Coincidências

Com poucos dias de diferença, o ministro Costa e o sindicalista Nogueira fizeram enérgicas intervenções mediáticas, revelando evidente agastamento com as redes sociais e blogues e coisas assim, tipo, más-más-más. Do pior. Tipo… mentiras, que não o são bem, mas agastam. Como estão formalmente de lados diferentes da “luta político-sindical”, quase parece estranho esta semelhança de atitude agastada.

Nogueira Em Modo De Guerra

Mário Nogueira escreve hoje no Público (que coincidência!) um artigo com uma energia e intensidade só equiparada ao modo vago como se refere aos seus fantasmas habituais (“alguns” blogues, redes sociais, mails, whatsapp, o costume): Fica-se sem saber exactamente ao que se refere e a quem se refere, apenas se percebendo que faz a defesa do sindicalismo “responsável” perante aquele que é menos “respeitoso” para com o sistema estabelecido nas últimas décadas. Só é mesmo pena que, quando foi publicada a notícia que ele identifica sobre os salários dos professores, no jornal de que ele é articulista residente, não tivesse revelado esta mesma energia e detalhe na desmontagem da falsidade. Basta comparar a prosa de então com a de agora, na extensão e na intensidade da defesa/ataque. Ou seja, uma falsidade sobre todos os professores dá uma colunita de texto, enquanto agora nos atira com 5000 caracteres bem medidos e indignação acerca das críticas que lhe são feitas e à Fenprof.

Mário Nogueira até pode ter razão em parte do que afirma, não vou negar isso. Há por ali coisas certas, mas nem sempre pelas melhores razões. Eu até posso subscrever alguns daqueles parágrafos, mas nunca o tom e os alvos preferenciais.

Mário Nogueira deveria olhar para os anos em que tem estado à frente da Fenprof e ter a humildade de reconhecer que acumulou derrotas, empates e talvez uma ocasional vitória contra a equipa C do adversário. Não digo isto com qualquer tipo de felicidade ou numa de gozo porque um dos lixados durante todo este período fui eu. O seu mandato como líder da maior federação sindical de professores coincide com o período mais negro da docência no regime democrático. Não é culpa dele? Claro que não é só dele, mas não pode eximir-se completamente de responsabilidades e achar que esteve bem, quando mesmo muitos dos seus camaradas de sindicato dizem abertamente que não. Poderia ter feito melhor? Acho que sim e ao longo do tempo escrevi sobre isso. Em especial nos anos iniciais da geringonça limitou-se a ser um absoluto zero à esquerda, completamente metido no bolso pelos acordos políticos da época. Algo que não tenho problemas em afirmar em nome próprio, sem me esconder em anonimatos ou perfis falsos, como diversos operacionais das redes sociais, seus defensores, criaram no passado para ofender e caluniar outras pessoas (eu incluído). Porque por aqui escreve-se de rosto descoberto e não se mente na cara da outra pessoa, como foi feito comigo nas escassas ocasiões em que tive a infelicidade de dar essa oportunidade a quem não o merecia. Ainda recordo a forma como negou conhecer a pessoa, que me perseguiu anos no anterior blogue e não só, em modo de stalker, com múltiplas identidades fabricadas, que pouco tempo depois concorreu a líder do spgl com o seu apoio.

Mário Nogueira tem razão para se sentir injustiçado? Talvez, mas ninguém o obrigou a ficar décadas a fio fora das salas de aula e quase 20 anos como líder da Fenprof. Com a distinta lata de, de quando em vez, aparecer a dizer que queria acabar a carreira a dar aulas, numa manifestação do que só posso classificar como hipocrisia. É a minha opinião. Ao menos não chamo coisas piores às pessoas, pelas costas, em reuniões de amigalhaços. Em tempos, um jornalista dizia que poderia fazer um livro só com o que ouvia dizer a cada um de nós sobre o outro; a diferença é que eu sempre disse em on e garanti que nunca negaria algo do que afirmei e que tudo seria publicável. Porque nunca desci a certos níveis e me sinto completamente à vontade com o que digo em privado, pois não é diferente do que digo em público.

Mário Nogueira escolheu o dia a seguir ao início da greve do S.TO.P. para fazer esta intervenção. Greve que tem limitações e falhas de organização e planeamento que já apontei. Mas de cuja sinceridade não duvido. A que já repetidamente disse que não vou aderir, mas que não me ofende. Tenho reservas sobre vários aspectos, mas sou obrigado a reconhecer que incomodou as fossilizadas direcções do sindicalismo tradicional. Mário Nogueira, certamente contra a sua vontade, com este texto, elevou o S.TO.P. ao mesmo nível da Fenprof e deixou-se cair na armadilha de esbracejar contra fantasmas virtuais, sabendo ele os trolls que andam por aí em seu nome. Há dias, eu e outros fomos visados por alguém, a quem depois me foi pedido para não responder mais, porque já se estava a ver o mal que fazia à própria causa.

Mário Nogueira, tendo o direito à indignação e ao bom nome, se calhar tem pouca moralidade para fazer algumas das acusações que faz a outros. E, muito em particular, não tem grande capital de crédito para se queixar do que dele possam dizer por ocupar um cargo durante décadas, sem que a isso alguém o obrigasse. Faz-me lembrar aqueles directores ou ocupantes de cargos nas escolas (ainda por estes dias, tive o desprazer de contactar com algumas pessoas desse tipo) que se queixam muito do trabalho que têm, mas fariam tudo para o manter.

Não sou sindicalizado, pelo que não posso, nem nunca quis, participar na vida interna de qualquer sindicato, existente ou por existir. Talvez porque o meu pai foi sindicalizado logo que teve essa possibilidade e o foi até ao fim da vida. Mas o seu exemplo serviu-me, bem como alguns conselhos acerca do que qualquer tipo de poder ou lugar de “cortesão” (o termo é meu, ele dizia outras coisas, mais coloridas) faz às pessoas, mesmo a muitas que antes poderiam ser poços de virtudes. Se assim é com essas, o que dizer de quem de virtudes tem apenas um leve aroma?

Este texto vai longo? Apenas um pouco mais do que o de Mário Nogueira, de que transcrevo apenas uns nacos, onde se percebe quem desperta nele a maior combatividade, mesmo quando se baralha todo e diz uma coisa e o seu contrário no mesmo parágrafo. E é pena que a Mário Nogueira falte neste momento a frontalidade que os seus adversários políticos (que ele estima, ao contrário dos professores que o criticam) lhe reconhecem. Porque tanta lamúria justificaria pelo menos uma exemplificação do que afirma. Se é verdade – e vou acreditar que sim – tanta malfeitoria e malandragem.

Assiste-se, agora, a uma tentativa, pouco disfarçada, de denegrir, fragilizar e, de acordo com alguns, acabar com sindicatos, como a Fenprof, que nunca abandonam os professores e a luta em defesa dos seus direitos.

Neste complexo quadro, foi anunciada uma greve que os professores não conseguem fazer, por não poderem prescindir do seu salário por tempo indeterminado, mas bastou ouvir alguns dos seus promotores ou dinamizadores para perceber o seu verdadeiro objetivo e alvo. Não pela forma como (e por quem) está a ser promovida, mas pelo que é dito em reuniões em que não é apresentada uma única proposta com soluções para os problemas. Afirmações que advêm ou são complementadas nas redes sociais, em blogues, mails ou mensagens de WhatsApp, com o recurso a contactos pessoais não autorizados pelos próprios, com divulgação pública desses mesmos contactos.

(…) Se dúvidas houvesse em relação ao destinatário da greve por tempo indeterminado, bastaria visitar as redes sociais, alguns blogues ou ler alguns artigos. Criam-se perfis falsos para simular dessindicalizações e reclama-se, até, que aos dirigentes da Fenprof sejam negados os direitos que a lei estabelece. Alguns dos posts que circulam estão ao nível do que de mais baixo usam aqueles que optam por discursos e práticas populistas para encontrarem apoio no justo descontentamento das pessoas. Fazem-se afirmações equívocas e algumas falsas e não se conseguem disfarçar ressabiamentos por expetativas frustradas.

(se este post parece tiro ao boneco, é porque o é e não se esconde atrás de formulações vagas… isso deixo para os falsos calimeros desta vida)

Sábado

Continua a ser prematuro fazer qualquer balanço do impacto da greve convocada pelo S.TO.P., em termos de adesão imediata ou futura. Mas não me parece que seja demasiado cedo para se dar notícia do que se passou, algo que foi claramente evitado por alguma comunicação social “de referência”. Ou que se resumiu a notas passageiras, encalhadas entre as cheias, o futebol e outros assuntos que chegam com um atraso de anos, como a corrupção em torno dos diamantes angolanos. Assuntos de grane interesse, infelizmente esquecidos quando quem era beneficiado por essa traficância preferia plantar notícias favoráveis aos seus mecenas. Alguma comunicação social parece ter entranhado o diktat de só se dar a palavra aos representantes “certos”. Não adianta muito explorar o assunto de forma mais aprofundada por agora, até porque mesmo que se lhe enfie casos “cabeludos” para explorarem, optam pela apatia. O que lhes interessa uma greve de professores, convocada fora do “sistema”? E repare-se que eu até já expliquei que a não irei fazer e porquê, mas isso não significa que ela seja apagada e não seja mostrada.

Portanto, com a colaboração sempre inestimável do Livresco, deixo aqui um sortido de notícias sobre a manifestação, de todo o tipo de comunicação social. Claro que terão existido mais peças, mas esta amostra parece-me significativa.

Professores em greve. Esperam-se contrangimentos nas escolas de norte a sul do país

Os professores estão em greve por tempo indeterminado e o primeiro dia da paralisação teve uma adesão “fortíssima”

Greve de professores com impacto em dezenas de escolas

Sindicato de Todos os Professores convocou uma greve por tempo indeterminado, que se iniciou nesta sexta-feira.

Greve de professores fechou escolas em Alverca

Greves dos professores: proposta do Governo “vai aumentar insegurança e precariedade”

Greve de professores fecha várias escolas

Há escolas fechadas e outras a meio-gás de norte a sul do país

Professores do Agrupamento de Aver-o-Mar aderem à greve nacional

Greve de professores decretada pelo S.TO.P com adesão elevada

Algumas escolas poderão não ter aulas esta sexta-feira, devido à greve.

“Forma de luta inédita”. Professores em greve por tempo indeterminado

Famalicão: Professores manifestam-se em frente à D. Sancho

Professores organizam protestos no 1.º dia de greve por tempo indeterminado

Manifestações, cordões humanos e distribuição de panfletos aos pais na porta das escolas são alguns dos protestos que os docentes implementam esta sexta-feira. Greve por tempo indeterminado pode causar constrangimentos de norte a sul do País.

“Em luta por nós e pelos alunos.” Greve de professores decretada pelo S.TO.P com adesão elevada

Esta paralisação vai durar por tempo indeterminado. À TSF, o presidente do S.T.O.P, André Pestana, diz os professores estão “desmotivados, exaustos e desprestigiados” e que “não tem havido uma negociação séria por parte do Ministério da Educação”.

«Indignação, respeito e justiça» são palavras de ordem dos professores em greve

Professores do Agrupamento de Almodôvar em protesto

Greve de professores: nesta escola, a paralisação é quase total