Olhó Estudo Da Treta Fresquinho!

Desta vez pela mão da Leya. È bom sublinhar que em nenhuma passagem do inquérito existe qualquer tipo de mecanismo de verificação da fiabilidade dos dados inseridos, pelo que qualquer pessoa pode preencher aquilo como professor@ ou alun@. Apesar disso, haverá especialistas sorridentes a analisar e comentar os resultados.

A “felicidade” tornou-se um negócio tão atractivo que até desviou do caminho quem tinha aparecido a defender uma ordem dos professores e agora mal fala nisso, de tão feliz com o novo rumo.

Caro/a professor/a,

O presente questionário inscreve-se no estudo sobre a felicidade nas escolas portuguesas, sendo realizado pela Escola Amiga da Criança.

Pretendemos conhecer a sua perceção sobre a sua felicidade no contexto da escola e na relação com os seus alunos, c olegas e família.

Solicitamos a sua colaboração no preenchimento deste questionário. Estimamos que o seu preenchimento demore cerca de 8 minutos.

As respostas são facultativas, anónimas e confidenciais, servindo apenas para efeitos de investigação.

Caso esteja a lecionar em várias escolas, deve ter como referência a escola na qual tem mais tempo letivo atribuído.

A sua colaboração é muito importante.

Para qualquer dúvida ou esclarecimento adicional, pode p.f. contactar o seguinte email: escolaamigadacrianca@gmail.com

 Agradecemos, desde já, a sua colaboração. 

14 opiniões sobre “Olhó Estudo Da Treta Fresquinho!

  1. Se formos descartar a investigação em ciências sociais e humanas, nomeadamente na área da psicologia e da educação, em que se recorrem a métodos semelhantes aos do estudo patrocinado pela Leya, isto é, através de um conjunto de instrumentos disponibilizados online, sem que se possa confirmar a fiabilidade dos dados introduzidos, estaremos a deitar fora uma parte significativa da investigação produzida e publicada em revistas cotadas e com um sistema de revisão por pares. Por exemplo, no último número deste ano a revista Journal of Counseling and Development (2022, 4), uma publicação da Associação Americana de Psicologia, publicou 4 artigos em que os dados foram obtidos por via de um questionário online. Em dois desses artigos as amostras foram previamente escolhidas para corresponderem às características desejadas pelos investigadores, mas noutros dois isso não sucedeu.
    Mesmo no caso da aplicação presencial dos instrumentos de investigação não é possível controlar por completo a fiabilidade dos dados. Numa turma do ensino secundário, por exemplo, um ou mais alunos podem dizer que têm 16 anos, quando na realidade têm 18 e o mesmo é válido para todas as questões e itens que lhes são apresentados. Em estudos que recorrem a entrevistas os sujeitos podem mentir ao entrevistador. Se enveredarmos por um ceticismo radical ao nível metodológico a investigação pura e simplesmente não é realizada e o conhecimento não progride. A ênfase deve ser colocada mais na fiabilidade e validade dos instrumentos utilizados, do que propriamente nos processos de constituição da amostra, embora estes não sejam assuntos menores.

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    1. A maior parte dos estudos em ciências sociais são uma treta. Servem para legitimar ideologicamente certaa políticas e/ou para servir intuitos de carreira académica.
      Em regra, pouco valor científico têm, como o tempo acaba por mostrar, seja pela contradição, seja pelo esquecimento.

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    2. Antes de existir internet como se faziam estudos?
      aliás, existiriam estudos?
      Como terá avançado o Conhecimento até final do século XX?

      Vamos lá ver uma coisa… sem qualquer tipo de validação dos indivíduos que respondem, como se pode considerar fiável um estudo que pretende saber o que sentem professores e alunos se podem responder uns pelos outros, padeiros, taxistas, engenheiros, articulistas do observador, trainspotters, pedicuras, manicuras, curandeiros ou tipos que deitam uns bitaites no fabook?

      Lamento, mas não me lembro de ter lido qualquer livro de metodologia a sério sobre inquéritos e constituição de amostras (em português havia um ou dois bons, publicados pela Celta) que diga que tanto faz.

      Se vamos estudar, por exemplo, a sensação de perigo das mulheres perante a violência doméstica, será aceitável colocar online um inquérito a que qualquer criatura possa responder?

      Se teríamos de descartar grande parte da “investigação” publicada por aí?
      De qualquer modo, muita dela nem o deveria ser.
      E quanto a revisão por pares, embora a minha experiência seja curta, é preciso que os “pares” percebam dos assuntos e levem a sério o que fazem.

      Talvez por isso, só me tenham convidado um punhado de vezes e só uma vez repetiram, porque num dos casos (até eram comunicações para um congresso), achei que metade do que li não valia o tempo perdido.

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      1. Como é que o Censos 2021 foi maioritariamente respondido? Foi por computador. É certo que era necessário um código para entrar no sistema, mas depois disso podia-se literalmente falsificar as respostas dando informações falsas.
        Os inquéritos online nos quais não existe um incentivo para responder não levantam os problemas que refere. É o que investigação sugere. Quanto aos livros que leu sobre metodologia de investigação que não referem estas novas formas de recolha de dados a explicação é simples: elas não existiam quando os livros foram escritos.

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        1. Sobre a necessidade da amostra ser representativa isso não se aplica.
          Eu não referi que não falavam nestes métodos de recolha de informação (online ou presencial), mas sobre a necessidade de ter amostras devidamente estratificadas e respostas com fiabilidade.

          Aliás, muitos dos erros das sondagens passam pela forma algo atabalhoada, para não dizer mesmo desleixada, como são feitas as recolhas dos dados.

          Se os Censos 2021 foram mal feitos ou não, não é argumento para validar seja o que for.
          Lá porque se faz muitas vezes mal algo, isso não torna esse método bom. Apenas significa que o erro se generalizou e “normalizou”.

          Podemos dizer que este estudo da Leya não tem um grande incentivo para dar respostas falsas.
          Mas isso baseia-se no quê?
          Numa crença?
          Numa profissão de fé?
          Numa investigação feita de modo a validar este tipo de estudos?

          Quanto a isso há para todos os gostos:
          https://www.forbes.com/sites/paultalbot/2015/12/22/7-deadly-sins-of-online-surveys/?sh=574fa1255515

          https://www.proprofssurvey.com/blog/advantages-disadvantages-of-online-surveys/

          https://explorance.com/blog/survey-data-reliability-and-validity-are-they-interchangeable/

          https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2021.733405/full

          “We found positive correlations between Online1 and control experimental data for all the questionnaire items, suggesting that online survey is valid, but that the number of participants needed is 1.3–2.6 times that of a laboratory survey. In addition, there were generally low rates of mismatch.”

          Neste caso, não é a validade das respostas que fica em causa, mas a dimensão da amostra.

          Tudo publicado depois dos livros da Celta.

          Em tempos tive acesso ao material da SAGE e, como até fiz pesquisas online, usei este (agora já ultrapassado em alguns potnos).

          https://methods.sagepub.com/book/the-sage-handbook-of-online-research-methods

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          1. “Sobre a necessidade da amostra ser representativa isso não se aplica.
            Eu não referi que não falavam nestes métodos de recolha de informação (online ou presencial), mas sobre a necessidade de ter amostras devidamente estratificadas e respostas com fiabilidade.”

            Não sei se compreendo completamente o que pretende dizer, mas irei tentar. Numa investigação, seja em ciências sociais e humanas, seja noutras áreas, como na saúde, por exemplo, o ideal é trabalhar com amostras representativas do universo que se pretende estudar. Se a amostra for bem constituída é possível fazer inferências mais precisas. Na prática a esmagadora maioria das investigações recorrem a amostras de conveniência e não a amostras representativas. A razão é simples: para reunir uma amostra representativa o investimento é muito elevado. Isto sucede com estudos que recorrem a amostras presenciais, e, principalmente, em investigações com amostras obtidas online. Entre nós o projeto Aventura Social (https://aventurasocial.com/), coordenado por Margarida Gaspar Matos, tem recorrido, na maioria dos casos, a amostras representativas. É o caso da publicação A Saúde dos Adolescentes Portugueses em Contexto de Pandemia (2022), inserido num projeto internacional com vários anos, o Health Behaviour in School-aged Children (HBSC). Em síntese, se considerarmos que toda a investigação na área das ciências sociais e humanas, e mesmo noutras áreas, é verdadeiramente científica apenas nos casos em que se utilizam amostras representativas, estaremos a descartar cerca de 95% da pesquisa científica conduzida a nível mundial.

            “Aliás, muitos dos erros das sondagens passam pela forma algo atabalhoada, para não dizer mesmo desleixada, como são feitas as recolhas dos dados.”

            Era capaz de justificar esta afirmação tão perentória? Não sou especialista em sondagens, mas tenho reparado que estas têm falhado em vários países, como sucedeu com a maioria das que foram realizadas nas recentes eleições intercalares americanas. Quando uma empresa publica uma sondagem está a colocar em risco a sua credibilidade. Por isso julgo que a maioria delas pretende realizar um trabalho tão competente quanto possível.

            “Se os Censos 2021 foram mal feitos ou não, não é argumento para validar seja o que for. Lá porque se faz muitas vezes mal algo, isso não torna esse método bom. Apenas significa que o erro se generalizou e “normalizou”.”

            O Censos 2021 não foi mal feito. O que mudou foi o método de recolha dos dados. Quando os Censos eram realizados em papel, um exemplar era deixado em casa das pessoas e posteriormente levantado. Apenas nos casos das pessoas com um nível baixo de escolaridade ou analfabetas é que era o pessoal no terreno que levantava os dados. Qual a diferença entre preencher sozinho um questionário ou preenchê-lo via internet? Muito pouca. Em ambos os casos posso dizer que tenho 57 anos, tendo na realidade 63, mentir quanto às minhas habilitações académicas, inventar um/a companheiro/a quando vivo sozinho e por aí adiante. Acredito, todavia, que a esmagadora maioria das pessoas partilha informações verdadeiras e fidedignas. Se assim não fosse ninguém acreditaria nos dados dos censos.

            “Podemos dizer que este estudo da Leya não tem um grande incentivo para dar respostas falsas. Mas isso baseia-se no quê? Numa crença? Numa profissão de fé? Numa investigação feita de modo a validar este tipo de estudos?”

            Quem preenche o questionário não tem nenhum incentivo, monetário ou de outra natureza, para o completar. Há algum tempo atrás preenchi um questionário online, uma vez que reunia as condições para o fazer, em que era previamente comunicado aos respondentes que caso o concluíssem poderiam habilitar-se a um prémio, se assim o desejassem. Se a memória não me falha o prémio era um vale de 20 euros que poderia ser usado na FNAC. Modesto ou não, este tipo de prémios poderá levar a uma degradação da qualidade dos dados recolhidos (ver https://link.springer.com/article/10.1007/s11162-011-9251-2), embora algumas investigações não suportem este tipo de conclusão (ver https://bmcmedresmethodol.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12874-017-0353-1).

            Quanto aos links que indicou o tiro foi um bocado ao lado. Senão vejamos:

            Link 1. 7 Deadly Sins Of Online Surveys
            As críticas que são apontadas aos inquéritos online podem ser igualmente aplicadas aos inquéritos presenciais.
            Link 2. Advantages and Disadvantages of Online Surveys
            Somente uma desvantagem é apontada aos inquéritos online que consiste em aumentar a probabilidade de fraude. Os autores afirmam que os sujeitos podem não responder a todas as questões (uma situação que pode ser facilmente evitada), responder de forma não muito pensada para “despachar” o questionário e serem tentados a preencher o questionário para obter algum tipo de compensação…).
            Link 3. Survey Data: Reliability and Validity? Are they Interchangeable?
            Este texto pura e simplesmente não aborda as vantagens ou desvantagens de inquéritos online. Tudo o que afirma pode ser aplicado a todo o tipo de inquéritos
            4. Reliability of Online Surveys in Investigating Perceptions and Impressions of Faces
            Este estudo conclui que a modalidade online, no caso específico de avaliação de faces, é preciso salientá-lo, conduz a resultados comparáveis com os que podem ser obtidos num contexto laboratorial, embora a primeira condição exija uma amostra maior. Ora, uma das vantagens dos estudos online é precisamente a capacidade de reunir grandes amostras num curto espaço de tempo.

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  2. Exatamente como disse o Mário, ou, dito de outra forma, pressupoe-se, está implícito, podemos inferir que há escolas que não são amigas da criança, e… cuidado, quem diz escolas quer dizer professores. Só o título já é uma intragável ofensa aos professores e, para além disso, é nojento, gente sem escrúpulos, sem coluna vertebral… gente que ainda não é gente.

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  3. Eu sinto-me profundamente infeliz quando me pedem para responder a inquéritos sobre o meu grau de felicidade. Depois vou beber um copo de Conde de Arraiolos ou Herdade dos Grous e tudo me passa ao lado, inclusivamente os inquéritos (e às vezes a própria infelicidade).

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  4. Peço desculpa antecipadamente, mas este, tal como muitos outros que se têm desenvolvido no campo da educação, não é um estudo da treta, antes, é um estudo da merda. E nem me vou alongar sobre os requisitos necessários aos instrumentos utilizados, o da validade e o da fiabilidade, que decididamente, não têm.
    O problema maior, em minha opinião, nem é como o Paulo diz “apesar disso, haverá especialistas sorridentes a analisar e comentar os resultados”, o problema mesmo é desenvolverem-se ações com base nisso. Os comentários medíocres não fazem mal a ninguém, já as ações fazem. A exemplo, lembremo-nos que a filosofia UBUNTU já entrou em muitas escolas.

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  5. Caro pjosantos.

    1) Penso que percebeu claramente o que eu escrevi, talvez tenha preferido dar a entender que formulei mal. Tudo bem. Quanto a tudo o resto, resumindo e baralhando, concordo que fazer estudos a sério é caro e que 95% do que por aí se publica poderia provar uma coisa e o seu contrário, apenas “retorcendo” um pouco a recolha e tratamento dos dados. Sim, sei que isso precede o online. Aprendi isso em tempos do analógico na Faculdade. Mas, seja o argumento do preço, seja o da dimensão das irrelevâncias, não me parecem que validem uma má recolha de dados. Pronto, não direi “má”, mas “limitada”, porque já percebi que é da área e é possível que sinta que algo do que escrevi possa ser perifericamente “ofensivo”.

    2) De novo, parece considerar que por existirem muitos casos de erros/falhas, mesmo fora de Portugal, nas sondagens, de algum modo isso “normaliza” o fenómeno. Permito-me discordar, em especial quando se apresentam margens de erro que se revelam erróneas. A razão para afirmação tão peremptória talvez tenha a ver com um grande e antiga amiga que trabalhou longos anos numa das principais empresas de sondagens e estudos de opinião e mercado neste país.

    3) Por acaso, por diversas razões, conheço a triste história dos censos entre nós, boa parte deles só permitindo uma aproximação à realidade, algo distante do desejável, não apenas pelas falhas na recolha dos dados, mas de igual modo nos critérios do seu tratamento ou da dificuldade em comparar os dados ao longo do tempo. Com receio que me chamem admirador do Estado novo, diria que só consigo achar uma série passível de um tratamento comparativo sistemático entre 1940 e 1970. O resto vale o que vale, como muitas das estatísticas recolhidas/produzidas entre nós, por exemplo no caso da Educação, com critérios a flutuar de ano para ano, categorias de dados a desaparecer, outras a(des)agregarem-se, impedindo o trabalho de séries longas, a menos que apliquemos uns artifícios da Estatística.
    Já em 2011 se tinha recorrido à recolha de dados pela internet no censo desse ano. Aliás, desde 1981 que se iniciou um processo de modernização do tipo de informação recolhida, na própria cartografia, etc, etc. Infelizmente, a maior riqueza de informação, no eixo da sincronia, tem impedido alguma análise diacrónica dos dados.~

    4) Penso que não respondeu directamente ao que afirmei.

    5) Coloquei esses links, como poderia colocar dezenas de outros, com o mesmo tipo de conclusões, sendo que uma delas é a evidente maior possibilidade de fraude em inquéritos online, sem qualquer tipo de verificação da identidade. Sim, permite amostras mais alargadas, mas com necessidade de “ajustes” nos dados em relação ao género, idade, localização, para se tornar representativa da “população” que se pretende consultar.

    6) Já percebi a sua posição… é melhor recorrer a inquéritos online do que a presenciais, pois possibilita fazer mais estudos, mais depressa e mais baratos, sem que aparentemente se perca muita qualidade. Não é a minha opinião, mesmo se concedo sem grandes problemas que – tomadas as devidas medidas de prevenção – os inquéritos online podem ser úteis em muitos casos.

    Isso é conhecido há uns bons anos (são apenas dois exemplos, nada mais do que isso):

    Click to access BF03195541.pdf

    https://www.jmir.org/2007/1/e2/

    seja como for, não considero que o modo como o estudo da Leya se apresenta seja muito melhor do que certos formulários postos a correr em grupos das redes sociais para servirem de base a teses de mestrado. Ou mesmo de doutoramento.

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  6. Estes inqueritozinhos da treta, valem o mesmo que vale aquele inqueritozinho para avaliar a capacitação digital dos docentes: ou seja, NADA!
    Não sei se aconteceu o mesmo nas vossas escolas mas, naquela em que estou colocado, os professores com mais competências digitais ficaram todos no nível 1 (o mais baixo), enquanto professores que nem um simples “copiar e colar” sabem fazer, ficaram nos níveis 2 e 3 (os mais altos). E tudo isto, porque:

    a) ou quanto mais incompetentes, mais convencidos;
    b) ou porque responderam aquilo que acharam que a tutela queria ouvir/ler.

    Portanto, bem podem vir com grandes comentários e tal (que só servem para testar a paciência de quem lhes responde) que não enganam ninguém.
    Como diria o outro: vão-se encher de moscas!

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