Vede como eu adiro à geração do tico e do teco.
Mês: Outubro 2022
Se Tantos (Quase Todos) São Lula…
… porque ganhou ele por apenas 1%?
Se insistirem em esconder as razões da polarização atrás da vitória, daqui a quatro anos terão de volta o que acham ter vencido, mais ou menos utilização abusiva do vocabulário político, que é uma das razões para polarizar ainda mais as coisas. Chamem-lhe mentecapto, ignorante ou estúpido. A parte do “fascista” é mais complicada, porque o verdadeiro fascista depois de ganhar a primeira eleição, não perde mais nenhuma.
Há demasiada gente a dar palmadinhas nas costas de si mesmo e dos amigos (no Público, saiu à rua todo o bicho careta e até os aspirantes) para qualquer análise séria do que se passou e vai passar. Pela manhã, ouvia na TSF dizer a alguém que os pobres iam hoje fazer churrasco e pelo meio até falavam em picanha. Abençoados os pobres que têm um talho sem alarmes na maminha.
Esferográficas Politicamente Correctas
Como é sabido, sou um pitecantropo em termos pedagógicos e de sensibilidade metodológica. Ser neandertal seria um progresso. Por isso, ainda corrijo e classifico testes a vermelho, na maioria das situações, marco certos e errados para horror das pessoas que já evoluíram para a Educação do século XXI. E ainda tenho de fazer algumas coisas em suporte papel e nem me perguntem porque não é tudo digital, que ainda me dá um fanico.
Por isso, preciso de esferográficas vermelhas (as minhas 5 turmas têm 24+23+24+28+27 alunos, salvo erro, com a de 28 a valer por duas por causa da Cidadania nesta primeira metade do ano). Mesmo descontando os abandonos informais recorrentes fico com 115-120 questões de aula/fichas formativas ou fichas sumativas/testes por avaliar, corrigir, classificar, monitorizar, fidebécar, whatever. Isso não vai lá com compras a retalho, implica aquisições por grosso.
Só que não sei se repararam mas as esferográficas vermelhas e a sinalização a vermelho nos materiais produzidos pelos alunos estão sob fogo pesado do politicamente correcto, mesmo quando parte da malta das bandeiras vermelhas. Que não… que o vermelho anatemiza, cria traumas, sinaliza de forma discriminatória o desempenho dos alunos. O que me espanta porque eu marco os certos com a mesma cor dos errados, mas deixemos de parte mais essa incongruência. Concentremo-nos no facto de, por estes dias, ser impossível encontrar um pack ou caixa apenas de esferográficas vermelhas, como antes se encontravam, a par dos packs ou caixas de esferográficas pretas ou azuis. E quando são packs com várias cores, há uma vermelha por cada meia dúzia de azuis, punhados de pretas e uma ou duas verdes. Até nas famosas “lojas do chinês” não se consegue encontrar, como ainda há poucos anos, uma caixinha com dez canetitas da cor da revolução, do benfica e da ferrari.
Hoje, em quase desespero, perguntei à funcionária de uma loja Staples se tinha e ela disse que não. E eu perguntei porquê e ela disse que já não faziam ou pelo menos não aparecem na loja, a menos que sejam umas da bic (empresa fascista, já se vê!) que são carotas; e eu perguntei porquê e ela encolheu os ombros, o que é natural numa rapariga com cara de ter sido minha aluna há muitas luas e não se preocupar com os porquês deste mundo, limitando-se a viver de modo a manter o emprego precário e divertir-se um pouco ao fim de semana, quando tem folga.
Eu percebo e já ouvi mais de uma vez colegas a dizerem coisas más de escrevermos a vermelho nas fichas dos alunos. E elas escrevem com outras cores como o verde, o que, mesmo sendo do Sporting, eu estranho mas até poderia considerar se me dessem uma explicação racional. O que não é o caso. Porque a mesma malta que defende que as notas e classificações resultam de “fabricações” artificiais, acham que as cores trazem consigo, de forma intrínseca, qualidades de tipo moral. Vermelho é mau. Verde é bom. Porquê, fora do futebol? Tudo é uma convenção, uma “fabricação”, mas vós só olhais para um dos lados, logo o do olho vesgo?
Ai… que não podemos traumatizar as crianças. Depende. A minha aluna que teve 99% levou para casa uma folha cheia de obesos certos e parecia feliz. Já quem não fez quase nada, nem errados levou, que eu só tranquei as linhas das não respostas. Não me pareceram nada traumatizados, antes indiferentes.
E quem diz que não devemos traumatizar as crianças? Em regra – tirando aqueles eduqueses alaranjados azuis celestes muito católicos e caridosos, almas em busca de fantasias e asas a planar sobre os prados – são os herdeiros das revoluções bem vermelhas e que agora podem ter rosado, ficado mais lilases ou arco–íris, mas que não conseguem perder a nostalgia da cor da revolução, da cor do progresso, mais ou menos sangue derramado. Que podem agora debitar haikus por todos os poros, que bem sabemos que outrora não lhes afligia qualquer vermelho, incluindo o do tal sangue derramado.
O curioso é que a mim não aflige nada que os alunos escrevam nos cadernos com as cores que bem entendem. Mas muita desta malta a quem o vermelho fere a sensibilidade, obriga a petizada a escrever os seus apontamentos e sumários nas cores mais tristonhas da paleta, porque o azul das canetas só é alegre se for azul bebé ou azul cueca de bebé e esse não é permitido. O que é – penso eu – idiota, porque a flexibilidade quando nasce é para todas as cores e todas as circunstâncias, não apenas para coisas parvas.
Resumindo, tive de comprar um pack de dez esferográficas para ter uma vermelha, uma meio rosada (sempre que a olho lembro-me dos costas) e outra fúchsia ou talvez antes violeta (que me faz logo lembrar a malta do bloco dos pedabobos). aquilo só vai dar para duas turmas… e lá terei de ir comprar à unidade ou então tenho de usar a verde, a lilás, a amarela e laranja, mas depois ainda dizem que sou de direita e agora não me apetece, porque amanhã é feriado e acabei de dar gomas em forma de abóbora a umas crianças que me bateram à porta e as abóboras são alaranjadas.
E a modos que é assim.
2ª Feira
Boa Noite
As Presidenciais No Brasil
Clicar aqui ou na imagem para seguir os resultados ao vivo. Começam a sair a partir das 20.00 de cá, mas devem demorar um bom bocado.
Por Cá, Esperamos…
… que se faça algo vagamente parecido (seja pela economista Peralta, pelos seus colegas da Nova SBE, pelo ex-ministro Justino que já fez um Atlas e tudo ou pelo CNE), por muitas reservas que tenha quanto à exequibilidade da coisa (e apesar da dimensão do nosso país nem ser vagamente comparável à dos E.U.A.), atendendo ao modo como andamos a tratar a avaliação das aprendizagens, mais do ponto de vista ideológico e com toda a prioridade na legitimação das políticas e nada no sentido de questionar o que foi feito a nível das orientações políticas. fazem-se uns estudos de caso, uns inquéritos quanto á opinião de umas amostras cuidadosamente seleccionadas e as conclusões escrevem-se sozinhas.
Created by experts at Stanford and Harvard, the Education Recovery Scorecard offers the first comparable view of district level losses during COVID
Domingo
Eu sei que me repito, numa espécie de mantra. Só que em crescente desânimo. Apesar de fim de semana, porque o resto do tempo não dá para muito, estive a ler um par de contra-alegações de umas SADD que, claramente, parecem, clubes de menin@s rabin@s que gostam de bater o pé e birrar se lhes parece que estão a contestar-lhes a “aplicação da lei”. Começo a ficar sinceramente farto de ler coisas em que se destratam colegas que, na origem, tiveram classificações de excelência, superiores a 9, mas que por causa das quotas foram atirad@s para o “bom” que as leva para as listas de acesso ao 5º e 7º escalões. Passemos adiante do facto de termos agora a presidir a tais órgãos uma nova vaga de director@s que até podem estar abaixo na carreira das pessoas que foram avaliadas e de quem nem sequer poderiam ser avaliador@s em circunstâncias regulares “de acordo com a lei”. Foquemo-nos no esforço feito para demonstrar que as pessoas não merecem o tal “Excelente” ou “Muito Bom” porque, afinal, apesar de terem 9,2 ou 9,4 ou 9,6 ou mesmo mais, só fizeram a sua obrigação e nada mais. Mesmo se nada aprece registado como negativo nas avaliações internas e externas. O cúmulo do ridículo é ler numas contra-alegações num processo de recurso que a pessoa que teve nove vírgula já não sei quantos, desobedeceu às “ordens” da sua directora. Mas, afinal, sendo assim, tendo isso ocorrido e sido verificado, como não existiu processo disciplinar e a pessoa acabou avaliada quantitativamente no nível de excelência. Esta gente endoidou de vez na defesa do modelo que quase tod@s dizem injusto, mas depois se prontificam para se assumirem seus ferozes defensores? Mais do que desorientação, isto é um grave problema de subida do poder à cabeça de gente muito fraca de carácter.
Ter de lidar com isto, ter e ler estas coisas, enlameia-nos, mesmo quando estamos do lado que quer fazer um mínimo de limpeza em toda esta podridão. A vontade, o ânimo, escasseiam-nos quando se tem de lidar com o que de pior pode ter a natureza humana na sua tentativa o que nem se percebe bem.
Pena é que o sonso ministro não seja confrontado com este nível de analfabetismo cívico quando aparece por aí a regougar balelas sobre cidadania, inclusão e equidade. Até porque em vários casos, emanam de fiéis seguidor@s. Como o outro,
Boa Noite
Poder Ajudar Alguém…
… com um esforço relativamente modesto e recusar, apesar de ser numa causa que sempre se disse defender, não me faz desacreditar na natureza humana, mas apenas confirmar as minhas piores expectativas em relação a quem acha que fazer umas passeatas e ficar em casa de vez em quando chega para marcar uma posição.