A Pandemia Deu Muito Jeito Ao Desmantelamento Da Avaliação Externa

A “esquerda” baterá palmas porque parece que pensa que é assim que se promove a “igualdade”, quando é exactamente o contrário que isto promove. E teremos umas bloquinhas e uns bloquinhos no Público a aplaudir, assim como boa dose de docentes, não o nego. E mais uns eduqueses alaranjados de 1ª e 2ª geração, que vão dizer que já defendem isto desde o milénio passado, quando escreveram prosas pungentes a tal propósito.

Já não digo que é certo ou errado, porque é apenas mais uma peça de um edifício quase desfeito e que não tem remendo que o salve. Claro, teremos sempre quem diga que a “escola” não são “exames” e que estes para nada servem, mas permito-me continuar a discordar dessa conversa fofa e muito desresponsabilizadora. Pior ainda quando é promovida por quem defende modelos de avaliação com quotas. A começar por professores, é bom que se note, que há muito mais abana-casacas do que parece à primeira vista, para não falar de quem só se queixa quando lhes sai a raspadinha sem prémio.

Tudo bem, daqui a uns anos, haverá quem faça estudos a demonstrar que estas medidas tiveram “consequências inesperadas” ou “imprevisíveis”. Porque esta é uma decisão puramente ideológica. Ainda por cá devo andar, nem que seja de andarilho, mas espero que com a memória a funcionar.

As regras para os exames nacionais do ensino secundário deste ano ainda não foram definidas, mas o ministro da Educação defende que continuem a servir apenas para o acesso ao ensino superior, à semelhança dos últimos três anos.

Há Pouco, Na RTP3

O João Jaime Pires a dizer – e muito bem – que um dos maiores motivos de desmotivação e infelicidade dos professores é este pseudo-modelo de avaliação do desempenho e que é necessário um qualquer sinal para que os professores recuperem alguma vontade de o ser. Ainda bem que há alguém que não mudou de opinião sobre a matéria, que os há por aí a ziguezaguear e a “reconsiderar” logo que lhes acenam com uma cenoura.

A seguir, veio a nova senhora da Confap, que a propósito da já irritante questão da “recuperação das aprendizagens”, se embrulhou toda em propostas de estratégias didáticas, lúdicas, de pequeno grupo, tecnológicas e mais o que lhe ocorreu, sublinhando que não querem é que os alunos tenham mais aulas. Mas não disse que não os quer mais tempo nas escolas. Pois… entendi-te! Mais fotogénica que os dois cepos que a antecederam no cargo, mas com um discurso enrolado que gostaria de acreditar que é apenas confusão passageira.

(Re)Aprendendo O Que Não É Simples

Há uns anos existia um núcleo duro de jornalistas que sabiam do assunto e quando não sabiam, perguntavam. Restam algumas (principalmente no Público e Expresso), mas há quem tenha de fazer as aprendizagens em andamento. Com jeitinho, vão lá, sempre podendo ajudar a informar e não apenas a deformar, replicando a narrativa oficial. Mesmo se sabemos que podem existir tenças e recompensas no final, porque há gabinetes que podem precisar de figueiredos, mesmo que com menos descaramento.

Pode parecer estranho, mas o modelo “velho” da lista ordenada era bem mais simples. Mesmo quando era em suporte de papel e com telefones fixos, as coisas até parecem que eram, a esta distância, mais rápidas do que no maravilhoso mundo digital das plataforma e etc.

Consultava-se a lista e fazia-se um telefonema. Sim ou não? 48 horas para responder e seguia-se para novo nome… não era preciso esperar por um dia certo na semana para colocar os horários a concurso e esperar pelo dia das colocações. Mas dizem que assim é que é moderno e tecnológico, embora seja, em vários procedimentos, uma bela bosta e não é por causa de “falta de autonomia dos directores”. Isso é treta. São os procedimentos em emburreceram, para citar um colega.

O que se pode dizer com certeza é que nesta segunda-feira estavam 676 vagas por ocupar, mas há algumas situações em que os alunos estão sem aulas e, no entanto, não aparecerão nestes números.

Godard (1930-2022)

Faz-me lembrar os Pink Floyd porque, como eles, reconheço a grande qualidade na parte relevante da carreira, mas não levaria para uma ilha deserta, que me desculpem as pessoas mais inteligentes a vários níveis do que eu. Mas reconheço que dá para tirar fotogramas mesmo giros dos filmes dele a preto e branco.

Tal como os Pink Floyd (e agora é mesmo para continuar a irritar duas tertúlias globais em vez de uma), o seu grande contributo para a sua Arte espalha-se por toda uma década e mais uns pózinhos. Nem todos podem ser o seu admirado Hitchcock.

Ontem, Pela RTP3

Clicando aqui acede-se à gravação do programa e os meus 12 minutos, a tentar responder ao que me era perguntado, em modo acelerado (porque há sempre quem diga que me esqueci de muita coisa) e “assertivo” (que é o termo que agora se usa quando alguém parece dizer as coisas com convicção), estão entre as 21.51 e as 22.03. Ver como uma espécie de complemento da reportagem que a SICN tinha acabado de passar minutos antes.

3ª Feira

Há uma coisa que já referi várias vezes, ma à qual gostava de voltar, até porque o ministro Costa a trouxe de novo à conversa para demonstrar o quão boas têm sido as suas medidas. Já adivinharam, claro, que se trata da projecção da Pordata quanto ao número de alunos que corria o risco de ficar sem algum professor no arranque deste ano lectivo. Não é a questão dos números que me (pre)ocupa mais, porque há várias maneiras de os apresentar, retorcendo-os como aos pequeninos quando pequeninos.

O que gostava de voltar a salientar é que essa “previsão, que o ministro agora gosta de apresentar como se fosse uma espécie de lei física que ele contrariou, foi feita com dados cedidos pelo ME por uma anterior directora-geral dos serviços de estatística desse mesmo ME desde os primeiros tempos de Nuno Crato até aos finais de Tiago Brandão Rodrigues. Sendo que o serviço do ministério que dirigiu de 2012 até finais de 2019 “tem por missão garantir a produção e análise estatística da educação e ciência, apoiando tecnicamente a formulação de políticas e o planeamento estratégico e operacional, criar e assegurar o bom funcionamento do sistema integrado de informação do MEC, observar e avaliar globalmente os resultados obtidos pelos sistemas educativo e científico e tecnológico, em articulação com os demais serviços do MEC” (artigo 14º do decreto-lei 125/2011) seria para mim inexplicável porque é que não produziu tal “previsão” ou “estudo” em tempos mais útil do que aquele permitido com a sua entrada para a Pordata.

Porque, afinal, era na DGEEC que tinha já acesso aos dados e tinha como missão fazer aquilo que não fez então, fazendo-o só depois de sair de lá. E isso espantar-me-ia se não soubesse como cá se passam estas coisas e porque certos “estudos” só aparecem em certos momentos e quando certas “circunstâncias” aliam interesses. E até me espantaria pelo facto do ministro agora assumir com tanto entusiasmo os dados do estudo que, ao que parece, o ME nunca se interessou muito em elaborar, tendo mesmo esquecido recomendações com origem no CNE sobre o assunto no Estado da Educação 2017.Mas não me espanto, porque conheço o modo de vida na política deste pessoal que nos quer fazer passar por idiotas ou desmemoriados, como se há anos não existissem alertas a este respeito, sem que alguma coisa fosse feita