Uma vitória é uma vitória, mesmo que seja com a mão do Vata. Mas esta vitória do Lula é curta e, principalmente, muito marcada em termos geográficos e sociais. Mais um grande país do Ocidente “liberal” completamente partido ao meio.
Entre um ladrão corrupto boçal e um boçal provavelmente ladrão corrupto… votaram no primeiro.
É curioso que as zonas mais ricas e produtivas do Brasil estiveram com o segundo e as pobres e vivendo do assistencialismo no primeiro… ou não. Por cá, o socialismo também vive dos pensionistas e FP.
Dito isto, conversando com brasileiros que conheço, a sensação com que se fica é a que supomos: votou-se no mal menor.
Por último, fico sempre admirado com a forma como se saca da arma do fascismo por tudo e por nada.
PS. Podemos considerar Santos Silva como fascista por ter dito não à exposição na AR por denunciar o comunismo?
Já agora quando alguém afirma que quer “malhar na direita”, isso faz dele um enorme democrata???
Pelo menos faz dele a segunda figura da nação! Os discípulos do Bolsonaro andam aí…
No contexto desta temática, penso que seria pertinente ler/ouvir os comentários que Lídia Jorge teceu à volta do avanço da extrema-direita (que não confunde com direita democrática) numa entrevista concedida à TSF no passado dia 20 de Outubro no âmbito da apresentação do seu novo livro “Misericórdia”.
Deixo só um pequeno mas significativo extrato, onde estabelece diferenças entre os campos da direita e da esquerda, e onde fala do perigo da extrema-direita, no Brasil e no mundo.
Minuto 37:54
“(…) Teresa Dias Mendes – (Portanto terá outros seguramente). E nesse contexto do mundo que nos cerca como é que a Lídia Jorge olha para o galope da extrema-direita na Europa?
Lídia Jorge – Faz parte da desconstrução das coisas, não é? A extrema-direita faz parte da desconstrução das coisas, porque o problema da extrema-esquerda é fazer crer que é possível emendar o mundo de uma forma que não é possível.
Mas tem uma utopia, utopia de distribuir por todos, a utopia da fraternidade, quer dizer, há sempre, digamos, um lado de bondade na extrema esquerda, mesmo a mais violenta, mas há sempre essa utopia salvadora.
Na extrema-direita não há. A extrema-direita discrimina, a extrema-direita abre a porta a tudo o que nós sabemos que é antidemocrático. A extrema-direita está permanentemente a pensar no momento em que tomará o poder e não o quer largar. Em que fará uma escala de pessoas entre as que prestam e as que não prestam, separará sempre os que são inteligentes dos burros, separará sempre os pobres dos ricos, criará novos pobres, criará novos ricos, de com uma outra lógica, portanto ali está o grande perigo na, da extrema-direita. Agora também não pode confundir toda a direita ou várias direitas com aquilo que é a extrema-direita.
A extrema-direita é aquilo que conduz, digamos, aos estados totalitários, não é?
E eu considero que a extrema-direita vence porque é filha, porque se alimenta do espectáculo permanente que a política se tornou. Política hoje é espectáculo e porque se alimenta de uma coisa que é dar voz a todas as pessoas que não têm educação para falar com os outros, e portanto cria uma, uma, uma linha de raiva permanente entre, entre grupos humanos que se contaminam uns aos outros, que se enraivecem mutuamente, sem passar por aquilo que é o momento da racionalidade, o momento da contemporização, do diálogo e devia auscultar quem sabe mais.
Isto que está a acontecer é fruto daquilo que se vê, alguém que nas redes sociais um comentário bem educado. Passados dez, dez comentários, as pessoas já estão a nível dos insultos. Como é que é possível, digamos, esta pirâmide que se cria, uma espécie de inflação da raiva, do ódio que não deixa, por que há uma raiva e um ódio que podem ser positivos nas sociedades, porque… e que geram mudança, transformação, que são … que reivindicam justiça por exemplo, não é?
Quando as sociedades por vezes entram em raiva contra a injustiça é um bem, não é?
Agora isto são raivas gratuitas que não deixam ver a verdade, que não deixam espaço para aquilo que é importante, que é ter tempo para contemplar posições opostas, e ver quais são os argumentos de um lado e doutro, e escolher entre os lados opostos, mas com racionalidade e com tentativa de cooperação entre as partes diferentes. Isto está desaparecendo. Portanto hoje sigo com muito cuidado e com muita preocupação o que se passa no Brasil, porque está sendo a imagem daquilo que pode acontecer em qualquer …
Teresa Dias Mendes – Estamos a poucos dias do segundo turno das eleições e na eminência de Bolsonaro poder renovar o seu mandato como presidente.
Lídia Jorge – Pode acontecer em qualquer parte do mundo isto que está a acontecer no Brasil. O Brasil é um tubo de ensaio, pura e simplesmente.
Pode acontecer em qualquer parte do mundo, isto: a mentira prevalece, o insulto permanece, a orquestração entre notícias falsas permanece, e mais, a passagem da mensagem, da mensagem de o forte que não tem medo de ofender o fraco. Está passando. Isto de facto é alguma coisa que não é próprio só da América do Sul, pode contaminar de facto … é o mesmo esquema que está sendo ensaiado em algumas, na própria sociedade europeia. (…)”
Vale mais ter um corrupto a governar que um doente mental fascista beligerante.
Infelizmente era a escolha possível.
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Faz-me imensa confusão haver tanta gente do lado de cada uma dessas barricadas, cada uma mais podre do que a outra.
Não há terceira via, Brasil?
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Entre um ladrão corrupto boçal e um boçal provavelmente ladrão corrupto… votaram no primeiro.
É curioso que as zonas mais ricas e produtivas do Brasil estiveram com o segundo e as pobres e vivendo do assistencialismo no primeiro… ou não. Por cá, o socialismo também vive dos pensionistas e FP.
Dito isto, conversando com brasileiros que conheço, a sensação com que se fica é a que supomos: votou-se no mal menor.
Por último, fico sempre admirado com a forma como se saca da arma do fascismo por tudo e por nada.
PS. Podemos considerar Santos Silva como fascista por ter dito não à exposição na AR por denunciar o comunismo?
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Bolsonaro não é fascista. Tens razão. É hiper-fascista.
Já agora Sísifo.. és FP? Ou és hiper-FP
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Já agora quando alguém afirma que quer “malhar na direita”, isso faz dele um enorme democrata???
Pelo menos faz dele a segunda figura da nação! Os discípulos do Bolsonaro andam aí…
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Normalmente, sou uma pessoa educada.
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Não sei se será bem uma vitória, pois o bolsonarismo continua muito activo, dominando grande parte das instituições e corredores do governo.
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Finalmente, concordamos a 100%.
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No contexto desta temática, penso que seria pertinente ler/ouvir os comentários que Lídia Jorge teceu à volta do avanço da extrema-direita (que não confunde com direita democrática) numa entrevista concedida à TSF no passado dia 20 de Outubro no âmbito da apresentação do seu novo livro “Misericórdia”.
Deixo só um pequeno mas significativo extrato, onde estabelece diferenças entre os campos da direita e da esquerda, e onde fala do perigo da extrema-direita, no Brasil e no mundo.
Minuto 37:54
“(…) Teresa Dias Mendes – (Portanto terá outros seguramente). E nesse contexto do mundo que nos cerca como é que a Lídia Jorge olha para o galope da extrema-direita na Europa?
Lídia Jorge – Faz parte da desconstrução das coisas, não é? A extrema-direita faz parte da desconstrução das coisas, porque o problema da extrema-esquerda é fazer crer que é possível emendar o mundo de uma forma que não é possível.
Mas tem uma utopia, utopia de distribuir por todos, a utopia da fraternidade, quer dizer, há sempre, digamos, um lado de bondade na extrema esquerda, mesmo a mais violenta, mas há sempre essa utopia salvadora.
Na extrema-direita não há. A extrema-direita discrimina, a extrema-direita abre a porta a tudo o que nós sabemos que é antidemocrático. A extrema-direita está permanentemente a pensar no momento em que tomará o poder e não o quer largar. Em que fará uma escala de pessoas entre as que prestam e as que não prestam, separará sempre os que são inteligentes dos burros, separará sempre os pobres dos ricos, criará novos pobres, criará novos ricos, de com uma outra lógica, portanto ali está o grande perigo na, da extrema-direita. Agora também não pode confundir toda a direita ou várias direitas com aquilo que é a extrema-direita.
A extrema-direita é aquilo que conduz, digamos, aos estados totalitários, não é?
E eu considero que a extrema-direita vence porque é filha, porque se alimenta do espectáculo permanente que a política se tornou. Política hoje é espectáculo e porque se alimenta de uma coisa que é dar voz a todas as pessoas que não têm educação para falar com os outros, e portanto cria uma, uma, uma linha de raiva permanente entre, entre grupos humanos que se contaminam uns aos outros, que se enraivecem mutuamente, sem passar por aquilo que é o momento da racionalidade, o momento da contemporização, do diálogo e devia auscultar quem sabe mais.
Isto que está a acontecer é fruto daquilo que se vê, alguém que nas redes sociais um comentário bem educado. Passados dez, dez comentários, as pessoas já estão a nível dos insultos. Como é que é possível, digamos, esta pirâmide que se cria, uma espécie de inflação da raiva, do ódio que não deixa, por que há uma raiva e um ódio que podem ser positivos nas sociedades, porque… e que geram mudança, transformação, que são … que reivindicam justiça por exemplo, não é?
Quando as sociedades por vezes entram em raiva contra a injustiça é um bem, não é?
Agora isto são raivas gratuitas que não deixam ver a verdade, que não deixam espaço para aquilo que é importante, que é ter tempo para contemplar posições opostas, e ver quais são os argumentos de um lado e doutro, e escolher entre os lados opostos, mas com racionalidade e com tentativa de cooperação entre as partes diferentes. Isto está desaparecendo. Portanto hoje sigo com muito cuidado e com muita preocupação o que se passa no Brasil, porque está sendo a imagem daquilo que pode acontecer em qualquer …
Teresa Dias Mendes – Estamos a poucos dias do segundo turno das eleições e na eminência de Bolsonaro poder renovar o seu mandato como presidente.
Lídia Jorge – Pode acontecer em qualquer parte do mundo isto que está a acontecer no Brasil. O Brasil é um tubo de ensaio, pura e simplesmente.
Pode acontecer em qualquer parte do mundo, isto: a mentira prevalece, o insulto permanece, a orquestração entre notícias falsas permanece, e mais, a passagem da mensagem, da mensagem de o forte que não tem medo de ofender o fraco. Está passando. Isto de facto é alguma coisa que não é próprio só da América do Sul, pode contaminar de facto … é o mesmo esquema que está sendo ensaiado em algumas, na própria sociedade europeia. (…)”
Pode ouvir-se integralmente aqui:
https://www.tsf.pt/portugal/cultura/escrevi-este-livro-sobre-o-eco-da-voz-da-minha-mae-lidia-jorge-apresenta-misericordia-na-tsf-15270472.html
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