinham e davam aulas ao sábado, bem como se faziam outras coisas como rumar a Setúbal para meter a papelada, com duas cópias em branco para ter a certeza que se houvesse algum erro, se poderia substituir a inicial. Também estranhei, mas aquilo não é um 26, acho eu que tenho duas paleografias feitas, mais uma epigrafia. Ou talvez seja. Com os seus interregnos, já lá vão muitos anos. Que me tiraram a paciência para muita parvoíce (ia escrever “porfirice”, mas o tipo anda agora a fazer de porta-voz parlamentar e deixou a Educação para outr@s, pelo que poderia apenas escrever “sonsice”), mas me deram a capacidade de ver em perspectiva histórica o trajecto de certas figuras deprimentes que por aí andam, cacarejando a cada vez que há milho na capoeira, como se não nos lembrássemos que sempre quiseram estar do lado de quem distribui as rações.
São muitos anos, pronto.
Adenda: ler em complemento este texto do Carlos Santos.
6ª Feira
O processo de normalização do modelo único de gestão escolar está praticamente terminado. Em conjunto com a municipalização da Educação serviu para perceber até que ponto certas “lutas” são apenas encenações programadas para terminar quando se considera que a resistência é inútil e que se lixem os princípios que antes tanto se gritavam. É tempo de “melhorar” o modelo, de minorar as suas “imperfeições”. Nem é bem uma questão de real politik (quem não teve os seus momentos, que atire a primeira gravilha), mas mesmo de falta de vergonha na cara. Porque tudo se resolve quando se acomodam as clientelas em seus feudos.