Dia: 11 de Dezembro, 2022
Outros Voos
O ministro Costa a pavimentar um futuro que já gostaria que fosse presente, mas ainda não é. E nota-se que está muito mais feliz entre os seus “pares” da OCDE que, como a autora do texto destaca é “um organismo com fins económicos, de mercado” a quem mais de 40 países escolheram entregar a definição das suas políticas públicas de Educação.
FÓRUM MINISTERIAL DE ALTO NÍVEL DA OCDE CO-PRESIDIDO PELO MINISTRO DA EDUCAÇÃO DE PORTUGAL
Da Inutilidade
Do que adianta ir analisar os resultados de provas de aferição feitas durante a pandemia, que se diz terem sido melhores do que os anteriores ao período da suspensão do ensino presencial, depois de tanta conversas sobre as aprendizagens perdidas e tantos “planos” e “inovações”? Afinal tudo estava bem. Será que o IAVE não percebe que a “autonomia”, que se diz ter formalmente, não se coaduna com a sua instrumentalização pelo poder político? A sua credibilidade técnica caiu no mesmo buraco onde já estão outras estruturas centrais do ME, transformadas em enormes gabinetes jurídicos ou de comunicação política do ministro Costa.
´(parece que só está menos bem aquela parte que dá jeito a um dos lobbys mais activos junto do poder que está)
É Curiosa A Investida Mediática…
… da Fenprof contra a greve do S.TO.P., fazendo lembrar outras birras entre Fenprof e FNE, só que agora a Fenprof faz de FNE de outros tempos e o S.TO.P. faz de Fenprof dos tempos “radicais”. Também não deixa de ser interessante que quem se afirma contra tácticas que dividem o movimento sindical, venha em ritmo diário atirar lenha para uma fogueira que dizem não ter acendido, mas que gostam de ver arder.
Por acaso, percebo a tentativa de literalmente “queimar” a concorrência. Só é pena que não percebam que, mais do que já estarem chamuscados, a sua utilidade é neste momento maior para o ME, que precisa de sindicatos que gostam muito de se sentar à mesa e (não) assinar acordos, do que para muitos dos “representados”, quando abrem os olhos ou recuperam a memória dos últimos 20 anos.
A verdade é que a Fenprof está a fazer o trabalho sujo do ME que optou por ignorar a greve, deixando o combate comunicacional aos parceiros de negociações.
Sem a Fenprof ainda estaríamos pior? Não sei. Sei que sem sindicatos estaríamos pior. Agora que desde 2008, depois de um abanão, voltaram exactamente ao mesmo tipo de acção, é inegável. Até parece que conseguiram alguma coisa com isso. Na prática, aceitaram migalhas, em troca da entrega do saco dos pães inteiros.
Já agora, Correio da Manhã, como líderes de tudo e mais alguma coisa, não “paralizem” e arranjem o raio de um corrector ortográfico, porque não há acordo que vos valha.
Domingo
Há alturas, cada vez mais, em que me parece que vivo num mundo alternativo, nas minhas aulas, na escola. Afirma o psicólogo Mark Greenberg que “a escola não deve ser apenas um lugar para as crianças se sentarem e fazerem testes” e eu não posso deixar de achar que ele pensa que a escola é isso que ele assim descreve. E não querendo desdizer quem parece ter certificada autoridade em matérias que certamente me escapam, direi que os meus alunos se sentaram apenas 2 aulas este período para “fazerem testes” e que, no resto do tempo, é preciso ter um conceito muito amplo de “sentar” para descrever o que fazem nas aulas. Mas isso, já sabemos, é capaz de ser por causa da pandemia, como quase tudo o que nos parece mais estranho e precisamos explicar.
E depois há aquela coisa da “aprendizagem socio-emocional” que o ME parece pretender incluir no seu menu de sugestões do tipo Ubuntu and friends (mesmo quando uma das ligações que fornece nem sequer está activa). Não é que eu não ache que a aprendizagem socio-emocional pouco importante, só que depois de ver todo o protocolo para ajudar as escolas, fico com a clara sensação que é mais uma “ferramenta” que para ser implementada de modo consequente, deveria mobilizar recursos que as escolas não têm, em especial recursos humanos especializados. Não chega fazer salas de aula de “amiguinhos”. É preciso algo mais, em muitas zonas do país em que as escolas, em especial a partir do 2º ciclo, não têm condições sequer físicas para uma abordagem flexível do espaço ou condições intelectuais (ao nível das direcções) para uma gestão “amigável” do tempo.
Até porque o modelo se baseia numa lógica de parceria com a comunidade, com a intervenção a não se circunscrever aos espaços escolares. É um modelo de intervenção global. As salas de aula são apenas um dos elementos em foco.
O ministro Costa pode encomendar as experiências-piloto que bem entender e as mesmas serem avaliadas como maravilhosas, que elas serão apenas isso: exemplos meio perdidos no meio de uma realidade diferente da ideal, da imaginária, onde, em alguns casos, até se diz que se fez algo que nunca aconteceu fora do papel e de umas oportunidades para filmagem rápida.
E com a transferência de competências na gestão da rede escolar para as autarquias, com excepção dos equipamentos da Parque Escolar, ainda se notarão mais as assimetrias que a pandemia deixou bem à vista.