Dia: 4 de Setembro, 2022
“Ó Paulo, Estás Tão Negativo…”
Ou cínico, tanto faz.
É o efeito de ver as mesmas caras, 30 anos a fio ou mais a debitar tretas atrás de tretas, em vários casos de gente que até teve cargos na estrutura política ou directiva do ME, mas está sempre a reinventar a mesma roda. Gente que aceitou conviver, com os dois pés dentro ou apenas um, várias soluções políticas, sempre com a devida adaptabilidade. Ou então porque reconheço, já não sei se em foto na comunicação social ou enviada pela conhecida “mão amiga” uma imagem da equipa negocial do actual ministro, algumas caras que conheço do consulado da “reitora” e que sei terem ajudado a fundamentar, alegadamente do ponto de vista jurídico, boa parte daqueles desmandos e até contribuíram para certos “entendimentos”.
Querem-me positivo?
É difícil. É que, domingo após domingo, depois da “pica” inicial, nem a Ferrari ajuda.
Isto É Muito À Frente
Para que não digam que eu não me actualizo em leituras inovadoras. è verdade que quase me saltam as lágrimas, mas não sei se é pela mesma razão exposta no artigo.
When the Tears Just Pop Out of Your Eyes: Reconfiguring Social-Classed Literacies Through a Posthuman Teacher Education Pedagogy
This chapter draws on theories of new materialisms that assume the discursive (language, ideology, emotions) and the material (physical space, material objects, bodies) are always entangled and act together to produce phenomena. We use these theoretical concepts to persuade readers that the ways we perceive, judge, and discriminate based on social-class difference are literacies that we acquire and produce across time and space. The authors argue that these literacies are acquired by the body through our material-discursive intra-actions and are often felt viscerally, even when we don’t have access to language appropriate for articulating what we know. We use vignettes from teacher education courses to support a call for tending to the body, space, social-classed texts, and emotions in the design of curriculum and pedagogy aimed at approaches to teaching and learning that are sensitive to social class.
(…)
It makes it possible to know in your body the classed realities of the world we live in and even perform them with precision, yet to be unable to speak them with words (like our student who stopped everything when she said “this is hard”), for your voice to shake with the acknowledgment of the violence and the desire to make something different, and for tears to pop out of Randall’s eyes with the same acknowledgement and desire.
O PSD Quer A “Totalidade” Das Funções Na Educação
Era da maneira que o desemprego jovem entre os laranjinhas descia para zero, mesmo em modo biscate até chegarem ao poder e fazerem nomeações em outros postos da administração pública ou empresas tuteladas.
“O Governo passou para as autarquias aquilo que não quer, a infraestrutura da escola para a câmara ter essa responsabilidade, mas não passa, por exemplo, a contratação dos professores”. E deu uma explicação para isso: o PS cria “complexidade” no processo para não haver responsabilidades. “É nisso que o PS é muito bom”, ironizou. O PSD, frisou, enquanto partido municipalista, quer ter essas competências, mas na “totalidade”.
Será que já passou tempo suficiente para eu fazer algumas confidências, que nem sequer o são?
Acho que sim.
Lembram-se da apresentação do “estudo”, alegadamente do FMI para reformar a nossa administração pública e as finanças? No Palácio Foz? Sem direito a directos ou gravação pela comunicação social?
Pois é… eu era um dos convidados e o então secretário de Estado Carlos Moedas o anfitrião. O Jorge Buescu moderava a sessão em que eu participei.
O estudo era uma porcaria, estava desactualizado, os dados estavam truncados e foi isso que eu disse bem alto, dirigindo-me, entre outros, ao anfitrião que, percebi depois em breve conversa, não pescava mesmo nada do assunto (a conversa foi testemunhada por uma jornalista da Renascença com quem depois troquei uma ou duas observações divertidas). Claro que passaram anos e Carlos Moedas pode ter aprendido algo mais sobre o assunto.
Ou não.
História Caviar: Compre Aqui!
São apenas 185 euros. Por 12 horas, 2 por cabeça que dificilmente terá tempo para dizer mais do que aquilo que já escreve XYZ vezes. O negócio é transversal.
“Compre aqui“. Vagas limitadas a quem estiver disposto a pagar uma leitura de facção da história de Portugal (nem me espanta que usam a minúscula, de tanta modernidade ortográfica). Tipo “Universidade de Verão do Bloco”. Vale o mesmo que um curso de História de Portugal do Observador, coordenada pelo Rui Ramos, com a colaboração do Henrique Raposo e a Zita Seabra, a Maria de Fátima Bonifácio e o Jaime Nogueira Pinto como estrelas convidadas. História em circuito fechado, truncada, distorcida. Acreditem, sei bem o que escrevo, porque em tempos tive de resistir, com custos profissionais, à lavagem cerebral do grande mentor, enquanto outros se agachavam para ficar com as migalhas do suserano. Como disse mais abaixo, não ando com paciência para ver m€rd@s destas e ficar calado. Demissão, mas ruidosa.
Desculpem lá, se estou a ferir sensibilidades “radicais”.
Domingo
Parece que o número de aposentações de docentes está a aumentar, o que nas escolas sabemos há muito e não pode ser novidade para o ME, pois ninguém se reforma de um dia para o outro, tem de fazer o pedido e esperar uns meses pela tramitação. Estranho é que se atribuam horários a quem está, com toda a certeza, a um mês ou dois da reforma. Não era essa a prática, mas em algumas “unidades orgânicas” foi isso que se fez, para corresponder ao desejo do ministro Costa garantir que os alunos estariam praticamente todos com professores atribuídos. Claro que as necessidades estão a aumentar e que “Os professores estão a sair sem adiar nem sequer um dia, aliás o que procuram é antecipar esse momento”, diz Vítor Godinho. “Até se podiam manter mais algum tempo se as condições fossem outras.”
Todos sabemos isto, mesmo quem finge não saber, foi conivente – nem que seja por cobarde omissão – com o processo que nos trouxe até aqui e agora ensaia formas mistificadoras de dar a entender que não é bem assim. Claro que o que está em causa é a degradação do exercício da docência, a falta de preparação de um futuro a curto/médio prazo, pensando-se que a não devolução do tempo de serviço congelado adiaria a debandada. Pelo contrário, o desrespeito acelerou a desafeição, a quebra de confiança e o desejo de ver esta gentalha pelas costas. Realmente, ficam os que, pela idade, não terão muita vontade de emigrar de profissão ou mesmo de país. Não é bem falta de alternativas, mas mais de energia para, porventura, ter de recomeçar uma vida profissional num país desgovernado por gente menor, de competência, de carácter, de confiança. Quem não tenta as escapatórias disponíveis – passar a ser califa ou vizir local em vez dos actuais califas e vizires, entrar na corte da mediocridade servil, tornar-se consultor autárquico ou mesmo chefe de um qualquer gabinete ou serviço municipalizador, integrar-se em equipa de investigação flexível ou apicultora, para ensinar aos outros o que não se faz – sente uma claustrofobia que a tal “demissão/desistência silenciosa” não consegue satisfazer. No mínimo, uma “demissão ruidosa”, que é para não passar despercebida. E, quem ainda o consegue, manter uma atitude de defesa intransigente das diminutas margens de liberdade que restam. “Defender o quadrado”, por menor que seja, não pactuando com aqueles que já pactuaram antes, para desenrascar a vidinha.
Afinal, a utopia que resta é a de combater os pseudo-utópicos que nos trouxeram até aqui. Pois há poucas coisas que me dêem mais voltas ao estômago, mesmo em jejum, do que ler quem há décadas faz parte do “sistema” e ajudou a instalar o “paradigma” andar por aí a anunciar que, afinal, não era bem isto que queriam, que deve haver esperança na “inovação” boa, que afinal aquelas leituras todas dos anos 80 e 90 do século XX estão vivas e recomendam-se e que – qual Verbo Divino – ainda existe a possibilidade de um paraíso terreno se tivermos paciência. Mais paciência? Vão-se lixar, que só andam a ver se conseguem manter-se do lado de “dentro”, a ver se conseguem os contratos certos ou as nomeações desejadas.
O ministro sonso não apareceu do nada. É apenas o produto do ecossistema da sonsice, que vai de vários tons de laranja “reformista” aos lilases e avermelhados “radicais”, com imensas tonalidades de rosa, do choque ao chique. Se fecharmos os olhos, tod@s cheiram a patchouly ou, @s mais sofisticad@s, a chanel grisalho ou calvin não binário.