A Sério? É Esta A Agenda Negocial?

São estas as questões mais importantes neste momento para a classe docente, seja candidatos à profissão ou professores dos quadros? Um dos três principais problemas é mesmo a questão das vagas para os doutorados? a quem ou quantos isto interessa verdadeiramente? E olhem que falo como um deles, mesmo se já não necessitado de vaga.

A FENPROF reúne amanhã com o Ministério da Educação, dando início a um processo negocial que conta com três assuntos: contagem de tempo de serviço prestado pelos educadores em creche, dispensa de vaga para progressão aos 5.º e 7.º escalões de docentes com doutoramento e aprovação de um regime de concursos e de um concurso extraordinário de vinculação para os docentes das escolas artísticas.

Ok… vão apresentar outras questões, mas não parece tudo ao molho e vale tudo o mesmo, pelo que se responderem às micro-questões, esquecem-se as outras, como o futuro regime de vinculação e gestão dos recursos humanos docentes, mais até do que o “regime de concursos” que já é uma manta de retalhos?

Para além dos três assuntos referidos, a FENPROF irá colocar outros: pedidos de esclarecimento relativos às intenções da tutela para a revisão do regime de concursos; eliminação da discriminação salarial dos docentes contratados a termo; resolução do problema que empurra docentes do GR 530 para técnicos especializados; Mobilidade por Doença; atividades a atribuir aos docentes mais antigos em regime de monodocência e vigilância nos intervalos no 1.º Ciclo; aspetos atinentes ao protocolo negocial proposto pela FENPROF e, até agora, sem resposta do ME; redução de componente letiva a docentes de LGP, ao abrigo do artigo 79.º do ECD; financiamento público do ensino profissional e artístico. Também serão pedidas informações sobre as consequências da integração das delegações regionais da DGEstE nas CCDR, decidida pelo governo, e denunciadas as limitações impostas pela delegada regional da DGEstE Centro ao exercício da atividade sindical.

Desmemória

A colega em causa que me desculpe, porque não a vou identificar, mas, ontem, numa mensagem privada no fbook, alguém me mandava um texto em que se apelava à memória de 2008 e mais umas coisas que achei um pouco a despropósito, sobre como dinamizar movimentações à imagem do sindicalismo convencional porque eu me lembro bem de 2008. Claro que ninguém é obrigado a lembrar-se, se lá não esteve, se na altura tinha outras prioridades, se ainda não dava aulas ou estava em algum casulo protegido. Ainda me lembro de alguém que passou como cometa na blogosfera que me respondia sempre “ahhh… isso não é do meu tempo”, quando eu lhe chamava a atenção para a redundância de algumas posições em relação não só ao que se passou em 2008, mas mesmo em 2003, nos tempos do Justino, ou em 2000 (e antes) com a gestão flexível do currículo.

Desta vez, com a maior candura, alguém me escreve “Paulo, só hoje tive conhecimento destes Movimentos (APEDE, PROMOVA, etc) por uma fonte fidedigna.”

Mas a que ponto chegou o desconhecimento do passado, não assim tão remoto das lutas dos professores nos últimos 15 anos, para não ir mais longe?

Esse desconhecimento é crítico porque se podem voltar a cometer erros desnecessários (a infiltração de “submarinos” em certas organizações) ou a não se aprender com experiências que falharam ou não são replicáveis no presente. Quando os próprios professores, que querem dinamizar uma nova vaga de contestação revelam desconhecer o que se passou há 14-15 anos, como se tudo tivesse começado no “seu tempo” é como eu aparecer e dizer que não faço ideia do que foi a “gestão democrática das escolas” ou os debates em torno da Lei de Bases do Sistema Educativo, da origem histórica do ECD ou mesmo de coisas já inclusivas como o mítico – e tão simples – “319”, que a malta “velha” recordará, mas nada significa para milhares e milhares de docentes mergulhados no “54” ou, no limite, a “lei 3/2008”.

Um dos grandes problemas que vejo na “preparação da luta” é algo paralelo ao que se passa quando se pretende que os alunos “construam o seu saber” a cada nova formada, como se antes nada existisse, em cima do que podemos construir algo novo e mais avançado, em vez de repetirmos caminhos.

Sobre a memória de 2008 já escrevi na altura e depois. Não me apetece estar sempre de volta ao que deveriam ser outros a tentar saber, antes de falarem do que não partilharam para – repito – evitar erros passados.

Em 2022 ou 2023 gostaria que fossem construídas novas memórias e, se possível, com maior sucesso, porque ninguém que por lá andou – tirando os representantes inoxidáveis do regime que são quase todos os mesmos – acha que o saldo de 2008 e 2009 foi um grande sucesso. É perguntar ao António (Ferreira), ao Mário (Machaqueiro), ao Ilídio (Trindade), ao Ricardo (Silva), ao Octávio (Gonçalves), para nomear apenas alguns cujo papel muito importante parece já ter sido esquecidos na voragem do tempo médio, nem sequer do tempo longo.

O que talvez sirva a quem tanto se tem esforçado por apagar a memória do que efectivamente se passou. Não apenas na classe política.

45+3 Minutos De Um Imenso Frete

Anda um tipo à pressa para chegar a cas e ver um jogo de bola – já não peço um Espanha-Alemanha ou mesmo um Canadá-Croácia a outro nível – e leva com uma xaropada em que 23 criaturas (incluindo o Raphael que entrou) parecem estar ali imensamente entediados por terem de andar a correr e passar uma bola.

Embora seja o modelo de jogo preferido deste engenheiro sem aspas, um tipo dá quase uma hora de vida por desperdiçada. Será que na segunda parte entra a banda e eles (nos) acordam?

2ª Feira

A caminho da escola ouvia, de viva voz, no noticiário das 8, as declarações de Santos Silva a caminho do Qatar, por muito que discordemos da figura e da sua imensa hipocrisia, há que reconhecer que pertence a uma outra geração de políticos que consegue dizer muita coisa, não dizendo nada de relevante, mas parecendo que disse o mais importante. A velha escola do esquerdismo nacional criou imensos e bons quadros para o centrão pastoso em que vivemos.