“Instrumentos De Vigilância”

Ao ministro Costa vai desaparecendo qualquer verniz que antes cobria a verdadeira natureza de “reitora com calças” ou de “gualter com ar menos grunho”. Pelos vistos, detectou alguns padrões de baixa que não são tão regulares como parecem, o que é algo que não significa bem o que parece. Ou vice-versa. Curiosamente, não encontra nenhuma “irregularidade” em alguns “padrões” de contratação, com especial “incidência” em escolas que, subitamente, têm bastantes horários por preencher em “alguns períodos específicos do ano”.

“Eu por princípio assumo que toda a gente é honesta”, mas como os animais do Orwell, há uns que são menos honestos do que os outros. Para o ministro Costa, são os professores com baixas médicas com “padrões irregulares”, achando por bem contratualizar 7500 baixas médicas para analisar individualmente situações que, no caso dos recursos no concurso da mobilidade, um parecer jurídico algo fantasmagórico considerou não ser prática legal.

Eu também assumo que toda a gente é intelectualmente honesta, até dar de caras (e ouvidos) com este nível de práticas. E ainda há quem tenha a lata de afirmar que nunca menorizou ou desvalorizou os professores. Apenas acha que os deve “vigiar”. Aos que dizem estar doentes, essa malandragem. Que tal fazer uma “mobilização parcial” de… de… está.me agora a faltar a palavra para referir aquelas pessoas que, a partir das escolas, se andam sempre a queixar dos velhos que trabalham pouco e estão sempre doentes… raios… estou a ver as caras, mas falha-me…

No Futebol São (Quase Sempre) 11 Contra 11…

… e com Portugal ganha (quase sempre) a Espanha.

Desculpem o interlúdio futebolísticos mas, eu que até costumo ver os jogos calado, estava há 15 minutos a dizer de forma parva para a televisão “mete o Palhinha que o Rubem Neves já não pode com uma gata pelo rabo”. E antes tinha intercalado com “mete o Rafael Leão, que ao menos corre…”.

Sobre Isto Não Há Nenhum “Parecer”?

Atentem na hipocrisia da argumentação, cruzando-a com a relativa à da proposta de vinculação directa de docentes pel@s senhor@s director@s.

Governo adjudica 7.500 juntas médicas para vigiar “alguns padrões de baixas” de professores

(…)

O ministro lembrou que as baixas de professores são “um padrão que tem acontecido em outros anos” e recorreu ao último ano letivo (2021/22) para afirmar que “87%, dos pedidos de substituição de professores foram por baixas médicas”, referindo existirem “alguns padrões relativamente irregulares, também em termos de incidência de alguns períodos específicos do ano”. “Eu por princípio assumo que toda a gente é honesta, mas importa recorrer a estes instrumentos de vigilância”, sublinhou.

Eu sei que ele não lê blogues, mas tem tanta gente amiga nas escolas que só pode ser mesmo por incapacidade cognitiva – ou uma profunda desonestidade intelectual – que ele não entende a razão desses alegados “padrões relativamente irregulares”.

Sublinhe-se a introdução nesta versão do “relativamente”.

E depois há sempre aquela constatação genial de ser preciso substituir professores devido a “baixas médicas”. Atendendo ao “envelhecimento” docente, nem sei como se arranjaram 13% de substituições por outras razões.

Andamos mesmo parvos, ou é apenas a fingir, senhor ministro?

(admitindo que se consegue ficar mais esperto e não apenas expert…)

Méritos Privados

Um reboliço nos últimos dias, com a reprodução em redes sociais (e até com direito a fact checking do Público) de uma imagem de parte de um documento no qual se verifica que um@ alun@ entrou no curso de Medicina da Católica com uma média inferior a 16, alegadamente porque será descendente (na imagem surge a inserção de um texto que usa o plural “descendentes” para designar uma única candidatura) de “beneméritos insignes da Universidade”.

Não percebo bem onde está a razão da indignação, porque muit@s alun@s de Universidades privadas entraram em tantos outros cursos, décadas a fio, com médias bem abaixo das exigidas nas públicas.

É porque se trata de Medicina?

É porque se trata da Católica?

Afirma-se que está em causa a “meritocracia”, mas nunca vi tanta indignação em relação a outros cursos e Universidades. Será a entrada neles menos “meritória”? Continuamos parvónios reverentes dos futuros shôtôres médicos? Mas será que não sabem que há quem, antes disto, fosse para Espanha fazer o curso e entrasse com médias ainda mais baixas? Pedindo depois equivalência, ao fim de um ou dois anos, e entrando cá nas Universidades públicas pela chamada “porta do cavalo”?

O pessoal anda mesmo muito distraído.

Aposto que parte deste pessoal distraído defende que as Universidades públicas escolham os seus alunos, como se fossem imunes a este tipo de “influências”. Ou então acham que os exames são maus, mas afinal, porventura e quiçá, até consideram que o acesso à Universidade não pode ser deixado aos humores dos “seleccionadores”. Estão mesmo a ver o resultado do “sistema” que querem implementar? Acham que será muito melhor do que o “modelo” de certos concursos públicos “locais” para animações sociais e outras coisas extra-curriculares?

Tão distraíd@s, mas tão distraíd@s andam cert@s indignad@s que nem percebem que o “mérito” que está aqui envolvido é fundamentalmente financeiro. Sim, já há por cá cursos que custam quase tanto como um bonzinho nos States. E não é tão giro quando, perante um investimento a rondar os 20.000 euros anuais (cerca de 25.000 na fase do mestrado), se prevê a passagem de certificados para “benefícios sociais” ou mesmo “abono de família”?

Ainda A Propósito Da “Realidade Desafiante”…

… do ministro Costa nas suas recentes declarações acerca da sua dificuldade em fazer corresponder os factos que todos observamos com as suas teorias algo preconceituosas e formatadas quanto à gestão dos recursos humanos nas escolas, lembrei-me daqueles teóricos (tive alguns professores assim na Faculdade) que quando a realidade não encaixa nos seus modelos, martelam-ma até parecer que cabe. Já há uns meses usara o qualificativo para o que ele acha ser um currículo “mais desafiante e ambicioso”, em mais uma daquelas suas intervenções que transpira ideias pré-concebidas sobre a “realidade” das escolas e das salas de aula.

Só que “desafiante” mesmo é explicar a mais de duas dezenas de encarregados de educação que a “realidade” dos seus educandos é muito diferente da pintada pelo ministro de cara compungida na televisão.

Mas, ainda bem que o ministro percebe que a realidade desafia as suas convicções porque isso poderia (embora duvide) ser um décimo do caminho a percorrer até perceber que está errado acerca de muita coisa. Dizem que até os burros mudam de ideias; o problema é quando não se percebe que não se é assim tão inteligente.

(ou não…)

3ª Feira

Políticos cinzentões, que ora dizem uma coisa, ora o seu contrário comprometidos com negócios comuns, que se percebe encenarem divergências para consumo mediático, espantam-se com a ascensão dos “radicais” e dos “populismos”. Depois do pânico com os “radicais de esquerda”, rapidamente normalizados como na Grécia ou na geringonça nacional, agora alarmam-se com o crescimento da “extrema-direita”. Culpam tudo e todos, menos a si mesmos, os principais responsáveis pela erosão da credibilidade de muitas democracias liberais, que capturam, como se fosse coutada exclusiva para os seus interesses.