É verdade que o problema da falta de professores não é apenas português. O que apenas significa que os governantes nacionais alinharam nos últimos 15-20 anos na tendência neo-liberal de erosão dos serviços públicos e de desqualificação simbólica e material de grupos profissionais da administração pública, com os professores à cabeça (mas também os enfermeiros e as forças de segurança, por exemplo). O facto da situação não ser exclusiva de cá, atendendo às razões que aqui conduziram, não é uma atenuante. Até porque, alegadamente, nos últimos 17 anos, tivemos em cerca de 13 governos de “esquerda” e não parece honesto dizer que é por causa dos outros 4 que está tudo mal e que a culpa foi da troika e do governo de Passos Coelho. Sim, parte da culpa foi desse contexto e das suas soluções políticas, mas está muito longe de explicar tudo o que se passou desde, pelo menos, 2005. Porque basta raspar o verniz de forma muito superficial e nota-se loco a forma insidiosa como se alijam responsabilidades e atiram culpas para os outros. Nisso, o actual ME só se distingue da “reitora” porque é menos frontal, fica-se pelas meias-palavras, pelos jogos de bastidores e, com as lições do passado, aprendeu a gerir a sua Corte de um modo menos visível a olho desarmado. Até porque muita gente que outrora estava presente e se preocupava em desmontar as malfeitorias se casou, retirou, desistiu, foi tratar da sua vida para outras paragens.
Por isso, a nova narrativa é a de que quem está não tem culpa de nada – os males são internacionais, são por causa do envelhecimento, das doenças e da desonestidade dos professores – e tudo o que fazem são rosas a cair do regaço. Neste particular, o João é o melhor herdeiro possível da Maria de Lurdes.
Eu vejo também aqui uma certa justiça poética. Há umas décadas um poeta exortava, nas ondas do rádio “Hey teachers, leave the kids alone !
Não é que afinal o desiderato se está a cumprir?!
Milhares de professores estão a deixar ainda mais milhares de alunos em paz. Entretanto as redes sociais tomam conta dos jovens e fazem-lhes a cabeça de forma profissional e implacável
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