Dia: 24 de Outubro, 2022
O Abraão Não Se Vai Conseguir Sentar Durante Quanto Tempo?
De tão entusiasmado, claro. Porque o que ouvi na TSF era de alguém que não conseguiria meter uma palhinha no copo de sumo. Com a idade que tem, também já não se deve preocupar muito com o futuro alheio. Está aqui, estará onde andam outros, em reformas com muitos douradinhos.
Acreditamos sinceramente que damos hoje [esta segunda-feira] um passo importante no sentido do reconhecimento do trabalho que todos os trabalhadores da administração pública” realizam, destacou José Abraão.
Monarquia Liberal
Gosto da forma como os liberais se sucedem, sempre com a benção do anterior. Um exemplo para essa malta republicana sempre às turras uns com os outros. E as paisagens bucólicas e verdejantes ficam sempre bem nestas coisas.
Aquilo Que A Certas Luminárias Pareceu Uma Grande Ideia De Gestão, Se Calhar Foi Um Dos Principais Motivos Para Isto Andar Tudo Lixado
Explicando sem muitos detalhes: há cerca de 20 anos iniciou-se um processo de “racionalização” da gestão dos recursos humanos da Educação, que por uma vez não começou com Maria de Lurdes Rodrigues, mas com David Justino, mesmo se foi ela que deu o maior impulso, que passou pelo encerramento de muitas escolas, pela criação de mega-agrupamentos e pela concentração dos serviços administrativos (e não só) nas escolas-sede, não substituindo quem se aposentava ou saía para outras paragens, numa lógica de “centralismo” a que chamaram outra coisa, porque só chamam “centralistas” a coisas que não gostam e nunca às porcarias que fizeram.
O resultado, foi a sobrecarga dos ditos serviços e, mais geral, de todo o pessoal docente, sendo necessário deslocar tarefas para o pessoal docente, pois inventou-se aquela coisa dos professores só trabalharem 22 horas, pelo que era preciso “discipliná-los” e inventou-se a componente não lectiva e muito em especial a componente do trabalho na escola sem alunos que, com o passar do tempo e a conivências de todos os ministros seguintes – com destaque para a versão “mais com menos” de Crato que nem Tiago, nem João reverteram, por muito que se armem em nulos ou sonsos – desaguou em termos professores, licenciados e mestres, a apagar manuais, a distribuir chaves de cacifos, a desempacotar computadores, a recolher notas e moedinhas para pagar os cartões electrónicos e mais uma série de tarefas – como acompanhar os alunos nos recreios e refeições no 1º ciclo e pré – que passaram por servir para poupar no pessoal auxiliar, mas só servir para agravar o esgotamento dos docentes e a perda de sentido do seu trabalho nas escolas.
Não é que nenhum parente me caia na lama por fazer essas coisas, mas é capaz de ser um desperdício do meu tempo, mesmo se me fizeram congelamentos e cortes salariais. São funções que não me parecem próprias de docentes que, até se impor esta ideologia deplorável do professor-como-mero-cuidador-de-crianças-e-orientador-de-aprendizagens, com muito sucesso entre pedagogos com estadias prolongadas no Brasil (não é só o José Pacheco… que se note), seriam encaradas como completamente desadequadas a quem fez um curso superior, uma profissionalização e/ou mestrado em ensino, mesmo que bolonhês.
Não me parece que seja necessário criar qualquer “grupo de trabalho” para perceber que isto é um disparate que se alonga no tempo, sem quaisquer ganhos para os alunos e, em termos de finanças públicas, com escassa lógica, a menos que seja para economistas da educação para tótós. Ou para tótós que acham que são economistas da educação (ui… que agora são muitos), especialistas em finanças públicas (mais que muitos) ou “boa governança” da coisa pública (muitos coincidem, se não contarmos com a ex-secretária e ex-ministra, agora opinadora com chancela do Pacheco Pereira, Alexandra Leitão).
Parece-me por demais óbvio que há coisas que aos professores não deveria ser pedido que fizessem, a menos que se ofereçam, que há gente com vocação e gosto para tudo e quem sou eu para lhes tirar das mãos a oportunidade de aparecerem na televisão de borracha em punho, a rir-se muito, porque estão a colar manuais escolares, destroçados por um ano de uso.
Que me pareça, este tipo de coisa não faz parte de qualquer “conteúdo funcional” do ECD, sendo apenas um aproveitamento altamente abusivo e disfuncional do tempo de trabalho docente. Se é preciso juntar gente a discutir o que é preciso para desburocratizar o que é redundante no sobre-trabalho dos professores é porque não querem, verdadeiramente, fazer nada de relevante.