Eu Também Não Desconsidero Os Professores, Que Na Maior Parte Dos Casos Não Têm Culpa Das Aleivosias Em Decurso

O ministro Costa é que duvida da qualidade da sua formação académica e acha que isso se cura com vinculações decididas á la carte por directores que ou não dão aulas há décadas ou fizeram formações de aviário em gestão escolar. O ministro Costa é que costuma duvidar das situações de saúde dos professores e nos “padrões irregulares” da suas baixas, embora devesse saber das razões que explicam o regresso de muita gente no verão. O ministro Costa é que duvida da experiência acumulada na prática pedagógica e acha que ela vale menos do “formações específicas” feitas, tantas vezes, pelos seus amigos do coração na área da formação afunilada.

O ministro Costa faz bem em não desconsiderar os professores, porque quem anda a praticar as maiores tropelias são certas “lideranças” que ele protege e a quem quer dar mais poder. O ministro Costa faz bem em não partir do princípio que as pessoas são desonestas porque, como bom sonso que é, acorda todos os dias num país que não é o nosso, no qual as queixas de gente honesta são ignoradas pelos serviços da tutela (se quiser, alinham-se aqui já uns quantos exemplos, com testemunhos na primeira pessoa. Porque, verdade se diga, “as pessoas” não são todas desonestas. Só algumas. Pena é que muitas – felizmente não todas e acredito que não sejam a maioria – estejam em posições de poder decidir o futuro profissional alheio, sem qualquer “formação específica” para isso. Pena é que muitas ameacem os antigos colegas com processos disciplinares, com inspecções e sublinhem que têm linha directa para a 24 de Julho.

“Eu, por sistema, não desconsidero os professores. Não parto do princípio de que as pessoas são desonestas”, contrapôs João Costa, sublinhando as injustiças do modelo actual, no âmbito o qual os professores são colocados com base numa lista nacional, em que estão ordenados em função da sua graduação profissional. “Neste momento sabemos que o modelo de contratação de professores olha para o professor em função da sua nota de fim de curso e dos dias que trabalhou [variantes do cálculo da graduação profissional]”, criticou, frisando também que esta “dimensão até desvaloriza” os professores que investem em formações específicas.

Foi este modelo de contratação de professores que permitiu a melhoria dos resultados dos alunos portugueses nos testes internacionais, que uns dias interessam e nos outros não interessam nada. Foi a transparência deste modelo de c recrutamento de professores que distinguiu a Escola Pública das práticas de muitas escolas privadas que o ministro Costa critica nos dias ímpares, mas cujas práticas quer replicar. Pelos vistos, o ministro Costa acha que a “graduação profissional” não é o critério mais adequado para escolher as pessoas para a profissão em que se foram “graduando”. Devem deixar-se os critérios a gente que – pelo que tenho lido em mais casos do que pode parecer – mal sabem escrever uma acta ou escrever um parágrafo com duas ideias sem tropeções.

No meu caso, que me desculpem, duvido explicitamente da honestidade intelectual de quem nos quer acreditar que vivemos num país de conto de fadas. E não tenho problema nenhum em dizê-lo, com a maior das calmas, na cara de quem disser que já neste momento os centralismos locais já não andam a fazer o que entendem na área da contratação de “técnicos especializados” para “ofertas educativas” à medida de certos “perfis de competências”. E não vou fingir que desconheço o que se passa efectivamente, para dar um ar de algodão doce para a a comunicação social.

Amanhã

Atendendo à dureza da semana, não me apetece ser nada meigo com quem quer facilitar apenas a sua vidinha e deixar os ossos para os outros. È que dou aulas em zonas complicadas desde sempre e não gosto que me enfiem barretes defancaria como se fossem zibelina,

Recrutamento de professores: o que deve mudar?

O Ministério da Educação começou esta semana a negociar com os sindicatos alterações ao modelo de recrutamento de professores. Devem as escolas ter autonomia para escolher os que se adequam mais ao seu perfil? Quais são os riscos e os benefícios desta opção? Porque razão é tão polémico este tema? E o que deve mudar para que o corpo docente de cada estabelecimento de ensino seja mais estável? Com novas regras vamos diminuir a possibilidade de ter tantos alunos sem aulas no arranque de cada ano lectivo? Nesta sexta-feira, às 11h30, No Ao Vivo.

(posso estar enganado, mas parece-me que uma ex-governante – não, não é essa – terá prescindido do prazer de debatermos. Mas isto sou eu a extrapolar. Posso estar enganado, repito)

A “Inclusão” Pára à Porta Da Sala De Professores

Ao longo da semana entraram nov@s alun@s nas minhas 5 turmas. Como aos restantes, abro a porta, para os conhecer e ir trabalhando com eles. Mesmo que não andasse por aí uma catrefada de gente a fazer apelos demagógicos, é meu dever e minha convicção trabalhar com tod@s e incluí-los no grupo, à medida das suas capacidades. Nunca exigi a escolha de uma proporção de alunos em cada turma. No entanto, as “lideranças” escolares parecem sentir uma enorme incapacidade em aceitar nas suas escolas quem lhes aparece, em resultado de um concurso com uma lista graduada, combinando classificação académica (obtida em cursos que provavelmente também frequentaram) e o tempo efectivo de serviço (que no caso de muitas lideranças é de gabinete e rabo sentado, com os alunos à distância, por muito que falem em “proximidades”), pelo que pedem para escolher pelo menos um em cada três professores a recrutar para os seus agrupamentos. Isso equivaleria a seleccionar 35-40 dos meus actuais alunos. Fala-se na adequação do “perfil”. Mas então não querem “desafios” ou isso é apenas para quem anda pelas salas de aula?

De que adianta gabarem-se de acolher não sei quantas nacionalidades e condições nas suas escolas, se quem trata disso é a arraia miúda? Há quem pratique uma “inclusão” de 31 de boca. E quem queira “autonomia” só para si, enquanto a “flexibilidade” fica para os outros. Hipocrisia? Claro que sim. Mas poderíamos falar em falta de competências de liderança e, porventura, uma certa carência de “formação” em gestão de recursos humanos, numa perspectiva da deontologia e empatia.

(c) Oliviero Toscano

Da Auto-Falácia

Não há artigo desta jovem opinadora que não contemple ideias mal feitas, escassez ou deturpação de informação ou apenas aparente ignorância.

Atente-se nesta passagem de um (sobre “falácias”) já com quase duas semanas, no qual tropecei para meu azar.:

É necessário cortar o mal pela raiz e diferenciar o ensino secundário do ensino superior. Enquanto as instituições de ensino superior mantiverem este método como prova de ingresso – que, por sua vez, é feito pelas escolas do ensino secundário – continuarão a perpetuar com a desigualdade, já existente, entre alunos e alunas.

Em tão poucas palavras um torcicolo na lógica a e um pontapé nos factos: 1) a maneira de acabar com o mal do ingresso no superior ser ditado pelo secundário é separar por completo o secundário do superior; 2) aparentemente, a escriba acha que os exames nacionais são feitos pelas escolas do Secundário.

O resto do artigo é igualmente fraquinho e baseado em preconceitos que nem chegam a ser propriamente “ideológicos” pois se há algo demonstrado de forma abundante é que centrar o acesso ao Ensino superior nas Universidades aumenta as desigualdades, seja entre instituições, seja entre os seus “públicos”.

O problema não é a juventude, pelo contrário, é a opção por leituras velhas.

Why American Colleges Are Becoming a Force for Inequality

Expansion, Enrollment, and Inequality of Educational Opportunity

As admissions season descends, warning signs appear for low-income applicants

O problema não é o método de entrada, mas a desigualdade económica nos contextos de origem.

5ª Feira

Não é muito difícil antecipar que a eventual vinculação directa pelas escolas terá muitos efeitos que, mais tarde, serão considerados “indesejados” e que se dirá terem sido imprevisíveis à data da tomada da decisão. Claro que não é bem assim porque as coisas estão estudadas para outras paragens e são mais do que conhecidas. Uma delas é uma variedade do efeito “porta giratória”, em que se aproveita o “mecanismo” da vinculação directa em determinado tipo de escolas, em nome de assim ser mais rápido ou “atractivo” o seu recrutamento, para depois delas sair o mais depressa possível para outras com melhores condições. Há forma de “mitigar”, como agora se diz, esse efeito mas o que a abundante “literatura” sobre o tema nos descreve é que a tal “vocação” ou “perfil” para determinados contextos escolares “desafiantes” (eufemismo para “muito complicados”) raramente resiste a melhores condições de trabalho, curiosamente até podendo sacrificar-se uma parte do salário (há casos em que existe um acréscimo salarial para trabalhar em determinadas zonas escolares). É o problema da “retenção” dos professores nas escolas mais problemáticas que abunda em estudos com conclusões muito semelhantes.

Essa “literatura” também nos explica, com algum detalhe, que o recrutamento directo pelas escolas pode ter um efeito positivo num período de tempo muito limitado, mas que a médio prazo não ajuda a combater qualquer tipo de desigualdades e até pode ter a consequência de as aumentar. A experiência demonstrou isso já no século XXI de forma muito clara. Em especial, quando se achou que seria a “localização” das políticas educativas a solução para um crescente problema de inclusão de grupos de imigrantes, mas rapidamente se verificou que isso estava a conduzir à criação de uma maior discriminação e mesmo “guetização” das comunidades escolares, em especial as que se começaram a fechar cada vez mais em si mesmas e cada vez mais indesejadas como ambientes de trabalho.

Não é por falta de estudos sobre estas questões que irão ser tomadas decisões que se revelaram pouco ajustadas em outras paragens. O mais curioso é que nuns momentos se elogia o avanço que os alunos portugueses tiveram em matéria de testes internacionais em relação aos de outros países, aparentemente mais desenvolvidos, que têm estado em acelerada descida ou incapazes de melhorar, mas não se estabelece a relação – óbvia – com a existência ou aumento da difusão de certas políticas alegadamente “descentralizadoras” na gestão do currículo e da gestão dos recursos humanos. Se tudo isso funcionasse, os resultados não teriam estagnado em alguns países anglo-saxónicos (incluindo os EUA) ou entrado em declínio (como nos longamente elogiados casos da Finlândia e Suécia).

Curiosamente, em Inglaterra o início da recuperação nos resultados é associado a medicas como “[a] massive shifts of schools from local authority (municipality) control to direct contractual relations with central government.”. Por cá, lê-se pouco e aprende-se menos ainda, porque não há nada como políticos para não realizarem ou consolidarem novas aprendizagens que contrariem os seus credos e preconceitos.