Sábado

Algumas grandes autarquias afirmam recusar a transferência de competências do Estado Central. Mas ao que parece trata-se apenas da Saúde, que já se sabe ser coisa complicada e não ter professores com principais funcionários. Não me parece que alguém vá sugerir que “conselhos de não sei quantos” decidam do “perfil de competências” dos médicos a contratar para os Centros de Saúde. Por muito que possam achar outra coisa, ninguém contesta a competência profissional dos médicos, definida a partir da sua média académica e tempo de serviço. Isso é que era bom. Nem lhes limitam artificialmente mobilidades ou sugerem “quadros intermunicipais de médicos” (ou mesmo de enfermeiros). Faltam médicos de família em muitos sítios, há mais tempo do que professores para substituições, mas os artigos de opinião sobre o tema são pouquíssimos e o alarido em redor da Saúde, num ponto tão crítico como esse, não se assemelha vagamente à barulheira criada na Educação para justificar as manigâncias em preparação. em relação à saúde e aos médicos, os autarcas lidam com pinças que, no caso da Educação, se transformam em tenazes.

E ainda há quem acuse os professores de “corporativos”. Basta comparar a forma como se unem efectivamente e como têm poder de choque, enquanto na Educação há quem esteja sempre pronto a desertar à primeira migalha de poder ou ugar à mesa que se lhes ofereça. Daí a dúzia de sindicatos e a miríade de associações disto e daquilo, sempre prontas a dividir-se para ajudar quem reina. E quem fala mais grosso tem sido, em regra, que sai da linha da frente de forma mais rápida. Os médicos, por muitos interesses particulares ou inimizades que existam, confiam uns nos outros, enquanto classe profissional com os mesmos objectivos globais. Entre os professores, há sempre aqueles que acha que fazem mais, que deveriam mandar mais, que deveriam ganhar mais do que os outros.

É a diferença entre uma classe profissional que ainda resiste à erosão que o poder político procura impor aos grupos intermédios com algum poder na sociedade e uma outra que é constituída, em boa quantidade ao nível das “representações”, por malta que anda a ver se cuida da sua vidinha e depois logo se vê o que acontece aos outros. E falo também ao nível local, de escola.